Um escritor à procura de um tema
O organismo humano necessita de água diariamente. Já meu cérebro precisa que eu escreva diariamente, também. No passado, colocava uma folha de papel, em branco, na máquina de escrever e procurava encontrar um tema. Hoje, substituo a máquina de escrever pelo computador e espero encontrar um assunto, diante da tela em branco. Primeiro preciso escolher em qual o gênero literário vou tentar escrever um texto. Um capítulo de romance, um conto, uma crônica, ou um poema? Ao decidir por um dos gêneros sigo em busca de algo capaz de interessar ao leitor. Quando encontro um tema, necessito do título e do final do texto. Sim, porque não escrevo nada sem que tenha o final delineado. É uma questão de foro íntimo. Ao decidir por uma crônica, preciso encontrar um assunto do momento e, se possível impactante, capaz de despertar a curiosidade de quem vai ler. A linguagem da crônica procura, em sua maioria, comentar o cotidiano. Isso não elimina o saudosista e historiador de procurar relembrar algo relevante, ocorrido no passado capaz de despertar interesse no presente.
E assim, mergulho no passado em busca de um fato pitoresco, capaz de motivar que seja lido. Ao cerrar os olhos, tenho a impressão de que vejo dezenas, centenas de manchetes com os mais diversos assuntos. Descobertas, invenções, crimes hediondos, golpes políticos, amores arrebatadores, ciência e arte que procuram predominar sobre a face trágica do nosso planeta. E nessa busca desesperada, encontro os mais diversos temas para explorar. Nessa situação o escritor pode ser comparado a uma mulher diante de um guarda-roupa repleto de lindos vestidos. Qual deles escolher para ir ao baile? E qual é o mais difícil problema para o escritor: a falta de assunto, ou o excesso de opções? Na dúvida, procuro ler as manchetes do dia do jornal Tribuna de Petrópolis. Uma notinha no canto da primeira página, diz: “Balcão de emprego oferece 60 vagas”. É uma bela notícia para quem está desempregado. Mas, em sua maior manchete na mesma edição do jornal vem publicado: “Homem é emboscado e assassinado com seis tiros no rosto”. Qual será o assunto a ser lido primeiro? Qual será a melhor notícia para vender o jornal?
Um crime de morte, embora trágico, seja um assunto corriqueiro no Brasil, já que o país é líder mundial de tragédias dessa natureza. Porém, um assassinato com seis tiros no rosto da vítima, merece maior estudo. Não foi um crime comum. Foi um crime revestido de ódio. Costuma ser crime premeditado, gerado por vingança, e os tipos mais comuns são de falta de pagamento de dívida com o tóxico, ou de traição conjugal. Existem outros motivos capazes de gerar ódio também, porém nada que consiga justificar alguém a tirar a vida de seu semelhante. A vida do ser humano é frágil e não precisa de justificação para morrer. Basta que chegue o dia. Só o peru é quem morre de véspera. .