Sesc Jazz traz a música da diáspora africana e outras frentes criativas
Herdeiro do antigo Jazz na Fábrica, o Sesc Jazz retoma seu caráter presencial a partir desta quarta, dia 5. Serão 20 atrações, entre nacionais e de outros nove países, que vão realizar 54 espetáculos espalhados por sete unidades do Sesc: Guarulhos, Jundiaí, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, São José dos Campos e, na Capital, o Sesc Pompeia.
Os shows vão seguir até 23 de outubro, com nomes referenciais de cenas jazzísticas no mundo – e não apenas dos Estados Unidos. Não há nenhuma grande figura do jazz tradicional norte-americano, mas talvez seja isso o que torna o evento charmoso. Muitos festivais trazem nomes reconhecidos mas fora de forma, apenas para justificar a seus anunciantes e a uma plateia menos informada alguma suposta relevância.
Pelos nomes da lista do Sesc Jazz, o caminho é outro. Eles miram na música criativa (parece pleonasmo, mas é como alguns se referem à música não reproduzida por partitura, como a sinfônica) feita em vários cantos do mundo sem necessariamente passar pela formatação do jazz norte-americano. “Penso que o jazz é uma música das diásporas”, diz Sérgio Pinto, gerente adjunto do Sesc Pompeia e integrante da equipe curatorial do Sesc Jazz.
Entre as referências deste jazz mais planetário feito nos Estados Unidos, estarão no festival a flautista Nicole Mitchells e o trompetista Rob Mazurek com sua Exploding Star Orchestra, ambos de Chicago. De fora do eixo, vêm o coletivo de Londres Kokoroko, liderado pela excelente trompetista Sheila Maurice-Grey, o pianista sul-africano Nduduzo Makhathini, uma das revelações do jazz africano dos últimos anos, o pianista congolês Ray Lema e a cantora e percussionista Dobet Gnahoré, da Costa do Marfim. A África está em peso.
O Kokoroko é um curioso grupo formado por afrodescendentes que vivem em Londres e que assimilaram o afrobeat nigeriano com uma abordagem desconstrutivista, mas menos experimental e mais R&B, parecida com o novo jazz inglês de Shabaka Hutchings. Eles fizeram pelo afrobeat de Fela Kuti um revisionismo que o Brasil não conseguiu fazer. Em vez de apenas reproduzirem uma ideia antiga, a mesclaram sem o pesar da tradição. Could We Be More, o álbum lançado recentemente, deve ser a base do repertório de seus shows no Brasil (no Sesc Pompeia, será dia 23 de outubro).
Do Peru, Susana Baca, 78 anos, vem fazer o show de seu álbum mais recente, o espetacular Palavras Urgentes (o show no Pompeia será em 16 de outubro). Indicada para melhor disco da temporada do Grammy Latino na categoria música folclórica (estranho, porque nada soa exatamente “folclórico” em Susana), sua voz só parece melhorar com o tempo.
Foi também um Grammy que, há exatos 20 anos, fez Susana ter amplitude artística. Editado de forma pirata, como ela conta ao Estadão, o disco Lamento Negro havia sido gravado em 1986, em Cuba, com poemas musicados de nomes como Pablo Neruda e Chabuca Granda. “Foi este prêmio que me tornou conhecida em meu país”, reconhece.
Uma reunião histórica deve ser feita pelo Quarteto Negro, um grupo que se junta 35 anos depois de sua criação. Vão se apresentar Zezé Motta, voz; Djalma Correa, percussão; e Jorge Degas, baixo. Para substituir o saxofonista Paulo Moura, morto em 2010, o convocado foi Ivan Sacerdote, clarinetista que lançou um álbum com Caetano Veloso em 2020.
Outros destaques que devem garantir o ingresso são as pianistas Macha Gharibian, armênia radicada na França, e Kathrine Windfeld, da Dinamarca. Alaíde Costa vai dividir o palco com Ilessi em um encontro, segundo diz o texto de divulgação, “voltado à música negra brasileira das últimas décadas”. Dos coletivos brasileiros, a Orquestra Afrosinfônica e a Orkestra Rumpilezz, ambas da Bahia, devem servir um interessante contraponto, com sonoridades diaspóricas tão particulares.
Sesc Jazz 2022
Unidades Guarulhos, Jundiaí, Piracicaba, Pompeia, Ribeirão Preto e São José dos Campos. Inf. sobre horários e preços: sescsp.org.br/sescjazz
De 5 a 23 de outubro
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.