• Com roteiro premiado, ‘Carvão’ revela que, de fato, as aparências enganam

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  • 18/11/2022 08:11
    Por Luiz Carlos Merten, especial para o Estadão / Estadão

    Em cartaz em horários alternativos de salas especiais da cidade, o longa de Carolina Markowicz chegou aos cinemas credenciado pelo prêmio – o Redentor de melhor roteiro – que recebeu no Festival do Rio. Justamente o roteiro. Carvão, como o filme se chama, não tinha nada a ver com o título quando começou a ser escrito pela diretora. O carvão só surgiu muito tempo depois. Em entrevista ao Estadão, Carolina contou a gênese do filme. O projeto sempre esteve com ela, só precisava o momento certo para aflorar.

    “Passei a infância em Bragança Paulista (interior de SP), numa comunidade regida pelas aparências. É incrível a sensação de liberdade que a gente pode ter, e ao mesmo tempo saber que está sendo vigiada o tempo todo. A vida toda sempre ouvi a preocupação com o que os outros poderiam pensar, ou dizer. O roteiro foi tomando forma assim. O abjeto pode ser trivializado, pior, pode ser justificado em nome de Deus e da família.” Foi assim que se construiu a história dessa família interiorana, e periférica. Pai, mãe, avô e o filho/neto. O avô está entrevado. Pai e mãe guardam segredos escusos.

    O pai tem uma ligação com outro homem. Quando o avô sofre uma crise, a agente do serviço social acena com duas possibilidades para a mãe (Maeve Jinkings). Livrar-se do idoso e acolher em casa um fugitivo, o argentino César Bordón. O estranho adentra a casa e estabelece uma ligação com o menino. A narrativa torna-se mais complexa. Um verdadeiro bestiário, mundo-cão. Sexo, oração, droga, dois assassinatos. Vale tudo. Muitas vezes, o olhar é o do garoto. O olhar é duro. Não há esperança.

    O carvão – a casa nem a família tinham ligação com o minério. Foi na busca de locação que Carolina, através do profissional que fazia a pesquisa para ela, chegou àquele lugar. A casa, o forno, o barranco ao fundo. Em função da própria paisagem, o roteiro, que já vinha sofrendo transformações, tomou sua forma definitiva. Carvão confronta o público com um Brasil que não pode ser motivo de ufanismo.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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