• Menino com doença rara consegue medicamento, através da Defensoria Pública, fora da lista do SUS

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  • Ação judicial em Paty do Alferes determinou que Poder Público fornecesse remédio, distribuído pelo SUS para algumas doenças, mas não para aquela com que a criança foi diagnosticada

    27/10/2022 16:49
    Por Helen Salgado

    A Defensoria Pública na comarca de Paty de Alferes, no interior fluminense, garantiu na Justiça que a Prefeitura e o Estado forneçam, ao Dheivid Santos, 6 anos, portador de CANDLE, um medicamento de alto custo (Baricitinibe 2mg) que não consta na lista do Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento da doença.

    Leia também: Menino, que sofre com doença rara, espera por medicamento que custa mais de R$ 5 mil da Secretaria de Saúde do Estado e do Município de Paty dos Alferes

    O pedido da Defensoria foi acompanhado de laudo do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que assiste a criança desde 2017, destacando já haver, na literatura médica, recomendação para a utilização do Baricitinibe 2mg contra CANDLE por, pelo menos, 48 meses, com posterior reavaliação da resposta terapêutica.

    O defensor público, Frederico Laport, ajuizou a ação após negativa da Câmara de Resolução de Litígios em Saúde em concordar com o fornecimento do fármaco por via administrativa, justamente sob o argumento de que a doença do menino não integra a lista do SUS para a dispensação do medicamento, ainda que este seja distribuído a pacientes com outros diagnósticos.

    Para o pedido judicial com vistas à concessão de itens não incorporados à lista do SUS, foram reunidos o laudo da UFRJ, com indicação médica de necessidade do medicamento e de ineficácia de outros fármacos da relação de Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF) para o caso da criança; demonstração do Baricitinibe 2mg ter registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e comprovação da incapacidade financeira da família em arcar com o custo do que foi prescrito.

    Um levantamento em balcões de farmácias e sites apontou que o preço do Baricitinibe varia entre R$5 mil e R$6,2 mil.

    “A criança, após o uso do medicamento, apresentou significativa melhora do quadro clínico, com redução dos graves sintomas da doença. Portanto, a utilização do fármaco assegura ao infante uma vida digna. Injurídica, portanto, a conduta do estado na recusa em fornecer o medicamento, destacando-se, ainda, que foi necessário o sequestro da verba pública em razão do descumprimento da decisão judicial.”, explica Frederico Laport.

    A mãe, Amanda de Souza, conta que, quando a caixa com os remédios chegou na sua casa, Dheivid ficou muito feliz porque o menino sabe que, se ficar sem a medicação, as dores e o inchaço no corpo voltam.

    “Ele olhou para mim com os olhos cheio d’água e falou ‘Mãe, então esse remédio não vai deixar eu sentir dor, ficar inchado e não vai deixar eu faltar escola mais, né?!’ Quando ele tem crises, ele não estuda, fica sem aula porque não tem como ir para a escola com dor. Esse momento me tocou muito. Através daquela caixa, que chegou na minha casa ontem, ele não vai sentir mais dor e não vai ter mais febre. Uma coisa bem comovente.” conta Amanda emocionada.

    A mãe diz que, agora com a medicação em casa, ela finalmente pode ter paz. Dheivid estava sendo medicado com o remédio fornecido através de doação por uma médica do Hospital do Fundão, no Rio de Janeiro. Em uma corrida contra o tempo para conseguir mais caixas do medicamento, Amanda passou dias sem dormir preocupada com medo de acabar a medicação que Dheivid tinha.

    “Dói muito ver meu filho vivendo toda aquela situação e com muita dor. O Dheivid está tomando a medicação. Se você olhar para ele, parece que não tem nada; é uma criança normal. Mas se ele ficar sem a medicação, infelizmente, a doença reativa. Quando a medicação chegou na minha casa foi um sentimento de paz e de tranquilidade. Eu acho que foi a primeira noite que eu consegui dormir bem. Depois que eu descobri que Dheivid teria que tomar essa medicação foram dias muito difíceis”, desabafa a mãe.

    Sobre a doença

    A CANDLE, Dermatose Neutrofílica Atípica Crônica com Lipodistrofia e Temperatura Elevada, é uma doença rara, autoinflamatória, progressiva e limitante, sem cura. O medicamento visa garantir qualidade de vida para o paciente. As crianças afetadas sofrem de episódios de febre recorrentes, manifestações cutâneas que duram vários dias/semanas, atrofia muscular e contraturas nas articulações.

    Há cinco anos o menino é paciente dos serviços de reumatologia, cardiologia, imunologia e dermatologia do Hospital do Fundão, da UFRJ.

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