• Os vendedores de ilusões

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  • 25/09/2022 10:47
    Por Ataualpa A. P. Filho

    Andam dizendo por aí que “ideologia não enche barriga de ninguém”. Isso é verdade. Mas é preciso saber também que “nem só de pão vive o homem”. Ideologia não é pão, mas ajuda na alimentação do senso crítico. A vara de pescar também não enche barriga, mas é por meio dela que se pega o peixe que serve de alimento. A educação também não enche barriga, mas, por intermédio dela, é possível qualificar a mão de obra. Aprimora-se profissionalmente para ter mais chance no mercado de trabalho. E, com isso, obter melhores salários para sustentar a família dignamente.

    As falácias são jogadas ao vento para obnubilar, isto é, obscurecer a verdade, para impedir o povo de enxergar a realidade. E assim, não ter um posicionamento crítico. São visíveis os mecanismos de alienação. Entre eles, encontram-se a desqualificação do processo educacional, a desvalorização do pensar a sociedade na paridade de direitos e deveres, fundamentados em princípios éticos, morais, tendo em vista a prática da cidadania na reciprocidade do respeito.

    A consciência da responsabilidade social se manifesta desde a conservação da limpeza das ruas até a prestação de contas dos impostos arrecadados. O erário é para uso coletivo, ou seja, é para ser empregado em benefício de todos, não de uma minoria, de uma elite, de um grupo que se sente privilegiado e merecedor de mordomias, desviando assim os bens públicos em proveito próprio.

    Qualquer país que esteja a caminho da democracia precisa de uma carta magna, de uma constituição, de normas que estabeleçam diretrizes para uma convivência social harmoniosa. Nenhuma constituição é elaborada sem fundamentações ideológicas. Aqui cabe definir ideologia como um conjunto de ideias, princípios filosóficos, políticos, sociais que norteiam o pensamento de uma sociedade, de um grupo ou até mesmo de um indivíduo. Ainda é necessário instituir regras para que haja uma convivência pacífica com delimitação de direitos e deveres. Ainda não estamos em um estágio de consciência social em que cada cidadão se autodisciplina para que a liberdade seja exercita plenamente sem violações de direitos.

    Ideologia não é a constituição. Mas esta não se isenta de um princípio de valores que emergem da cultura de um povo. Por essa razão, não há como “importar” estrutura ideológica. O que funciona ou funcionou em um país não tem a garantia de que funcionará em outra nação. Em síntese, não há como tratar a ideologia como algo “pré-moldado”. É preciso levar em consideração a cultura do povo.

    Tentar impor um regime de forma ditatorial consiste em uma violação dos princípios democráticos. Por isso que é preciso reconhecer a soberania de um processo eleitoral, uma vez que as urnas refletem a voz do povo. A manipulação da opinião pública é um ato ilícito. Tentar enganar um povo com falsas promessas é um desserviço à sociedade. Os reflexos da demagogia são visíveis na estrutura corrupta que lesa a Pátria. Atualmente o “fazer política” tem se revelado em um jogo de interesse. O “toma-lá-dá-cá” não é uma proposta ideológica. Consiste em uma prática viciosa nociva aos princípios éticos.

    Poucos são os candidatos que se posicionam defendendo as propostas do partido a que pertencem. A maioria se apega a propostas pessoais, nem coloca a sigla partidária nas propagandas. A compra de votos é algo frequente. Como não há compromissos ideológicos, as conveniências eleitoreiras favorecem as coligações. Os coligados hoje, amanhã, podem estar em lados opostos como já estiveram em tempos passados.

    A fidelidade ideológica dificulta essa prática camaleônica refletida em contradições e incoerências. Defendem hoje o que antes criticavam. E, sem menor constrangimento, negam o que antes afirmavam. E todo esse mecanismo tem um objetivo bem definido: o poder. Beneficiar a si e a correligionários com dinheiro desviado dos cofres públicos. Patriotismo é não lesar a pátria. Mas, antes de ser patriota, é preciso ser humano e reconhecer que ninguém nasce para morrer de fome, nem para viver escravizado. O amor ao próximo não tem partido.

    Para finalizar, trago aqui também uma reflexão que está no livro “Caderno H” de Mario Quintana, com o título “O problema eterno”:

    “Livrar o povo dos demagogos, sim… Mas como livrar Deus dos teogogos?”

    – Mestre Mario, Deus sabe quem é “joio” e quem é “trigo”…

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