• Annie Ernaux, entre o íntimo e o coletivo

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  • 07/10/2022 07:00
    Por Maria Fernanda Rodrigues / Estadão

    Ao anunciar o nome de Annie Ernaux como a vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, a Academia Sueca justificou sua escolha pela “coragem e agudeza clínica com que ela descobre as raízes, os distanciamentos e restrições coletivas da memória pessoal”.

    Anders Olsson, presidente do comitê do Nobel de Literatura, disse que Ernaux se refere a si como “uma etnóloga de si mesma” em vez de uma escritora de ficção. Seus livros, quase sempre breves, narram eventos de sua vida e das pessoas ao seu redor, seus encontros sexuais, o aborto, doenças e a morte de seus pais. Segundo Olsson, o trabalho de Ernaux é, muitas vezes, “intransigente e escrito em linguagem simples e direta”.

    Ele também disse que ela alcançou algo “admirável e duradouro” e que com sua escrita ela busca oferecer uma visão muito objetiva dos eventos que está descrevendo, e não uma imagem “moldada por descrições floreadas ou emoções avassaladoras”.

    À Associated Press, ele definiu Annie Ernaux como “uma escritora extremamente honesta que não tem medo de confrontar as duras verdades, as experiências realmente difíceis”.

    Entre seus temas, abordados sempre a partir de sua experiência pessoal, estão relações familiares e sociais, violência e os direitos das mulheres. Ao contar sua história, ela explora e expõe a vida na França. Durante o anúncio, o porta-voz do Nobel disse que não há nenhuma “mensagem” na escolha por Annie este ano, e que o critério é, e sempre foi, a qualidade literária.

    DIREITO DA MULHER

    Horas depois do anúncio, Annie Ernaux falou com a imprensa na sua editora, a Gallimard, em Paris. Em seu pronunciamento, ela defendeu ferozmente o direito das mulheres ao aborto e aos contraceptivos. “Lutarei até meu último suspiro para que as mulheres possam escolher ser mães ou não ser. É um direito fundamental”, afirmou a escritora.

    Um de seus livros mais conhecidos é O Acontecimento, cuja adaptação para o cinema foi premiada no Festival de Veneza em 2021. Nele, a autora conta sobre o aborto que fez na juventude, quando ele era proibido na França – agora, a interrupção da gravidez é permitida no país até a 14ª semana de gestação.

    Annie Ernaux, que estreou na literatura em 1974, com o romance biográfico Os Armários Vazios, também falou sobre a importância de continuar lutando pelos direitos das mulheres e de ter esperança na paz – ela viveu sua infância durante a Segunda Guerra Mundial.

    Emmanuel Macron, presidente da França, usou sua conta no Twitter para festejar o Nobel de Ernaux: “Annie Ernaux escreve há 50 anos o romance da memória coletiva e íntima de nosso país. Sua voz é a da liberdade das mulheres”. Ele reconhece sua contribuição, mas o contrário não é verdadeiro. Defensora de causas de esquerda por justiça social, ela já disse que Macron, em seu primeiro mandato como presidente, não conseguiu promover a causa das mulheres francesas.

    Annie Ernaux está presente nas livrarias brasileiras com seus mais celebrados livros, como O Acontecimento.

    O mais recente, que acaba de ser publicado pela Fósforo – editora que desde 2021 vem traduzindo sua obra -, é A Vergonha. Nele, ela rememora um episódio de sua infância. Quando tinha 12 anos, seu pai tentou matar sua mãe e a experiência traumática resultou em um sentimento que a acompanharia pelo resto da vida.

    O Lugar, de 1983, foi o livro que a revelou. Os Anos é tido como sua principal obra.

    Em novembro, para a Festa Literária de Paraty (Flip), que confirmou, no mês passado, a vinda da francesa, sairá O Jovem. No breve volume, deste ano, ela relata sua relação com um homem 30 anos mais novo. (Com AP)

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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