• Mapa com vídeos reconstitui ação de extremistas que vandalizaram Brasília

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  • 15/12/2022 15:15
    Por Vinícius Valfré / Estadão

    Uma série de vídeos publicados nas redes sociais por populares e até pelos próprios autores do vandalismo em Brasília, na segunda-feira,12, atesta em 21 pontos a atuação direta de manifestantes que se opõem à posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos atos de violência na capital federal.

    O Estadão analisou dezenas de vídeos gravados num raio de aproximadamente 7 quilômetros da parte central de Brasília e distribuídos em aplicativos de mensagens. Eles mostram a dinâmica dos atos, desde o momento da abordagem e da prisão do indígena José Acácio Serere Xavante pela Polícia Federal, em pleno trânsito, até os ataques que resultaram em ao menos oito veículos queimados e em diversos pontos de bloqueio na cidade.

    Apesar da violência, ninguém havia sido preso até a manhã desta quinta-feira, 15. A Secretaria de Segurança do Distrito Federal diz que tenta identificar os responsáveis pelo vandalismo. Segundo a própria pasta, parte deles está no acampamento instalado em frente ao Quartel General do Exército, onde se concentram apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) que pregam um golpe militar para impedir a posse de Lula.

    As cenas registram momentos dramáticos da noite de quebra-quebra quando manifestantes tentaram invadir a sede da Polícia Federal após a prisão do indígena. Nas imagens uma mulher do grupo grita pedindo reforço para ocupar o prédio da PF. A ação foi impedida por policiais que precisaram sacar armas.

    Outro vídeo reproduz a ação de um grupo de manifestantes que retirou o motorista de um ônibus sob ameaça. É possível ouvir uma mulher dando ordens a ele e a outro homem que estava dentro do transporte. Um deles foi reprimido depois de se queixar de que a mochila ficou para trás. “Vai sentar na árvore que estou tentando te salvar. Fica quieto, é o que eu posso fazer por você agora”, grita a manifestante.

    Delegacia depredada

    A ação contra o condutor do coletivo ocorreu a menos de 500 metros da 5ª Delegacia da Polícia Civil, que também foi depredada. Em frente à instalação policial, um ônibus e um carro foram incendiados. Em outra quadra ao lado, um carro foi incendiado em um posto de gasolina e botijões de gás foram espalhados pela rua.

    Os vídeos indicam que as ações mais violentas não ficaram restritas às cercanias da sede da Polícia Federal, para onde o indígena foi levado após ser preso. Ônibus foram destruídos ao norte e ao sul do prédio. O ataque mais próximo ao hotel em que Lula está hospedado ocorreu a uma distância de cerca de 600 metros. O perímetro teve segurança reforçada por tropas especializadas da PM e da PF.

    Tudo começou no fim da tarde. Ainda era dia quando agentes federais interceptaram a caminhonete branca que tinha Serere Xavante como um dos passageiros, no Eixo Monumental, bem próximo à Torre de TV de Brasília. A abordagem ocorreu a cerca de quatro quilômetros do acampamento instalado em frente ao Quartel General do Exército, para onde ele regressava após passar pelo Palácio da Alvorada.

    Bolsonaro fez uma aparição em frente à residência oficial para interagir com apoiadores. Na ocasião, ganhou um cocar e posou para fotos com o filho do cacique preso. O mandado de prisão contra Serere Xavante havia sido expedido há dois dias pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).

    Na abordagem, os ocupantes da caminhonete foram obrigados a deitar na pista. O momento exato da interceptação foi registrado em um vídeo de menos de 10 segundos gravado por um motorista que fazia o mesmo trajeto. Mais tarde, a abordagem seria detalhada pelo filho de Serere a outros apoiadores de Bolsonaro no acampamento. “Colocaram ele assim no chão (deitado com as mãos sobre a cabeça), ele e o motorista”, contou a criança.

    Dali, a PF guiou a caminhonete até a sede, num percurso de cerca de um quilômetro. Parte do grupo que estava no Alvorada e voltava ao acampamento se dirigiu à sede da polícia e tentou invadir o prédio pelos fundos para retirar o indígena. Um vídeo mostra um policial descaracterizado com arma em punho na porta da garagem do edifício ordenando que os manifestantes permanecessem afastados. Foi o primeiro princípio de confusão. “Já mandei a localização, pegaram ele. A gente precisa de reforço!”, diz uma manifestante que filma o início da tensão com os policiais.

    A partir daí, em outras sequências de vídeos, é possível ver um grande grupo de pessoas com as cores verde e amarela e com bandeiras do Brasil revoltadas com o cumprimento do mandado de prisão chegando à área do estacionamento externo dos fundos do prédio da PF. Em favor do indígena e contra a prisão, cantaram versos como “ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil” e, aos poucos, começaram a danificar patrimônios públicos e privados do entorno.

    Equipes da PM do Distrito Federal foram acionadas e se instalaram no estacionamento. O edifício fica em um setor comercial da região central de Brasília e é ladeado por shoppings e hotéis. Vídeos das redes sociais mostram pessoas abrigadas dentro dos centros comerciais e outras impedidas de acessar o setor hoteleiro.

    Já era noite quando um grupo maior de manifestantes se aglomerava em volta da sede da PF sem aceitar a ordem judicial. Policiais militares usaram armas de efeito moral para dispersá-los. A partir daí, a violência começa a escalar.

    A essa altura, a informação da prisão já havia chegado ao acampamento e outros manifestantes começaram a se mobilizar. Os primeiros vídeos manifestando inconformidade já estavam publicados. Há registros de pessoas partindo do acampamento em direção ao centro da crise, até o fim da noite, para “soltar o cacique” – algumas tinham os rostos cobertos com camisas.

    Em um vídeo, uma coronel da reserva do Exército sugere que os ataques teriam partido de infiltrados favoráveis ao novo governo, mas é desmentida pelos próprios apoiadores de Bolsonaro com quem ela conversa durante uma transmissão. “Eles são nossos, são legítimos, não são infiltrados. Junto com os índios, queremos a liberação do cacique Serere”, diz uma mulher.

    As gravações disseminadas nas redes mostram pessoas que estavam nas imediações da PF jogando pedra contra a PM e espelhando blocos de concreto pelas ruas de acesso. Pontos de iluminação pública foram quebrados. Com a dispersão, o grupo passou a depredar veículos. Alguns estavam no estacionamento externo de um dos principais shoppings do centro de Brasília e foram queimados.

    Em seguida, transportes coletivos passaram a ser alvo. Os extremistas queimaram cinco ônibus, que estavam até um quilômetro de distância um do outro, em lados opostos ao epicentro da confusão. Outro vídeo registra o momento em que extremistas tentaram lançar um ônibus de cima de um viaduto. O veículo não despencou porque ficou agarrado pelo assoalho.

    Nas ruas do entorno da PF, um ônibus avançou sobre um estacionamento já com um princípio de incêndio dentro dele. Imagens mostram policiais ordenando que o veículo fosse parado enquanto o fogo começava a arder na parte traseira.

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