Os brechós são uma ótima oportunidade para adquirir roupas boas e de qualidade por um preço justo. A moda sustentável tem conquistado, cada vez mais, públicos de diferentes faixas etárias. Em Petrópolis não é diferente. A cidade serrana recebe frequentemente edições da maior feira de brechós do Estado do Rio de Janeiro, a Ecobrechó Park, que conta com 390 stands de brechós adultos e infantis.
Ana Carolina Mayworm, fundadora da Ecobrechó Park, conta que a pandemia foi um fator que contribuiu para o aumento no número de brechós, principalmente em Petrópolis. “A pandemia, infelizmente, teve relação direta com o desemprego e instabilidade financeira de modo geral. Muitas pessoas se depararam com esse contexto e acharam, em seus próprios armários, uma solução rápida de se recuperar.”, afirma.
Preconceito
Com o passar dos anos, o preconceito em relação às roupas de segunda mão foi diminuindo. Hoje, o número de pessoas interessadas por roupas de brechó cresceu de forma significante – o que é perceptível nas edições da Ecobrechó, que têm boa aderência por parte dos petropolitanos.
“Havia, até então, de modo geral, um forte preconceito com brechós, mas está sendo facilmente quebrado após a pandemia. Quando você vê uma pessoa que admira ou é do seu ciclo social comprando em um brechó, você repensa se isso não é mesmo pra você. No geral, as pessoas estão convencendo as outras de comprar em brechó.
Por isso, falamos que a melhor forma de quebrar preconceitos são com as nossas próprias atitudes.”, conta a fundadora.
Comprar de brechó, além de contribuir para a sustentabilidade, ainda contribui com o bolso dos consumidores. Para Ana Carolina, a roupa mais sustentável é a que já existe. “Consumir de brechó é mais barato e totalmente sustentável. Nossos frequentadores compram com gosto, porque sabem que estão no caminho certo para um mundo mais consciente e sustentável.”, afirma.
O aumento na procura pelas peças de segunda mão ficaram perceptíveis, principalmente, para as proprietárias de brechós, como Manuela Ferreira, sócia-proprietária do Dopamina Brechó. Para ela, a pandemia aumentou o número de brechós e a procura por peças de moda consciente.
“Não podemos pensar como antes, dentro da caixinha cheia de padrões e preconceitos. Estamos em constante evolução e consumir uma moda mais justa, consciente e econômica é uma grande tendência do mercado mundial. A moda consciente é uma nova forma de olhar a moda com mais carinho e cuidado.”, afirma.
No dia a dia, Manuela percebe que, cada vez mais, chegam pessoas na loja preocupadas com o meio ambiente. Segundo ela, essas pessoas procuram por peças únicas, cheias de personalidade e histórias com preço super acessível.
Sobre o Ecobrechó Park
A Ecobrechó Park surgiu de uma necessidade dos próprios brechós terem um espaço físico mensal que representasse o trabalho deles, que vinha sendo feito, até então, somente em suas próprias redes sociais. Ana Carolina explica que a Ecobrechó Park é uma feira que representa principalmente a criatividade petropolitana de fazer acontecer em meio a qualquer dificuldade.
Movimento Fashion Revolution
Camila Filardi é representante local do movimento Global Fashion Revolution. Ela conta que o brechó, por ser um comércio, principalmente online, cresceu muito nos últimos anos. “Por ser uma modalidade que permite que as pessoas façam de casa e, por ser uma forma de ganhar dinheiro com algo que as pessoas já têm em casa. Nesse caso, de desapego. A pessoa que vai vender, vai limpar o armário dela para desapegar e desvencilhar para fazer um dinheiro extra.”, conta. Camila acredita que o brechó tem ajudado muitas pessoas por ser versátil e acessível.
Para a representante, a moda sustentável é muito importante e a sociedade, aos poucos, tem enxergado novas formas de consumo e, inclusive, de conexão. Isso acaba transferindo o desejo por consumo por outras atividades. “Então, a gente tem buscado vivências mais fora da internet do que a internet prega, que é essa coisa do padrão, da reprodução. Acredito que isso está mudando. Infelizmente, nós vivemos em um mundo completamente digitalizado, movido pelo sistema do capital. Então, esse quadro não muda e provavelmente não vai mudar. Apesar de ter esse crescimento pelo consumo sustentável e ético.”, relata.
A moda sustentável é fundamental, sobretudo, porque a indústria têxtil é a segunda que mais polui no mundo. “Uma moda onde a gente não agrida tanto o meio ambiente, vislumbre mais os direitos humanos é, com certeza, importante para a nossa sobrevivência, principalmente, como espécie aqui na Terra porque, a forma como a gente produz as roupas é prejudicial e contribui rapidamente para esse dano. Acelera muito esse quadro, que já está muito prejudicado pelos canos causados – através da poluição e pela forma como a gente descarta. Pensar em uma moda que não agrida tanto é fundamental.”, finaliza Camila.
O que é o movimento Global Fashion Revolution?
O movimento surgiu em 2013, depois de um acidente em uma fábrica têxtil de Bangladesh e foi um convite para que o mundo pudesse prestar mais atenção no que acontece nos locais onde as roupas são feitas. Desde a matéria-prima, até como foi extraída, quais condições, poluição, transporte desse produto em todas suas fases, trabalhadores envolvidos em todos os processos e na mentalidade do consumidor.
Com base nesses questionamentos, o Global Fashion Revolution possui alguns aparatos que ajudam a passar essa mensagem, como o manifesto, as plaquinhas com as hashtags e a Semana Fashion Revolution, que acontece todo ano no final de abril.