A voz das urnas
A democracia respira e transpira Liberdade. Não há como dissociá-las. Sem Liberdade, a democracia não sobrevive. O oxigênio de uma sociedade democrática vem do respeito à Liberdade. É de domínio público a seguinte frase: “o seu direito termina onde começa o do outro”. Esse limite consiste em um princípio básico para se estruturar uma convivência pacífica. A mesma veemência usada na exigência dos direitos deve estar presente no cumprimento dos deveres.
“Os outros dos outros somos nós”. Ao pensar nos outros, pensamos em nós, pois a reciprocidade das ações é que pode estabelecer o equilíbrio necessário para que o fio da balança seja posicionado com justiça. E aqui uso as palavras de Quem passou por este mundo semeando o Bem: “Tudo que desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles.” (Mt. 7,12).
O respeito à vida é fascinante. Mexe com as nossas atitudes. Temos que aprender a respeitá-la a partir do amor que emana do bem que deve ser estendido a todos. Por isso temos que nos libertar das algemas do egoísmo. A pior prisão está dentro de nós. Não enxergar os direitos dos outros consiste na maior cegueira social. Qualquer discurso que provém da exaltação de privilégios de uma determinada camada da sociedade em detrimento de outras é inócuo. Por isso que se diz que “o amor liberta”, pois ele procura o bem de quem se ama. Quem ama o povo não o explora. Portanto, precisamos ter “cuidado com os falsos profetas! Eles vêm a vós disfarçados com peles de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas de espinhos, ou figos de urtigas?” (Mt. 7,15-16).
Em período eleitoral, os “lobos vorazes” dissimulam muito bem. Precisamos ficar atentos, pois camuflam os interesses deles em discursos proferidos em nome do povo. Apresentam-se dóceis e portadores da plena honestidade. As artimanhas são criteriosamente planejadas como um produto de marketing. As falsas imagens são maquiadas desde o uso de photoshop para mostrar-se com boa aparência nas fotos dos panfletos até a omissão de fato para traçar uma idoneidade ilibada.
A voz da urna tem que ser respeitada como consolidação do processo democrático e republicano instituído no País. A voz da urna é a voz do povo, mesmo com todas as incoerências e equívocos que possam parecer. A soberania da Nação exige que se respeite as decisões que provém do voto da maioria.
Foi com profunda tristeza que, na quinta-feira passada (28/09), assisti ao debate entre os candidatos à presidência do Brasil. Ainda temos muito que evoluir politicamente para alcançar a respeitabilidade que um sistema democrático exige. Os problemas que afetam a Nação não foram abordados como deveriam. As discussões ficaram no plano das rivalidades pessoais. A intolerância nutrida de ódio gera o caos. Muitos exigem o direito de falar, mas não querem exercer o dever de ouvir.
No sábado (24/09), tive a grata satisfação de rever vários amigos em um encontro que ocorreu no Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro. Lembramos o período em que fazíamos parte do Movimento Jovem da Glória (MOJOG) e do Shalom, um grupo de formação teológica. Uma das amigas levou alguns exemplares do jornalzinho mensal que era confeccionado na paróquia. Em um deles, publicado em 1977, continha um artigo com a minha assinatura: viajei por uma emoção que me levou a reconhecer que o tempo pacificou-me, descristalizou as certezas e as minhas dúvidas, abrindo caminho para a autocrítica com mais resignação. O título do artigo: “Liberdade”.
Ao ler os dois primeiros parágrafos, logo identifiquei as influências provenientes da leitura do livro “Romanceiro da Inconfidência” de Cecília Meireles, no qual, há, a meu ver, a melhor definição de Liberdade:
“Liberdade – essa palavra/ que o sonho humano alimenta:/ que não há ninguém que explique,/ e ninguém que não entenda!”
O povo pode não ter uma formação intelectual aprimorada, mas entende plenamente o conceito de “Liberdade”, que também se manifesta na livre expressão do voto no processo de escolha dos representantes tanto no poder legislativo quanto executivo para o exercício da administração pública do País.
A esperança de um povo carrega consigo o desejo de viver em uma Pátria livre sem desigualdades sociais. Não há democracia em um país quando parte da população vive na miséria. Por isso que o processo eleitoral sempre renova as esperanças, pois as aspirações de mudanças sempre renascem… Que “o Sol da Liberdade, em raios fúlgidos,” ilumine a paz em nosso País.