• Musical: novidades do LP ao rádio de pilha

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  • 21/05/2018 20:16

    Os anos eram dourados. Tendências, glamour e música regiam a sociedade. Pedestres paravam nas calçadas para admirar as novidades que ocupavam as vitrines: discos, gramofones, aparelhos de rádio. Em Petrópolis, a loja pioneira no ramo dos eletroeletrônicos era ‘A Musical’. Fundada em 1950, ela funcionou por pouco mais de cinquenta anos e ainda hoje é lembrada com saudosismo por aqueles que a viram evoluir com a cidade.

    Lembranças. São elas que vêm à tona quando Denverson Carneiro Malta, sobrinho do fundador do empreendimento, fala sobre ‘A Musical’. A loja, aberta por Wilson Carneiro Malta, fazia parte de um complexo de comunicação pertencente a ele e que incluía o Jornal de Petrópolis e a Rádio Difusora.

    ‘Quando eu nasci a loja já existia, então aquele era meu parque de diversões. A empresa foi aberta por meu tio, que queria incentivar meu pai a atuar no comércio. A ideia funcionou porque ele acabou tomando gosto e ampliando o negócio. Nós tivemos A Musical Dom Pedro, na Praça dos Expedicionários; a Musical Avenida, nas proximidades da loja Lealtex e, mais tarde, o Malta Bike, no Shopping Santo Antônio’.

    O projeto teve como principal endereço a esquina do atual Centro Comercial Quartier. Considerada uma das maiores discotecas da cidade, era conhecida pelas vendas de vitrolas de corda, máquinas de escrever, discos e rádios; já na filial do outro lado da rua eram as porcelanas e os cristais tchecos que faziam sucesso. 

    ‘Meu pai sempre foi muito carismático e meu tio também sempre esteve voltado ao púbico por meio da rádio e do jornal. Eles traziam tudo de mais avançado que existia na época como os rádios japoneses que não funcionavam a válvula, mas por transistor e o próprio rádio a pilha. O que há hoje de smartphone, naquela época era o rádio a pilha. Todos queriam um. E sem falar na parte de eletrodomésticos. Fomos praticamente pioneiros em toda a linha branca de fogões e geladeiras; eletroportáteis e louças finas’.

    Segundo Denverson, o diferencial da empresa era o atendimento para com o público. ‘Me lembro de uma funcionária chamada Soledad. Ela trabalhava na Musical Avenida e atendia a família imperial que, inclusive, lhe presenteou com uma viagem para a Espanha por conta de seu carisma. Imagina, naquela época, um cliente oferecer para um funcionário de uma loja uma passagem para a Espanha?’.

    Ele lembra ainda de outros ex-funcionários que, graças à Musical, tiveram as vidas mudadas para sempre. ‘A Musical foi pé quente em se tratando de uniões e casamentos bem-sucedidos’, diz em tom de brincadeira. Prova disso é Sandra Silva, de 42 anos. Ela, que trabalhou em uma das filiais por três anos, conta como conheceu o marido, Ricardo Alexandre Brito, em 1995.

    ‘Foi meu primeiro emprego de carteira assinada, local em que fiz muitos amigos, amizades que já duram mais de 20 anos. Lá conheci o Ricardo, meu marido. Começamos a trabalhar no mesmo dia, e a namorar um mês depois, com algumas idas e vindas. Nos casamos e moramos na Flórida há 15 anos. Fruto dessa união é o nosso filho de 14 anos, Neo. Tenho um carinho enorme pelo Denverson e por seus pais. Posso dizer que eles são parte da minha família, uma família que começou na Musical’, conta ela.

    Um outro caso de colaborador que teve o rumo mudado pela loja foi Miguel Conde. Dizem que o bom filho à casa retorna, e foi esse o caso dele. Miguel trabalhou pela primeira vez no negócio em 1988 e, mais tarde, nos anos de 1991 e 1996.

    ‘Em 1996 retornei à Musical como vendedor, foi quando conheci minha esposa. Ela trabalhava no caixa então quando eu enviava uma nota para o cliente pagar, aproveitava para lhe mandar um bilhetinho. Nós nos casamos no ano seguinte e estamos juntos há 21 anos. Vivemos na Inglaterra desde 2006 e temos dois filhos, a Amanda e o Arthur Conde, de 17 e 6 anos respectivamente’.

    Quem também tem boas lembranças sobre o negócio é o senhor Corinto Rodrigues que, aos 85 anos, é o funcionário mais antigo que A Musical já teve. ‘Trabalhei na sede da Praça dos Expedicionários por 30 anos. Lá lidava com serviços de controle de estoque, balcão e vendas. Sinto uma saudade imensa. Tínhamos uma relação muito boa com os clientes. Uma vez recebi aquele cantor italiano Peppino di Capri. Éramos uma família’, confessa Corinto, que hoje está à frente do Malta Bike, antiga filial da Musical.

    De acordo com Denverson, entre os clientes ilustres da loja estavam Chico Anísio, Lulu Santos e Angela Ro Ro. Ele relembra também o dia em que a Musical lançou a primeira televisão a cores da cidade. 

    ‘Me lembro perfeitamente que foi durante a Copa do Mundo. Nós colocávamos a TV a cores ligada na porta da loja, o que fazia o público parar e assistir às propagandas e a alguns jogos da Copa. Nesta época, a Musical era muito conhecida e prestigiada pelos petropolitanos e veranistas’, revela.

    Quem viveu naquele tempo dificilmente a esqueceu. Fosse pelo prazer de comprar um disco de seu artista favorito ou de, simplesmente, se relacionar com os vendedores, os petropolitanos guardam boas lembranças da Musical, uma loja que criou laços com Petrópolis.



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