Professora Maria da Glória, a Magnífica
Na madrugada da última terça-feira, dia 10 de abril, aos 87 anos de idade, faleceu a insigne professora Maria da Glória Rangel Sampaio Fernandes. Foi ela, seguramente, uma das mais importantes personalidades da Educação em Petrópolis na segunda metade do século XX. Filha de numerosa família (18 filhos), gerada por seus pais José Sampaio Fernandes e Íris Rangel Sampaio Fernandes, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 04 de agosto de 1931.
Desde criança passou a residir em Petrópolis, tendo estudado, do pré-escolar até o equivalente ao Ensino Médio, no Colégio Santa Catarina. Em 1952, concluiu o Bacharelado em Línguas Neolatinas na PUC, do Rio de Janeiro, onde, no ano seguinte, obteve a Licenciatura. Estudou na Universidade de Paris, onde fez cursos de Literatura Francesa Clássica e Contemporânea, além de Fonética Francesa.
Obteve o título de Mestre em Educação, pela Universidad Autonoma de Guadalajara, do México. Ao longo de seus mais de 60 anos dedicados ao magistério, a Professora Maria da Glória teve uma atuação marcante e decisiva no âmbito da Universidade Católica de Petrópolis. Ainda em 1953, no exame vestibular para o ingresso da primeira turma da Faculdade de Direito, ela integrou a banca examinadora da prova de Língua Francesa. No ano seguinte, em 1954, quando da criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Maria da Glória passou a integrar o corpo docente da instituição, iniciando uma brilhante carreira que culminou com sua nomeação para o cargo de Reitora, que exerceu durante três mandatos sucessivos (1987 a 1999).
Antes de ascender ao cargo máximo da Universidade, Maria da Glória havia exercido inúmeras outras funções de direção, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, no Instituto de Artes e Comunicação, além de ocupar a Diretoria Geral de Pós-Graduação e a Pró-Reitoria Comunitária. Teve ela um papel decisivo na defesa da autonomia e da identidade da Universidade, num momento de grave controvérsia enfrentado pela instituição, nos anos que se seguiram ao término de seu mandato.
Em reconhecimento por sua integridade e dedicação, a UCP lhe conferiu o título de Reitora Emérita, em 2004. Paralelamente a sua atuação no Ensino Superior, Maria da Glória exerceu o magistério em diversas instituições educacionais da cidade, tendo ocupado o cargo de Diretora do grupo escolar que é o atual Colégio Estadual Dom Pedro II. Também de grande relevância foi sua atuação como professora no Seminário Diocesano Nossa Senhora do Amor Divino.
Na dimensão religiosa, Maria da Glória foi reconhecidamente uma figura exemplar: mulher de fé inabalável, de profunda fidelidade e dedicação à Igreja Católica. Manteve-se celibatária, dedicando sua vida integralmente ao serviço da educação, num autêntico e modelar testemunho de vida cristã. Sua personalidade, ao mesmo tempo forte e terna, alinhava rígida austeridade disciplinar e ortodoxia doutrinal e ética com uma generosidade e sensibilidade incomensurável. Era respeitada e querida por seus alunos, colegas professores e colaboradores na Universidade.
São inúmeros os relatos de estudantes universitários que, impossibilitados de prosseguir nos estudos devido a dificuldades financeiras, puderem concluir seus cursos com mensalidades custeadas com recursos provenientes do próprio salário da memorável professora. Neste momento de despedida, é devida homenagem de gratidão a esta grande educadora, que com toda justiça, é merecedora do designativo que tradicionalmente tem sido usado para o tratamento devido aos dirigentes máximos de Universidades: Maria da Glória, a Magnífica!