Chaui, ódio à classe média e o controle social da mídia
Existe um vídeo da autorrotulada filósofa e musa do PT Marilena Chaui (MC), em que ela expressa, com veemência, seu ódio à classe média. Ela, sucintamente, fornece as razões. Ser classe média é atraso de vida, é estupidez, é ser reacionário e conservador, bem como ignorante, petulante, arrogante e terrorista. O conteúdo de asneiras enumerado nessa “definição” dada por ela é monumental. Lula e outros próceres do PT a ouviam sentados no palco, dando aquele risinho ambíguo de quem quer concordar sem concordar inteiramente. É, como sempre, a velha dialética cansada de guerra em que a confusão mental assume o picadeiro. A chamada lógica formal polivalente, que não cabe esmiuçar aqui, fornece elementos para uma visão bem mais colada à realidade.
Quando a MC afirma que a classe média significa atraso de vida, ela contraria a lógica básica que está na cabeça de qualquer mortal pé no chão. Os exemplos são inúmeros. Quem está vivendo no topo de uma favela, e começa a melhorar de vida, vai procurar se mudar para um local de acesso menos penoso, ou até sair da favela para ter acesso às facilidades disponíveis de infraestrutura de um bairro onde os serviços públicos funcionem. Na verdade, o movimento em direção à classe média significa avanço de vida.
Mas ela não para aí, e nos informa que é o reino da estupidez. Como assim? É simplesmente natural que o ser humano procure viver melhor e se esforce para caminhar nessa direção. Não há nada de estupidez nessa atitude. Muito pelo contrário. Recusar-se a entrar na classe média, e continuar a viver sem os confortos mínimos que a vida moderna oferece, é que é estupidez.
Felizmente, aqueles que convivem, ou conviveram, com uma situação de penúria são suficientemente inteligentes para buscar novos patamares. Ou lutar como o Edu Lyra, do movimento “Gerando Falcões”, na linha de hospedar os favelados decentemente enquanto duram as obras para acomodá-los onde a infraestrutura urbana seja satisfatória. Isto não é “A Marcha da Insensatez” de que nos fala Barbara W. Tuchman, em seu famoso livro.
MC continua em sua marcha acusando a classe média de ser reacionária e conservadora. Aqui ela atinge um alto nível em que seus pés estão firmemente plantados no ar. É natural que a classe média reaja contra a penúria e lute por conservar em seu novo status, e mesmo avançar. É muito comum a esquerda brasileira desinformada tratar quem é conservador como reacionário e atrasado. Poucos países são tão conservadores como os EUA e a Inglaterra, e nem por isso deixaram de ser países extremamente criativos e inovadores. Mais uma vez, a “lógica” da Marilena Chaui se choca com a realidade.
Vejamos agora outros adjetivos contundentes com que ela brindou a classe média, uma fatia considerável da população brasileira. Ela seria ignorante, petulante, arrogante e até terrorista. Ser capaz de atingir níveis salariais mais elevados normalmente reflete o fato de alguém que estudou e se qualificou para conseguir emprego mais bem remunerado. É claro que existem as exceções dos que recorrem a meios ilícitos para chegar lá, mas não são a maioria, que investem no trabalho duro.
A questão da petulância e da arrogância pode afetar uma parte da classe média por ser achar melhor que os demais que estão materialmente em posição inferior. Mas é injusto apontar o dedo para todos que a compõem. Poderia citar, por exemplo, muitos casos de solidariedade no Brasil quando catástrofes naturais se fazem presentes em nosso cotidiano, envolvendo inclusive aqueles que não seriam considerados pertencentes à classe média.
Quanto à pesada acusação de ser terrorista, Marilena Chauí perde, como dizia uma tia minha, linha, carretel e tudo o mais. Existem terroristas oriundos de todas as classes sociais. Não há como afirmar que seria um fenômeno típico da classe média. Pesquisas nos informam que podem advir tanto dos que estão por baixo como os situados no andar de cima.
Os parágrafos anteriores dedicados à MC expõem o grau de confusão mental que pessoas como ela podem chegar a ponto de se tornarem cegas diante do óbvio. Aristóteles, se vivo estivesse, estaria certamente de cabelo em pé. Mas tal disfunção diante do real também se faz presente em criaturas, como o ministro Alexandre de Moraes, face às últimas decisões que tomou. Trata-se de uma prévia do controle social dos meios de comunicação reiteradamente proposto por Lula, que já teve duros efeitos colaterais na rádio Jovem Pan.
Ele enviou uma intimação ao pastor André Valadão, obrigando-o a gravar um vídeo em que ele teve que dizer que Lula não é a favor do aborto, não é a favor da descriminalização das drogas, não é a favor de tolerar pequenos furtos e não é a favor da regulação da mídia. Mas, na verdade, existem vários vídeos do Lula confirmando exatamente o que o ministro mandou o pastor negar. Haddad faz coro com Lula propondo o desencarceramento de pessoas que cometeram pequenos delitos, revelando ignorância sobre a bem-sucedida teoria da tolerância zero na prática, nos EUA.
Em nome do combate às fake news, o ministro faz uso delas ao tentar tapar o sol com peneira, pois estamos diante de fatos públicos e notórios, registrados em diversos vídeos. O ex-ministro do STF, Marco Aurélio, em entrevista, afirmou que Lula foi condenado por crimes de malversação de dinheiro público, e que foi ressuscitado politicamente por uma canetada jurídica do ministro Fachin. A rigor, não poderia sequer ser candidato.
Não satisfeito, Alexandre de Moraes ampliou as inserções diárias de Lula na TV para 47, reduzindo as de Bolsonaro para apenas 3. Mais uma vez, com a desculpa esfarrapada do combate às notícias falsas, tomou a iniciativa de desmonetizar, sufocar financeiramente, canais do YouTube, coisa que nem os militares fizeram. O artigo 220 da atual constituição nos garante liberdade de imprensa e de pensamento. Logo, como cidadãos, temos pleno direito de nos manifestar a favor ou contra quem quer que seja.
Tarda a hora de o senado tomar a iniciativa de instaurar processos contra certos ministros do STF, cujas decisões lesaram a pátria brasileira.
(*) Nota: Link para uma entrevista minha e do Marcos Carneiro, no programa “Fatos em Debate”, na TV Pop, canal 14, em 11/10/2022, terça-feira, sobre pesquisas, alianças políticas e voto ideológico: