Minha bisavó fez a revolução industrial
Há algum tempo escrevi um artigo: “Sou uma empresa e não sabia” e apresentei técnicas que são usadas nas indústrias e que utilizamos no dia-a-dia. Percebi que várias técnicas nasceram nas casas, ou seja, foram nossas bisavós que criaram. E essas técnicas migraram para as indústrias e empresas.
Quando a dona de casa faz uma salada, ela escolhe os ingredientes, coloca na pia, corta um após o outro e assim por diante. Vejam: somente a quantidade a ser utilizada de cada item é levada para a bancada, local da produção, e é preparada.
Nas indústrias, até o século XX, não era assim. A fábrica era montada de forma que existiam vários setores: o setor de corte de tomate, corte de alface, corte de cenoura e assim por diante. E não era cortada somente a quantidade que seria utilizada. Eram definidos lotes para produção. E cada um desses setores tinha uma área onde eram armazenados os itens cortados.
Logo, para produzir a salada, era preciso que todos os itens de cada lote fossem cortados, para que, então, um pouco de cada um desses fossem levados para a cozinha da fábrica. Com isso havia um estoque grande de itens produzidos sem utilização imediata e, consequentemente, falta de espaço para armazenamento e custo elevado. Somente em meados de 1980 é que essa forma óbvia de produção começou a ser utilizada e as fábricas adaptaram seus layouts e fluxo de produção.
Vamos a outro exemplo? Quando alguém liga para nossa casa e deixa algum recado para alguém que não está no momento. Como procedemos? Nós anotamos o recado e o colocamos em local onde, assim que a pessoa chegar, irá ver. Ou pertinho do telefone ou em um imã na geladeira. Não é assim?
No caso de companhias de telefone, quando ligávamos para relatar um problema, os escritórios eram divididos por departamento, cada um em uma sala ou setor.
Havia o setor de recebimento da reclamação, outro que programava o serviço e o setor que efetivamente executava o trabalho. E como funcionava esse processo? O cliente ligava e o primeiro setor atendia, anotava a reclamação em um formulário e o colocava em uma caixinha de “saída”. E ia virando uma pilha. Até que, geralmente duas vezes por dia, o boy interno passava e pegava as pilhas das caixas de “saida” e as ia distribuindo para as outras salas, colocando-as nas caixas de “entrada”. E assim por diante até que o papel ou ordem de serviço chegasse à rua.
Cada atendimento demorava um ou mais dias para estar pronto para ser executado. Ou seja: a informação não ficava perto de quem iria utilizá-la.
Então, por volta da década de 1980, tivemos a brilhante ideia, baseada no que víamos em casa: vamos colocar as mesas das pessoas uma ao lado da outra. Assim quando um formulário era preenchido, imediatamente era passado para a outra mesa, sem que este necessitasse ficar horas esperando em uma caixa de “entrada” ou “saida”. Com essa simplicidade, em menos de uma hora a ordem de serviço estava pronta para ser executada.
Nossas vidas são bem parecidas com as vidas nas empresas. Interessante é notar como esse nosso dia-a-dia elementar custou a chegar nas empresas. Mas, podemos perceber claramente, que o nosso modo de fazer as coisas intuitivamente é a base da revolução industrial que ocorreu em nossa história. E graças a nossa bisavó! mairom.duarte@csalgueiro.com.br