• Em SC, clube segue com tiro ao alvo apesar de decreto proibir

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  • 19/01/2023 17:00
    Por Vinícius Valfré / Estadão

    Um clube de tiro de Santa Catarina, do qual o ex-presidente Jair Bolsonaro e os filhos Eduardo e Carlos eram frequentadores, continua oferecendo experiências de tiro ao alvo para pessoas sem registro de atiradores esportivos. Em uma de suas primeiras medidas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva proibiu o tiro recreativo, para não profissionais, em decreto que iniciou a revisão da política pró-armas da gestão anterior.

    O decreto de Lula suspendeu o chamado tiro recreativo, ofertado por clubes e lojas a quem quisesse ter a experiência de segurar uma arma e atirar em um estande, como “hobby”. O serviço era uma fonte de receita para essas empresas e possibilitava um primeiro contato com futuros atiradores frequentes.

    Mesmo com a vedação expressa, o Clube .38, do empresário Tony Eduardo, tem permitido que pessoas sem os registros oficiais experimentem armas. O argumento da empresa é o de que não seria uma recreação, mas “uma aula de tiro”. O decreto de Lula é expresso ao restringir o tiro de recreação apenas aos já registrados no grupo de colecionadores de armas, atiradores esportivos e caçadores (CACs).

    A reportagem questionou a diferença entre o tiro recreativo e a aula oferecida pelo clube de tiro e perguntou se os clientes da primeira modalidade não eram acompanhados por profissionais. O Clube .38 não esclareceu. Disse apenas ter ciência de que o decreto suspendeu o tiro recreativo e que cumpre à risca todas as determinações legais da atividade.

    O Estadão entrou em contato com dois clubes de tiro do entorno de Brasília para saber se haveria algum serviço para interessados em uma experiência rápida com arma de fogo. Ambos negaram, justamente por causa do decreto de Lula. Conforme o texto do decreto, novos registros de CACs e novos clubes de tiro estão suspensos temporariamente.

    Reação armamentista

    Para especialistas consultados pelo Estadão, o clube de tiro de Santa Catarina pode estar burlando não só o decreto de Lula, mas também liminar da presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, interpretada como proibidora do tiro recreativo. Foi graças à liminar que o Setor de Fiscalização de Produtos Controlados da 2.ª Região Militar, que abrange instalações do Estado de São Paulo, avisou, em setembro, que estava proibida a prática de tiro por pessoas não registradas no Exército como CACs.

    A medida provocou forte reação dos armamentistas e o general Braga Netto, à época em campanha eleitoral como vice na chapa de reeleição de Jair Bolsonaro, atuou pessoalmente para derrubar a proibição. O Estadão revelou que ele se comprometeu com o eleitorado armamentista a tomar providências, e a proibição foi revista pelos militares.

    Tony Eduardo é próximo da família Bolsonaro pelo menos desde 2016. Naquele ano, Eduardo participou de uma feira armamentista em Los Angeles com o empresário e depois levou o pai para uma live com ele. Durante a transmissão ao vivo, eles defenderam o armamento civil e a reação em casos de assalto.

    Adélio Bispo

    O empresário brasileiro também é instrutor do 88 Tactical, um clube sediado no Estado de Nebraska, nos Estados Unidos. A empresa americana é acusada de usar em sua identificação visual símbolos atrelados ao nazismo. A Agência Pública mostrou, em 2021, Carlos e Eduardo Bolsonaro praticando tiro no local. Carlos, vereador do Rio de Janeiro, propôs homenagens de mérito tanto ao amigo quanto ao clube catarinense.

    O serviço de tiro recreativo oferecido por empresas bélicas permitiu que Adélio Bispo, meses antes de cometer o atentado a faca contra Bolsonaro, em Minas, fosse ao Clube. 38 em Santa Catarina praticar tiro ao alvo.

    Na época, a porta-voz da empresa, Júlia Zanatta, disse que o agressor foi acompanhado por um instrutor a todo momento, mesmo expediente que o clube diz adotar nas “aulas de tiro” que oferece depois do decreto restritivo. Júlia era namorada de Tony Eduardo. Em outubro, foi eleita deputada federal pelo PL de Santa Catarina.

    Traído

    A relação de Tony Eduardo com os Bolsonaros se abalou nos últimos meses. Defensor de pautas da extrema-direita, o empresário se diz traído pelo antigo governo. Ele chegou a criticar Eduardo pela versão de que o deputado foi à Copa do Catar entregar pen drives “explicando a situação do Brasil”. “Político fazendo política (e mal feita!)”, disse o empresário.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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