• Epicentro da tragédia, a servidão Frei Leão, parou no tempo e permanece da mesma forma desde o dia 15 de fevereiro

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  • 02/12/2022 15:03
    Por Helen Salgado

    A tragédia do dia 15 de fevereiro fez 243 vítimas fatais em toda a cidade. Somente na servidão Frei Leão, no Alto da Serra, foram 93 óbitos e 54 casas destruídas. No entanto, mesmo sendo considerada o epicentro da tragédia, nada foi feito até o momento na região.

    Caminhando pelo local é possível encontrar entulhos, casas invadidas pela força da água e um retrato da maior tragédia socioambiental que Petrópolis já viveu. Mesmo com quase dez meses de silêncio, moradores lutam para receber o mínimo de dignidade.

    Foto: Helen Salgado

    Cristiane Gross foi moradora da Frei Leão por 31 anos. Com a tragédia, ela perdeu nove parentes e uma vizinha, além de uma casa de três andares conquistada após muitos anos de trabalho. Agora, sem casa e sem familiares, ela tenta reconstruir a vida em uma casa no Cascatinha, que conseguiu alugar através do Aluguel Social.

    “Parece que a gente não tem a menor importância para o poder público. Nós fomos abandonados pelo poder público, a verdade é essa. Eu escuto que a dinâmica das chuvas mudou, se limpar ali [a servidão], o pessoal volta. A gente sabe que não existe essa possibilidade, mas eu acho que eles devem isso pra gente. Foram 31 anos morando aqui, fui muito feliz.”, desabafa Cristiane.

    Foto: Helen Salgado

    A moradora ressalta que nenhuma das casas foi construída de forma irregular e todos os moradores pagavam IPTU dos imóveis. A casa de Cristiane era a sétima da servidão. Ela lembra que subia 40 degraus e que a escadaria possuía corrimão, colocado pela Prefeitura, que recebia manutenções pelo menos uma vez por ano.

    Já o senhor Antenor de Alcântara morou na região por 64 anos. Atualmente, ele mora em uma casa alugada no Retiro, também através do Aluguel Social. Ele conta que o sentimento é o de exclusão. “Podiam limpar esse morro aqui. Dar, pelo menos, um pouco de aparência para aliviar a dor da gente.”, diz. Ele perdeu sobrinhos, netos e uma irmã, que faleceu por depressão ao perder os filhos – ao todo foram dez familiares.

    Sr. Antenor Alcântara – Foto Helen Salgado

    Márcia Canellas morou por 17 anos na Rua dos Ferroviários. No dia 15 de fevereiro, Cristiane pediu ajuda para ela e mais dez pessoas. Durante mais de três meses, a casa de Márcia virou um centro de apoio. Lá ela servia água, café da manhã e outras refeições a quem precisasse. Embora não tenha sido diretamente atingida, Márcia arregaçou as mangas e enfrentou toda a situação como se fosse com ela, ajudando as vítimas que precisavam de amparo.

    “Olhar esse cenário de guerra hoje e ver que não foi tirada uma folha daqui é muito revoltante, porque, no dia 20 de março, na segunda chuva, encheu a Rua dos Ferroviários inteira, os esgotos estavam todos entupidos. Com essa outra chuva, os bueiros encheram todos de novo, porque estão entupidos. Os escombros estão descendo, estão vindo as chuvas. Tinha um colchão que estava lá em cima e agora já está aqui embaixo.”, relata Márcia.

    Ela diz que eles querem que seja realizada uma limpeza no local, mas afirma que ninguém voltará a morar na região. “As pessoas querem respeito. Onde está o poder público que não vem aqui? Cadê os milhões? É isso que a gente quer saber. Cadê? Por que não indenizam as famílias?”, questiona.

    Foto: Helen Salgado

    O maior receio dos moradores são as pedras soltas na parte de cima da servidão. No local há pedras pequenas e grandes – todas sem estarem ancoradas. Com as chuvas fortes de verão, as rochas podem deslizar e atingir as casas na parte debaixo da servidão. Moradores comentam sobre a necessidade de uma revitalização e até um memorial para as vítimas da tragédia – em especial, àquelas que faleceram na Frei Leão.

    Foto: Helen Salgado

    Posicionamento da Prefeitura

    A Prefeitura informou que assumiu as obras de reconstrução e prevenção do Morro da Oficina após a liberação dos recursos da linha de crédito obtida junto à Caixa Econômica Federal. As obras complexas e de grande porte, que preveem barreiras, taludes e drenagens, segundo informado, foram divididas em três etapas:

    Área I:  A previsão é que a obra tenha início nos próximos dias. As intervenções serão feitas na encosta ao longo do trecho entre o Hipershopping e a Rua Hercília Henriques Moret, para proteção da Escola Municipal José Fernandes da Silva, do Pronto Socorro Leônidas Sampaio e de mais de 300 moradias.

    Área II: A licitação está prevista para acontecer ainda este ano. A obra contempla o trecho que fica entre as Ruas Professora Hercília Moretti e a Rua Frei Leão.

    Área III: O projeto que contempla o início da Rua Frei Leão em direção à Rua Oswero Vilaça está em fase de projeto.  

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