Musical ressalta lado biográfico de ‘O Pequeno Príncipe’
A designer Sheila Dryzun já foi artista plástica, cenógrafa e professora de arte, mas foi uma de suas paixões que a notabilizou no mundo artístico: a devoção por O Pequeno Príncipe, livro lançado em 1943 pelo francês Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944). “São pouco mais de 90 páginas, mas carregadas de valores”, conta ela, que assina o roteiro de O Pequeno Príncipe, o Musical, que estreia nesta quinta, 29, na reabertura do Teatro Villa-Lobos.
Não se trata de uma simples adaptação – Sheila compôs o personagem do aviador com o perfil do próprio Saint-Exupéry, a partir de novidades transmitidas pela família do escritor, com a qual ela mantém contato próximo desde 2004, quando organizou uma mostra na Oca. “O público vai se surpreender ao descobrir que a história é, na verdade, uma autobiografia de Saint-Exupéry, que também foi um aventureiro e aviador.”
A trama acompanha um piloto que cai com seu avião no deserto do Saara, onde encontra um menino de cabelos dourados que lhe pede para desenhar um carneiro. A partir daí, os dois iniciam uma linda amizade e refletem sobre as relações entre as pessoas, o amor ao planeta e questões existenciais sobre o que é ser criança e ser adulto, além do verdadeiro sentido da vida.
Enfeitado por singelas ilustrações e com uma linguagem cativante, o livro traz motivações de superação, amor, fé e consciência ecológica que se encaixam perfeitamente nas canções criadas por Sheila, mensagens que soam ainda atuais. E, para reforçar a proximidade com o original, Fernanda Chamma, que assina a direção artística, orientou que os figurinos (inspirados na moda francesa do início do século passado) recebessem uma tonalidade de cor como se fossem pintados com aquarela, repetindo o estilo utilizado por Exupéry. “Pedi que tudo fosse pintado à mão, assim como as telas dos cenários, para reproduzir tanto a simplicidade como a elegância do traço do escritor”, justificou.
PACIFISTA
Qualidades definem bem Saint-Exupéry, um pacifista que sofreu por seus ideais. O Pequeno Príncipe, por exemplo, foi escrito em momento marcado pela desolação, quando o autor vivia exilado em Nova York, desejoso de servir à França na Segunda Guerra e retomar seus voos – era uma paixão, a ponto de, mesmo tendo sofrido 11 quedas, nunca ter desistido de voar. O problema é que Exupéry não estava preparado para pilotar os modernos aviões de combate. E, para piorar, acumulava inimigos tanto entre os defensores da República de Vichy, simpatizantes dos nazistas, como dos gaullistas – o escritor era um desafeto de Charles de Gaulle.
“Exupéry escreveu para a criança que vive em cada adulto”, observa a atriz Bruna Guerin, que vive a Rosa, graciosa personagem que ajuda o Pequeno Príncipe (papel interpretado por quatro atores mirins que se revezam a cada sessão) a contar a sua jornada pelo planeta e a descobrir a ingenuidade infantil que ainda existe dentro de cada pessoa. “Rosa é inspirada em Consuelo, que foi casada com Exupéry, um arquétipo do amor exigente.”
No papel do Aviador, o ator Thiago Machado encontra referências no próprio escritor. “É um personagem que aponta a ganância das pessoas e como cada um pode lidar consigo mesmo”, explica ele.
Outro personagem de forte presença é a Serpente, que representa a morte e, apesar de falar por enigmas, diz tudo com franqueza. Com sua habilidade circense, Natasha Jascalevich foi escolhida para o papel. “Ela usa as mãos coreograficamente, ao estilo Bob Fosse, que viveu o mesmo papel na versão cinematográfica dirigida por Stanley Donen, em 1975”, conta Fernanda Chamma. “É nossa homenagem a Fosse.”
O Pequeno Príncipe, o Musical
Teatro Villa-Lobos. Shopping Villa-Lobos. Av. Drª Ruth Cardoso, 4.777. 6ª, 21h. Sáb., 16h e 20h. Dom., 15h e 18h. R$ 50 / R$ 260. Até 18/12.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.