Meu Deus!
“Meu Deus do céu, essa é a nossa alternativa de poder!”, disse Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal, referindo-se à reunião do PMDB, na qual o partido decidiu abandonar o governo Dilma Rousseff. Falta de alternativa e a política, gênero de primeira necessidade, morreu ou está enferma, acrescentou o jurista. O sistema político não tem o mínimo de legitimidade democrática e a corrupção é generalizada, concluiu, dizendo que é preciso mudar.
Traduzindo: se correr o bicho pega ou se ficar o bicho come, uma tragédia tupiniquim de largo alcance.
Embora visto como ministro ligado ao lulopetismo, deixadas de lado as críticas sobre sua condição de membro do STF, que o desautoriza a dizer o que disse, não haverá quem conteste suas declarações, porquanto refletem a realidade do momento político. Tem-se, também, ainda que de forma subliminar, uma condenação ao governo Dilma, que conduziu o país ao impasse, engolfado no mar de lama da corrupção e da incompetência.
Experimentamos o desastre com a administração lulopetista, mas também incomoda a posse do vice-presidente Michel Temer. No entanto, com Dilma é que não é possível continuar. A presidente perdeu qualquer condição de governabilidade. O país encontra-se paralisado e a gestão pública engessada pela inoperância e pela anomia. Raivosa, sempre de cenho franzido e dentes arreganhados, transformou o Palácio do Planalto em palanque de comício de quinta categoria. Em parceria com Lula, estimula e convoca o exército de militantes ensandecidos à resistência violenta à decreta&c cedil;ão do impedimento presidencial. É a imagem da intolerância e do ódio, que nunca foram bons conselheiros.
É claro que a melhor solução seria a cassação do mandato da presidente pelo Tribunal Superior Eleitoral, com provas irrefutáveis de que sua campanha foi azeitada com milhões e milhões de reais oriundos da corrupção na Petrobras. Haveria nova eleição. Mas a Justiça é lenta e poderá chegar tarde demais. Enquanto o julgamento não chega, a presidente, refém de movimentos sindicais e sociais enlouquecidos, pode ser forçada a adotar medidas que farão com que o país mergulhe ainda mais profundamente no caos econômico em que se encontra. Sem a medida constit ucional extrema, não teremos para onde correr. Com o vice-presidente, em que pese suas dificuldades pessoais, tem-se pelo menos a perspectiva de um novo governo, disposto a celebrar um pacto de governabilidade, mais ou menos nos moldes do que ocorreu com Itamar Franco, quando do impedimento de Collor de Melo.
A política é realmente gênero de primeira necessidade, mas no Brasil está morta ou gravemente enferma. A corrupção é generalizada e há que se mudar o quadro político e de poder na República, sem legitimidade, pelos processos fraudulentos que coroaram a eleição de Dilma.
Agride a Nação a “repactuação” proposta pelo ministro Jaques Wagner. Trata-se de uma ultrajante troca de cargos e recursos públicos por votos contra o impeachment, via nomeações de ministros e do preenchimento de outras funções públicas, além da liberação de verbas para os redutos eleitorais de deputados cooptados ou vendidos.
É a ressureição do velho Centrão da época da Constituinte de 1988, outrora tão condenado pelo PT e hoje incorporado pelo partido, com sustentação no “franciscanismo” congressual do é dando que se recebe, com procedimentos delituosos que podem fazer com que a Câmara Federal rejeite a ação de impedimento, consagrando-se o crime do lulopetismo contra as instituições democráticas e republicanas.
paulofigueiredo@uol.com.br