• A religiosidade de cada um

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  • 06/04/2016 11:35

    O filósofo inglês Francis Bacon, 1561/1626, dizia sobre religião e espiritualidade: “Não leia com o intuito de contradizer ou refutar, nem para acreditar ou concordar, mas para refletir e avaliar.”  

    Longe de mim querer criticar ou questionar os princípios de qualquer religião ou crença, mas fico observando o comportamento de determinadas pessoas quando tudo é feito em nome de Deus, que chegam a abusar de seu nome em vão – e indo ao extremo, chegam até a guerras e matanças. Muitos procedem como induzidos, cumprindo determinados ritos sem analisar seu sentido e que, em geral, comparecem sistematicamente ao culto de suas igrejas sem aquilatar seu significado. E quando faço tal referência, não me refiro somente às pessoas mais simples, mas muitas esclarecidas, já que nada adianta respeitar tais rituais se não carrega a essência em seu interior.

    A poetisa Virginia Vendramini, totalmente cega aos treze anos, tem uma avaliação muito realista e crua da vida, por força das circunstâncias, mas foi muito incisiva quando escreveu :

    “Cheirava a incenso. / Cristo na cruz, / velas acesas se desfazendo / como a chama da fé.

    Eram de gesso as divindades;/ de papel as flores; / era de pedra o coração do homem / que recitava preces decoradas… / E Deus, onde estava ?

    As comparações que Virgínia faz não são depreciativas, mas sim ao coração do homem, quando está coberta de razão, pois, há vários anos um cidadão chutou publicamente a imagem de N. Senhora dizendo que não valia nada, que era somente gesso, num total ato de desrespeito. Na ocasião escrevi aos jornais que o cidadão não deveria guardar retratos de seus familiares pois, afinal, fotografias são simples pedaços de papel. Agiu para agredir sem raciocinar.

    Desde pequeno sempre questionei quando era repreendido com a célebre admoestação – “Não faça isto que Deus castiga” (era o jeito, na época, de se repreender uma criança) e eu retrucava – “Deus é bicho-papão?”

    Sempre, desde jovem, nunca deixei de fazer alguma coisa errada por medo de Deus, mas por ter consciência de que era errado – assim  fui educado. Por isto sempre critiquei determinadas atitudes que, mais tarde, vieram a ser justificadas como “coisas de jovem” mas, também, como se dizia na época – “é de pequenino que se torce o pepino”. E por aí segui minha vida, talvez perdendo a oportunidade de me divertir a custa de prejuízos alheios, como muitos confessavam que se divertiam roubando carros, simplesmente, pelo prazer de destruí-los. E hoje chego à conclusão de que, realmente, não vivi como os da minha juventude, mas não me arrependo pois no correr dos anos vamos moldando nosso comportamento, descobrindo sua essência   e nos conscientizando do certo e do errado.

    Tal raciocínio vejo agora confirmado com uma citação que li do prezado Frei Almir Guimarães : “Deus 

    não é um ópio que atordoa, mas uma interrogação”. E partindo desta verdade, vejo que muitos O seguem automaticamente sem se conscientizar, propriamente, de seus ensinamentos e desejos. Nada adianta ir-se ao culto numa igreja, com freqüência, simplesmente por hábito ou por tradição e, saindo dali recorrendo a subterfúgios para ignorar ou agir sonsamente diante do próximo, além de desprezar o que é necessário externar.

    Portanto, a religião adoça a alma, mas só a espiritualidade é que alimenta a consciência para monitorar nossas ações dentro dos preceitos devidos.

    jrobertogullino@gmail.com

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