• Figuras carimbadas

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 19/01/2016 10:00

    Não há um suspeito ou investigado pela Operação Lava-Jato que não tenha um passado comprometido pela prática de irregularidades ou crimes contra o erário. Todos são figuras carimbadas e fazem triste figura, pela corrupção e pelo fisiologismo.

     Alguns deles são emblemáticos e encontram-se há algum tempo no topo do poder na República, como Fernando Collor de Melo, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. O primeiro inaugurou o instituto do impeachment na história da República, ao ser defenestrado da função; o segundo renunciou ao cargo de presidente do Senado para salvar o mandato; e o terceiro revela extensa folha corrida, desde os tempos em que foi presidente da Telerj, no Rio de Janeiro, e secretário de Habitação no mesmo Estado, gestão Anthony Garotinho.

     A rigor, os três são oriundos da chamada República das Alagoas – Collor, Renan e caterva, considerando-se que Cunha ascende na vida pública sob as bênçãos de PC Farias, o notório tesoureiro de Collor, durante o curto período presidencial do alagoano. Impressiona é que, mesmo com todo esse currículo, foram reconduzidos ao poder e em posição de elevado destaque no comando da Nação. Nenhum deles foi nomeado para a Câmara ou para o Senado e muito menos designado sem um único voto para a direção maior das duas casas do Congresso.

     Lembro de Ulysses Guimarães que dizia a quem criticava o parlamento que não se surpreendesse com o próximo a ser eleito, pois seria bem pior. O Congresso hoje espelha-se em Renan, Cunha, Collor e outros de igual jaez, como ontem traduzia-se na pessoa de Severino Cavalcanti, ex-presidente da Câmara. O pernambucano, que reivindicava o direito de nomear um diretor da Petrobras que “furasse poço”, terminou cassado. Primário, sem nenhuma sofisticação na arte de roubar, foi apanhado recebendo um “pixulequinho”, uma miséria mensal, do empresário que explorava o restaurante da casa que presidia, bem diferente de seu atual substituto, ladino e voraz.

    E todos eles, com exclusão de Cunha, estão agora afinadíssimos com o PT e com o governo Dilma, como sempre estiveram com Lula. Integram o grande balcão de negócios do parlamento e constituem fortunas, tendo como moeda de troca o voto e o apoio ao presidencialismo de coalizão lulopetista. É evidente que sem a Lava-Jato continuariam lépidos e fagueiros, impunes e soltos, livres para dar curso às suas investidas contra os cofres da Viúva. Agora, pelo menos, experimentam em Brasília o temor generalizado, porquanto podem ser apanhados a qualquer momento pela Lava-Jato, com o pescoço próximo do cutelo do juiz Sérgio Moro ou do Supremo Tribunal Federal, que não terá condições de resistir às pressões da opinião pública e da consciência ética da Nação.

    Os depoimentos de Nestor Cerveró acenderam um rastilho de pólvora e quem tem acesso às informações prestadas pelos diretores da Andrade Gutierrez, em processos de delação, assegura que o pior ainda virá. Na linha de tiro, vários ex-governadores, uma vez azeitados com generosas comissões, por conta de obras faraônicas realizadas em seus estados. O senador preso Delcídio do Amaral não abandonou a hipótese da delação, como única forma de minorar sua difícil situação. As investigações avançam e chegam a Lula. Não há como fugir de suas responsabilidades com o enfadonho discurso de que nunca soube ou viu nada. E a história pessoal de cada um deles certamente os condenará, muito mais cedo do que se imagina.

    paulofigueiredo@uol.com.br

    Últimas