Um sábado tristonho
O dia amanheceu nublado; todavia, após às nove horas o sol ameaçou surgir; porém, não nos deu o ar da graça sendo que após às dezessete passou a cair uma chuva fraca, intermitente, demonstrando-nos que o dia seria somente coberto de sombras.
Realmente, foi um sábado tristonho, sem luz, sem graça.
Pela manhã, como já havíamos programado, nos dirigimos em visita a uma criatura que nos acompanhou desde criança até completarmos cinquenta anos.
Logo que chegamos a casa dessa pessoa, percebemos sentimentos de tristeza e desesperança, uma vez que internada uma filha amada.
Fomos em busca de reanimá-la, eu e minha mulher; ouvimos algumas palavras de amargura, outras de recordações, mas sempre presente, por parte da mãe preocupada, a esperança no retorno da filha de volta a casa.
Naquela moradia simples de Dirce, por nós chamada na intimidade de Didi, conversamos, vimos retratos antigos, enfim nos despedimos.
Todavia, às dezessete horas, já em nossa casa, recebemos o comunicado do falecimento da filha querida.
A notícia não só nos consternou mas também aos nossos filhos, os quais, durante a infância e adolescência praticamente sempre permaneceram sob o olhar atento e amoroso de Didi.
Foram lutadoras, mãe e filha, em busca da subsistência da família; a mãe nos acompanhou até o momento em que precisou se afastar.
O desenlace da filha nos trouxe tristeza e amargura quiçá à sua família.
Entretanto, de Deus veio a ordem definitiva.
A certeza de todos nós é que guardará o merecido descanso; por outro lado, temos a plena convicção que baixarão das alturas a compreensão e a resignação como alento a tão importante perda.
De toda sorte, ainda que resignada e que haja entendido os desígnios de Deus, sabemos que viveu, sem dúvida, o que nos legou o poeta: “não sei de maior tristeza, nos caminhos que palmilho, que da mãe que vela à mesa, o corpo morto do filho”.