• Síndrome de Irlen

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  • 16/04/2018 08:45

    Às vezes, penso que o tempo existe para levar o homem a refletir sobre as suas atitudes. O amanhã talvez seja o reflexo do que se faz no presente. E neste, provavelmente, esteja aquilo que se plantou no passado. Digo isso, porque fui surpreendido pela carta de um ex-aluno, que já não estava mais registrado em minha memória. Ele escreveu:

    “Engraçado como as coisas são, atípica tarefa deste domingo de manhã, dia 8 de abril.

    Escrever pra ele, o senhor Ataualpa, um dos poucos professores que me lembro da época de Liceu, meu segundo professor de Literatura, não me recordo ao certo se da sexta ou sétima série. Além de lembrar do mesmo pelo seu nome de origem indígena. Outro aspecto sempre me chamou atenção, o seu apreço pela Literatura, não era aquele professor pra preencher lacuna, ele realmente amava o tópico, infelizmente paixão essa que não se transmitira por todos os alunos, pelo menos não pra mim, não naquela época.

    Ler um livro era uma tarefa árdua, acompanhar a aula então, seja no quadro branco (desses que refletem bastante as luzes) ou seja acompanhando um texto xerocado, era algo que demandava muita atenção e na maioria das vezes, mal estar pro resto do dia. Era difícil ser um bom aluno sob tais condições, e era muito contraditório ter tanto sofrimento pra algo que deveria ser prazeroso, o ato de aprender e conhecer coisas novas.”

    Esse ex-aluno é portador da Síndrome de Irlen, “uma alteração visuoperceptual, causada por um desequilíbrio da capacidade de adaptação à luz que produz alterações no córtex visual e déficits na leitura.”

    No dia 07/04, na Academia Petropolitana de Educação, participei do encontro “Conversa sobre Alfabetização”, no qual, a professora Sandra Reis falou do “Otimismo Ativo em Sala de Aula, segundo Feuerstein”. 

     Houve um profícuo debate, no qual se acentuou a questão da modificalidade a partir da atuação do educador como mediador do crescimento interior que propicia o otimismo ativo diante da vida, que “não espera acontecer”.

    Após esse momento, ela falou sobre a Síndrome de Irlen, que eu desconhecia. Mencionou o caso do sobrinho dela, que superou tal problema com o uso de óculos específicos que corrige as distorções. Isso o ajudou muito, melhorou o rendimento dele no trabalho.

    Depois da palestra, ela o encontrou, comentou o êxito dos debates. Quando ela citou-me, ele disse que tinha sido meu aluno, pegou o meu e-mail e enviou a citada carta. Nesta, menciona a vitória sobre a síndrome e os problemas que hoje enfrenta por usar óculos escuros em ambientes fechados ou à noite, pois ouve frequentemente comentários irônicos.

    “Apesar das vitórias e das conquistas, principalmente intelectuais, tive inúmeros problemas de âmbito social, era um frequentador assíduo das casas de festas e principalmente dos bares de Petrópolis, mas isso se tornou algo maçante, devido aos olhares e julgamentos alheios, já fui confrontado incontáveis vezes pelo uso dos óculos, algumas pessoas com piadas sobre o sol e outras um pouco mais agressivas, me surpreendeu o fato de que, em raros casos, tive ainda mais repressão após explicar a situação, isso já causou muita revolta.”

    Igor, obrigado pelo ensinamento. Certifiquei-me, mais uma vez, que a sala de aula é uma travessia. Sempre temos um programa a cumprir, “matéria pra dar”, repetimos a mesma informação, mas a formação é um processo contínuo, como as ondas do mar que encontram a areia e os rochedos em movimentos imprevisíveis. A aprendizagem é ato recíproco que nos modifica. Crescemos por dentro.

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