Icônico prédio de Niemeyer, no centro de SP, ganha livraria
Praça da República, centro de São Paulo. Entre as Ruas Marquês de Itu e Araújo fica um dos icônicos prédios da cidade: o Edifício Eiffel. Projetado por Oscar Niemeyer e Claudio Lemos em 1953 e inaugurado em 1956, ele está prestes a deixar de ser apenas um endereço no mapa das construções de Niemeyer em São Paulo para se tornar, esta semana, mais um importante ponto do novo circuito turístico, cultural e gastronômico que tem movimentado a região também nos finais de semana.
Entre uma loja de presentes e outra de bala, chocolate e salgadinho, será inaugurada nesta quinta-feira, 8, no térreo do histórico prédio residencial, a Livraria Eiffel. A iniciativa é do advogado Leo Wojdyslawski que, aos 50 anos, dá uma guinada na carreira para se dedicar a uma paixão antiga, a arquitetura, e para, de alguma forma, homenagear suas raízes. Ele, que chegou a estudar Arquitetura, mas não concluiu o curso, é filho de Janusz Wlodzimierz Wojdyslawski (1934-1974), polonês sobrevivente do Holocausto que morreu precocemente no Brasil, quando sua carreira de arquiteto estava em ascensão e Leo tinha apenas um ano.
A Eiffel será uma livraria de nicho, especializada em livros de arquitetura, urbanismo, paisagismo e design. “Eu sempre fui um consumidor desse tipo de livro e sentia que havia uma demanda aqui. A livraria que funcionava no Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) fechou e há muitos escritórios na região e também a Escola da Cidade”, diz o advogado especializado em litígio de mídia de entretenimento.
A escolha pelo centro, um lugar de contrastes sociais, caro à arquitetura, foi natural. A definição do lugar, uma feliz coincidência. Leo morou no Edifício Eiffel por cerca de 15 anos, justamente pela ideia de viver em um prédio com um projeto arquitetônico histórico, numa região com boa infraestrutura e restaurantes tradicionais. Saiu de lá para ficar mais perto da mãe, que tinha adoecido, e voltava para buscar correspondências. Foi numa dessas idas que viu uma loja vaga – e a ideia de abrir a livraria começou a ganhar força e as coisas foram acontecendo.
Primeiro Leo procurou o antigo proprietário da livraria do IAB, para saber se ele tinha planos de voltar ao negócio. Sabia que duas lojas para o mesmo público seria demais. Mas Antonio tinha ido embora para Mossoró e não apenas deu alguns conselhos ao novo livreiro como, depois, acabou vendendo parte do que sobrou de seu acervo. Ele então alugou o espaço que havia sido ocupado antes por uma loja de cuecas e sungas sensuais. Enquanto planejava e depois executava a reforma do imóvel, respeitando o projeto original e recuperando o mezanino que tinha sido fechado, ele foi estudar.
O curso online de gestão de livrarias que duraria sete meses foi feito em menos de um. Leo conheceu pessoas do mercado editorial, contratou uma consultoria para a formação de seu acervo, intensificou a conversa com amigos arquitetos e foi adiante.
“Muita gente achou o projeto arriscado, mas muita gente também me deu força”, conta ele, que é o único dono e investidor – e entende que o fato de a Eiffel ser uma livraria especializada traz, na mesma medida, oportunidades e desafios.
Contra a impossibilidade de concorrer por preço com o varejo online e neste momento ainda de sobressaltos para o mercado editorial, que está em recessão desde antes da pandemia e sofre com os efeitos da crise macroeconômica, o livreiro aposta em duas frentes: acervo e localização.
LIVROS RAROS
Nos 70 m² divididos em dois andares, o comprador vai encontrar cerca de 2.500 títulos. São livros novos nacionais e importados e também obras raras e usadas. “Garimpei muitos livros em leilões e sebos e comprei de pessoas também. Tenho, por exemplo, dois exemplares de Brasil Builds, de 1947, que eu adoro e é muito importante. Eu adoraria que eles ficassem aqui para que as pessoas pudessem ver, mas agora sou vendedor”.
ROTEIRO
“Se andarmos 50 m, temos algumas estrelas Michelin e outros restaurantes e comércio sofisticados. Espero que as pessoas que ficam duas horas esperando na fila da Casa do Porco passem aqui, tomem um café, comecem a frequentar a livraria.” Sem contar que o IAB está a uma quadra dali.
Leo comenta, ainda, o renascimento da cena de livrarias de rua no centro. Caminhando 400 m a partir da Eiffel, chega-se facilmente à Megafauna, inaugurada em 2020 em um prédio ainda mais icônico de Niemeyer, o Copan. A 300 metros, fica a Taperá Taperá, que funciona desde 2016 na Galeria Metrópole. Se formos para o outro lado, na direção da Vila Buarque, em 400 metros chega-se à Gato Sem Rabo, a primeira livraria de São Paulo dedicada a livros escritos por mulheres, que abriu as portas na Amaral Gurgel em 2021. Mais 150 m, e estamos na Banca Curva, de publicações independentes.
“As várias livrarias abertas na região estão atraindo bastante gente, criando uma espécie de roteiro de livrarias. É comum vermos as pessoas indo de uma para a outra e quero fazer parte desse movimento também”, finaliza.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.