Conheça a história da Rádio Difusora, a antiga rádio petropolitana
Se para os radialistas ela era uma escola, para os ouvintes se resumia ao fascínio de um primeiro dia de aula. O próprio nome já a descrevia. Rádio Difusora. Propagada pelo ar, se fazia presente nos lugares em que ecoava. Fosse pelo sorteio dos doces Guerra, pelos programas de auditório ou pela chegada do Papai Noel de helicóptero, era na emissora que os petropolitanos sintonizavam suas aventuras.
O microfone líder do Estado do Rio. Era esse o slogan da rádio que, de meados da década de 30 até os anos 80, funcionou na Rua do Imperador e teve como diretor Wilson Carneiro Malta. O sobrinho do empreendedor, Denverson Carneiro Malta, conta que o negócio literalmente ultrapassou fronteiras e que o estúdio recebia cartas, inclusive, de navios.
"A antena e os transmissores da rádio foram construídos no Alto da Serra. Abrangíamos toda aquela região da Baixada e, por isso, recebíamos cartões-postais da Noruega, Dinamarca e Suécia. As pessoas captavam o sinal por meio de ondas médias e curtas e nos enviavam correspondências avisando. Meu tio Wilson as guardava em seu escritório e eu achava isso fantástico", revela ele.
O prefixo da estação era o ‘PRD-3’, coincidentemente, as iniciais da denominação ‘Petrópolis Rádio Difusora’. Denverson explica que, além de ter recebido grandes nomes do cenário musical das décadas de 40 e 50 como Erasmo Carlos, Rita Pavone e a sanfoneira Adelaide Chiozzo, a rádio foi também uma escola para radialistas.
"Pela proximidade com o Rio de Janeiro, Petrópolis tinha muita evidência. A nata da música brasileira passou pela Difusora e pelos shows de aniversário da rádio que aconteciam no Cine Esperanto, localizado onde hoje vemos o estacionamento do antigo Extra da Paulo Barbosa. Além disso, ela foi berço de radialistas que se espalharam pelos melhores veículos do Brasil. Por lá passaram nomes como Gilson Ricardo e Paulo Barbosa".
Outro renomado radialista que atuou no local é Santos Ribeiro, carinhosamente apelidado de ‘lenda viva’ pelos amigos. Nascido em 1932, ele acumula mais de cinquenta anos de carreira e tem no currículo passagens pelas rádios Quitandinha, Imperial, Cultura Santos Dumont, Relógio Federal e Continental de Porto Alegre. Aos 85 anos, Santos ainda se lembra das vinhetas e da programação da Difusora.
“Nós abríamos o dia com o Matinal em 3D, apresentado por mim e cujo nome era uma referência ao código PRD-3. De hora em hora, tinha o ‘Noticiário da Hora Par: na hora par, a Difusora vai informar’! Ainda de manhã tínhamos o bloco ‘As mais famosas versões’, com músicas traduzidas para o português. Havia o ‘Escolha sua música’ também. Às 11 horas, era o ‘Rádio Patrulha’ que entrava no ar. A vinheta era alarmante e dizia: você sabe onde está seu filho agora?”, relembra ele, que trabalhou ainda como discotecário e programador.
Na grade constavam também ‘Disque Difusora e Peça Bis’, ‘Pérolas Sonoras’, ‘Atualidades Difusora: tudo vê, tudo sabe, tudo informa’ e ‘Chuteira de Ouro’. Isso sem falar nos programas de auditório ‘Clube do Guri’, em que jovens talentos, às vezes até de outras cidades, lotavam o auditório da rádio aos domingos e o ‘Parada Difusora’.
Quem também tem boas lembranças sobre a Difusora e que viu sua carreira decolar a partir dela é Sidney Teixeira, funcionário, mais tarde, das Rádios Tupi e Globo.
“Tive meu primeiro contato com a rádio aos 12 anos na Rádio Difusora. Assim que vi o pessoal trabalhando, as mesas, fitas, aquele movimento todo, eu sabia que era aquilo que eu queria. Um ano depois comecei a trabalhar lá e jamais imaginaria que, mais tarde, veria meus ídolos se tornarem colegas de trabalho. Em 1980, ganhei do programa do Chacrinha o prêmio de melhor programa de rádio do ano por ‘Cidinho em Alta Velocidade’. Para mim foi uma honra”, relata ele.
Se engana quem pensa que o encanto da PRD-3 era restrito aos estúdios. Denverson conta que o diferencial da rádio era sua interação com a comunidade. Além dos sorteios dos tradicionais doces Guerra e da cobertura dos eventos da cidade, a Rádio Difusora de Petrópolis é lembrada, principalmente, pela chegada do Papai Noel.
"A Difusora patrocinava a chegada do Papai Noel em grande estilo. Ele vinha de helicóptero e a Avenida era tomada por uma multidão. Do dia 1º ao dia 23, o bom velhinho ia para uma localidade diferente para entregar os presentes. Eram feitos sorteios e as urnas ficavam na entrada do D’Ângelo separadas por bairro. As crianças preenchiam cartinhas que saíam no jornal, no comércio local ou que faziam do próprio punho. A viatura saía lotada e as entregas eram transmitidas ao vivo pela rádio”, diz Denverson.
Tamanha era a repercussão e importância da festa que, ainda hoje, é lembrada com carinho pelos petropolitanos. Prova disso é Sandra Caetano, moradora do bairro Quarteirão Brasileiro. “Minha irmã foi sorteada e recebemos a visita do Papai Noel em casa. Foi um dia mágico e inesquecível. Meu irmão e eu ganhamos brinquedos e ela recebeu a boneca amiguinha da Estrela. Me lembro que mamãe fez um lanche e que a vizinhança ficou toda no portão esperando-o. Quando ele chegou, foi um delírio só", relembra Sandra, hoje com 68 anos.
Difícil é quem não tenha carregado um pedacinho desse tempo consigo. No caso de Ronaldo Ribeiro, literalmente. “Meu primeiro emprego, com 13 anos, foi na Rádio Difusora. Eu trabalhava na discoteca e atendia ao público. Tive a oportunidade de participar disso tudo porque trabalhava la. Sei até quem era o Papai Noel! Era tudo de bom. Quando a rádio foi vendida, fiquei com a peruca e a barba dele de lembrança", confessa Ronaldo.
A PRD-3 movimentava a Cidade Imperial. Denverson diz que em tempos de Copa do Mundo, eram colocados televisores nas proximidades do prédio da rádio para que o público assistisse aos jogos. Wilson Carneiro Malta faleceu em 1977 e, com ele, o brilho da Difusora que, na década de 80, foi vendida para um grupo evangélico. Se a saudade chegasse pelo ar como as ondas de rádio, lembranças sobre a Petrópolis Rádio Difusora certamente seriam sintonizadas na memória.