• Mostra 1972 traz filmes que brilharam há 50 anos

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  • 10/11/2022 14:40
    Por Estadão

    Seria necessário analisar as circunstâncias, mas cinéfilos de carteirinha reconhecem a excepcionalidade de certos anos que foram, por assim dizer, abençoados pelos deuses do cinema.

    Foi assim com 1939 em Hollywood (…E o Vento Levou, O Mágico de Oz, No Tempo das Diligências), 1948 na Itália (Ladrões de Bicicletas, La Terra Trema), 1957 na Suécia (O Sétimo Selo, Morangos Silvestres, No Limiar da Vida), 1959 na França (Hiroshima, Meu Amor, Os Incompreendidos, Os Primos), 1963 no Brasil (Vidas Secas, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Os Fuzis).

    Com curadoria do cineasta Paulo Sacramento, a Sala Cinemateca inicia nesta quinta, 10, na Sala Grande Otelo, uma programação especial que vai até o dia 20, lembrando outro ano excepcional para o cinema brasileiro. Há 50 anos, em 1972, a ditadura cívico-militar vivia um de seus momentos mais ferozes. O regime havia capitalizado o triunfo da seleção na Copa do Mundo do México para criar a ideia de um Brasil grande. Havia até um lema – Brasil, ame-o ou deixe-o.

    Naquele ano surgiram filmes que pertencem à História, com H. A abertura nessa quinta, às 8 da noite, será com Toda Nudez Será Castigada, que Arnaldo Jabor adaptou da peça de Nelson Rodrigues. A família disfuncional de Herculano/Paulo Porto, a visceral Geni de Darlene Glória, uma das grandes interpretações da história do cinema brasileiro, e a trilha com o novo tango de Astor Piazolla.

    A paixão de Geni por Serginho e a fuga do enteado com o bandido boliviano. Se fosse possível voltar no tempo, valeria reconstituir o espanto e logo o aplauso frenético com o qual Toda Nudez foi recebido no Festival de Gramado do ano seguinte, do qual saiu com os principais Kikitos, incluindo o de melhor atriz para Darlene.

    Na sequência da programação na Cinemateca Brasileira, e também em parceria com a instituição, o Cinesesc também vai revisitar grandes filmes que deixaram sua marca no cinema internacional – 1972, 50 anos Depois.

    A curadoria, de novo, é de Paulo Sacramento e os filmes serão apresentados de 28 deste mês a 6 de dezembro. Só para lembrar, o Oscar daquele ano dividiu-se entre O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, vencedor da estatueta de melhor filme, e Cabaret, o musical de Bob Fosse, contemplado com a melhor direção.

    Salomonicamente dividiram os Oscars de interpretação. Marlon Brando foi melhor ator como Dom Vito Corleone e Liza Minnelli a melhor atriz como aquela Sally às voltas com a ascensão do nazismo no cabaré em que Joel Grey – Oscar de coadjuvante – fazia as vezes de apresentador.

    A curadoria de Sacramento contempla outros filmes nacionais que também fizeram história. Algo se passara em 1964, quando Walter Hugo Khouri iniciou uma nova fase de seus cinema com Noite Vazia. Oito anos e alguns grandes filmes depois, ele fez As Deusas, com Lilian Lemmertz e Kate Hansen, que vale redescobrir. As duas mulheres em jogos eróticos naquela casa.

    A piscina, a água que impregnam a narrativa de elementos psicanalíticos que sempre foram marcantes na busca do autor pela ascese no sexo. O ano de 1972 marcou a estreia de Carlos Reichenbach no longa, após duas experiências de curtas em filmes de episódios, populares durante a década de 1960 no cinema mundial.

    Corrida em Busca do Amor é pouco conhecido até por tietes do gaúcho que se fez paulistano e, emergindo da Boca do Lixo, deixou o legado de uma obra autoral marcada por indagações sociais, existenciais e, sobretudo, de linguagem. Os filmes de Carlão, como era chamado, questionam o cinema. Em sua revisão do cinema brasileiro de 50 anos atrás Sacramento selecionou filmes de autores transgressores como Luiz Rosemberg (Imagens) e Glauber Rocha (Câncer).

    Será possível rever São Bernardo, de Leon Hirszman, e duas obras que revisitam a História em perspectivas diversas. Diretor de grandes sucessos de bilheteria – quase todo o ciclo de cangaço dos anos 1960 -, Carlos Coimbra sempre lamentou não haver afrontado a censura do regime militar, que se apropriou de Independência ou Morte! nas celebrações do sesquicentenário da Independência, como havia feito com a Copa em 1970.

    Independência ou Morte! é correto, faz observações interessantes e até pertinentes, mas foi transformado em emblema de ufanismo. Não há ufanismo possível em Os Inconfidentes, que Joaquim Pedro de Andrade realizou com base no Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, e nos implacáveis Autos da Devassa. José Wilker como Tiradentes, o brasileiro autofagicamente devorado pelo Brasil.

    Entre a sala da Cinemateca e o Cinesesc, entre o cinema brasileiro e o internacional, o cinema da Augusta também disponibiliza em sessões presenciais O Discreto Charme da Burguesia, de Luis Buñuel, e Solaris, de Andrei Tarkovski.

    Na plataforma do Sesc Digital, será possível acessar Gritos e Sussurros, de Ingmar Bergman, As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, de Rainer Werner Fassbinder, Mimi Metalúrgico, de Lina Wertmuller, A Solidão do Goleiro Diante do Pênalti, de Wim Wenders, e a animação Tintin e o Lago dos Tubarões, de Raymond Leblanc. A mostra 1972 – 50 Anos Depois tem tudo para fazer a alegria dos cinéfilos.

    Serviço:

    De 10 a 20/11 Cinemateca Brasileira Largo Senador Raul Cardoso, 207 – São Paulo Entrada gratuita – Ingressos distribuídos uma hora antes das sessões (11) 5906-8100 cinemateca.org.br

    De 28/11 a 06/12 CineSesc Rua Augusta, 2075 – São Paulo Ingressos: R$ 24,00 (inteira), R$ 12,00 (meia) e R$ 8,00 (credencial plena Sesc) sescsp.org.br/cinesesc

    De 10/11 a 09/12 Plataforma Sesc Digital sescsp.org.br/cinemaemcasa

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