• ‘A Farsa’ tem mistério e traição na Riviera Francesa

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  • 27/12/2022 22:06
    Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão / Estadão

    Um elenco francês de peso, com Isabelle Adjani, François Cluzet, Pierre Niney e Marine Vacth. As paisagens da Cote D’Azur, povoadas de ricos e famosos em seus carros e roupas de luxo. Uma trama despretensiosa, cheia de reviravoltas contada em um tom acima. A Farsa, de Nicolas Bedos (Belle Époque, de 2019), que estreou no Brasil, era o filme perfeito para o último dia do Festival de Cannes, onde passou fora de competição.

    Mas, como dizia o escritor inglês Somerset Maugham, em frase citada no início do longa: “A Riviera Francesa é um lugar ensolarado para pessoas sombrias”. A citação não é aleatória. “Ele via seus personagens com uma mistura de sensibilidade e sarcasmo, e eu tenho uma visão dura sobre os meus, sem deixar de ter afeto por eles”, disse o diretor em entrevista com a participação do Estadão, em Cannes.

    A Farsa começa com Adrien (Pierre Niney) e Margot (Marine Vacth), que está grávida, em uma suíte de um luxuoso hotel de Nice. Um homem visivelmente consternado bate à porta, uma arma é disparada, ela fica ferida. Daí o filme volta no tempo para explicar como chegamos àquele momento. Descobrimos que Adrien é um gigolô com pretensões de romancista que mora em uma mansão com vista para o Mediterrâneo com a diva do teatro e do cinema Martha Duval (Isabelle Adjani), uma mulher tão egocêntrica quanto solitária, temerosa pelo envelhecimento. Adrien já teve outras sugar mommies antes, como Giulia (Laura Morante), hoje falida. Um dia, ele conhece Margot (Marine Vacth), que também vive na cola de homens mais velhos e endinheirados. De cara, ele se apaixona. Juntos, eles bolam um plano.

    Adjani era perfeita para o papel, segundo Bedos. “Eu queria seu talento e genialidade como atriz, lógico, mas também sua imagem, que me permitiu brincar com uma ambivalência que deu profundidade ao filme e à personagem”, disse o diretor. “Na França, Adjani simboliza o que é ser uma atriz. Ela está cercada por um senso de mistério, de magia, de desespero por conta de sua vida pessoal, da decepção que viveu. Nós, franceses, projetamos em sua vida privada todo tipo de fantasia. Há também sua relação com o envelhecimento, o que isso significa para uma atriz. Então ela tinha muitas coisas que permitiam que criasse uma personagem extraordinária.”

    Bedos negou ter se inspirado na Norma Desmond de Sunset Boulevard, mas há um quê de clássico hollywoodiano em A Farsa. De certa forma, Margot é uma femme fatale também. O cineasta explicou. “A primeira vez que senti amor e desejo por uma mulher foi em uma sala de cinema, com filmes a que assisti”, disse ele, citando como paixões Emmanuelle Béart em Ciúme (1994), de Claude Chabrol, também estrelado por Cluzet, Meryl Streep em A Escolha de Sofia (1982), de Alan J. Pakula, e Michelle Pfeiffer em Ligações Perigosas (1988), de Stephen Frears. “A Farsa vem de um desejo de pagar o débito que tenho com o cinema.”

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