• Caboclo tenta absolvição na CBF após arquivamento de denúncias de assédio sexual

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  • 08/11/2022 16:50
    Por Pedro Ramos / Estadão

    O ex-presidente da CBF Rogério Caboclo se livrou de denúncias de assédio sexual na Justiça. Na esfera federal, uma ação de assédio sexual foi arquivada no Tribunal Regional Federal (TRF-2) por força de habeas corpus. Membros do tribunal entenderam que não houve crime e arquivaram a denúncia. Já no âmbito estadual, o Ministério Público do Rio não denunciou Caboclo e pediu arquivamento do caso também. A defesa do ex-presidente na esfera criminal estuda a possibilidade de comunicar os órgãos competentes para que se investigue a ocorrência de crime de denunciação caluniosa contra seus acusadores.

    Em outro caso, mas que não foi à Justiça, um ex-funcionário da CBF que denunciou Rogério Caboclo por assédio moral recuou da acusação e fez uma retratação. A denúncia do ex-diretor de TI Fernando França, à época, causou uma pena de 20 meses de suspensão ao ex-presidente da CBF pela Comissão de Ética da entidade. França se pronunciou dizendo que a relação entre os dois “atravessou um período de divergências, todas de natureza profissional” e que a decisão de denunciar Caboclo foi precipitada.

    “Após um acalorado desentendimento, decidi, tomado pela emoção, e de forma irrefletida, apresentar notícia de infração contra o Sr. Rogério”, escreveu em documento datado de agosto deste ano. “Essa declaração é um elemento forte para ensejar a absolvição do Rogério. Nos próximos seis meses, devemos ter uma definição. Vai ser o tribunal arbitral, ou seja a instância recursal da Comissão de Ética, que vai julgar o recurso”, explica o advogado de defesa Marcos Pitanga.

    Se na Justiça os processos judiciais de assédio contra o presidente da CBF foram arquivadas, as duas condenações de assédio moral e sexual que ele recebeu na Comissão de Ética da CBF continuam em pé. Os advogados do dirigente aguardam resposta ao recurso no Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem (CBMA) e acreditam em uma possível absolvição na denúncia de assédio moral na comissão da entidade, já que França se retratou.

    O advogado Marcelo Jucá, responsável pela defesa de Caboclo na denúncia de assédio moral e sexual de uma ex-funcionária da entidade, foi procurado pela reportagem, mas não se pronunciou sobre o caso. Em outubro deste ano, a CBF passou a incluir em seus contratos de patrocínio cláusulas que combatem assédio moral e sexual, assim como todas as formas de preconceito, seja por raça, cor, religião, origem, gênero, condição física e mental ou escolha política.

    A nota divulgada no site da confederação afirma que a medida já está sendo utilizada e esteve presente nas últimas cinco parcerias comerciais da entidade. Ainda de acordo com o texto, “todas as empresas e colaboradores que ferirem estas cláusulas estarão cometendo falta grave, que poderá levar à rescisão do contrato.”

    A reportagem não conseguiu entrar em contato com as mulheres que denunciaram o ex-presidente da CBF. Rogério Caboclo também não quis se pronunciar.

    OS CASOS DAS ACUSAÇÕES DE ASSÉDIO SEXUAL

    Uma ex-funcionária que o denunciou por assédio moral e sexual disse que Caboclo chamou-a de “cadela” e tentou forçá-la a comer um biscoito de cachorro. A denúncia foi do GE.com. Em outra oportunidade, perguntou se ela se masturbava. Durante reunião com outros dirigentes da CBF, o presidente teria inventado relacionamentos da funcionária com pessoas ligadas à entidade.

    Segundo a reportagem, a vítima afirmou que, durante todas essas condutas, Caboclo estava embriagado. Ela disse ainda que ele a orientava a esconder garrafas de bebida na entidade, para que Caboclo consumisse durante o expediente. A mulher, que não teve seu nome divulgado, diz ter sido vítima de várias condutas abusivas de Caboclo, desde abril de 2020.

    A funcionária contou em setembro do ano passado que sofreu seguidas intimidações e teve quadro grave de depressão após os episódios. Em tentativa de acordo, foram oferecidos a ela cursos na Europa, dinheiro para a compra de um novo apartamento e promoção na entidade com um bom plano de carreira. A secretária afirmou, porém, que recusou qualquer acordo com o dirigente e, a partir daí, recebeu pedidos absurdos de Caboclo, como não revelar os casos de assédio e justificar sua ausência no trabalho como problemas familiares.

    “Eu pedi para ele (Rogério) sair da presidência da CBF. Ele se recusou e em troca me ofereceu uma indenização para comprar um apartamento, fazer um curso na Europa com todas as despesas pagas e ter uma promoção para um cargo de gerência, para ficar lá até me aposentar. Só que eu não tinha a menor condição de continuar trabalhando na CBF com aquele homem, que me dava uma sensação de terror só de pensar em estar ao lado dele novamente”, contou à época ao Fantástico, da TV Globo.

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