• Na Semana da Memória, Verdade e Justiça, general faz declarações que geram polêmica

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  • 08/04/2018 00:10

    Na semana em que o Brasil lembrava os 54 anos do golpe militar, foi realizada em Petrópolis a 3ª edição da Semana da Memória, Verdade e Justiça, organizada pela Comissão Municipal da Verdade (CMV). Nesta mesma semana, o general do Exército, Eduardo Villas Bôas, fez declarações em seu Twitter, às vésperas de um importante julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), que foram alvo de muitas críticas dentro e fora do Brasil. O momento não parece ser mais oportuno para a cidade histórica, que teve em seu currículo fatos históricos nem sempre tão memoráveis (como um local clandestino de tortura no Caxambu, a Casa da Morte, e uma rua em homenagem ao agente da CIA que ensinava técnicas de tortura a agentes brasileiros), continuar o trabalho de preservação da memória e revelação da verdade.

    A manifestação do general, em nome do Exército, na última terça-feira, foram vistas por juristas, advogados, professores e jornalistas como intimidação sobre o STF, ameaça velada que ficou revelada no trecho “(…) bem como se mantém atento às suas missões institucionais”. As missões às quais o general se referia não chegaram a ser esclarecidas. Se, há 54 anos um golpe foi dado, o fato é que hoje não se chega a tanto (mas, em certos contextos, a ameaça de um golpe não seria mais eficaz que o próprio golpe em si?). Em todo caso, continua valendo a máxima de que “quem bate esquece, quem apanha não”. Não dá para flertar com o perigo.

    Para o historiador e colaborador da CMV, Diego Grossi, o que mais preocupa em atitudes como a do general esta semana é a naturalização da postura das Forças Armadas Brasileiras em interferir nos processos políticos do país. “É uma deformação muito grande, pois em qualquer lugar do mundo cabe às forças armadas defender o país de ameaças estrangeiras e não interferir em processos internos. Isso é reflexo ainda dos anos que vivemos de ditadura militar”.

    De acordo com o integrante da Comissão Municipal da Verdade, Roberto Schiffler, a organização viu as declarações do general com “repúdio total” e uma afronta ao ideais da democracia, “uma democracia que já se apresenta, desde 2016, fragilizada, com o afastamento da presidente Dilma. Vemos com muita preocupação e atitudes como essa só demonstram como a realização da semana é importante, para que a gente mostre e relembre o que aconteceu, para que nada parecido aconteça novamente”, disse.

    Petrópolis teve rua em homenagem a agente da tortura

    A 3ª edição da Semana da Memória, Verdade e Justiça foi aberta com uma audiência pública no Cefet que revelou detalhes sobre a presença da CIA, serviço de inteligência dos Estados Unidos, em Petrópolis, em 1965, por meio do agente Dan Mitrione, que ensinou técnicas de tortura em toda a América Latina. De acordo com o historiador e colaborador da CMV, Diego Grossi, Dan Mitrione esteve na cidade à convite do jornalista e comissário da Polícia Civil, na época, Sylvio de Carvalho da Silva, para ministrar cursos de atividade de repressão policial, com aulas inclusive no Museu Imperial.

    “Depois de ter sido assassinado no Uruguai, Dan Mitrione recebeu uma homenagem em Belo Horizonte e em Petrópolis, na Câmara dos Vereadores, por conta de seus laços de amizade – conforme historiadores já haviam identificado”, explicou Diego. Em 1970, o vereador Paulo Ribeiro propôs um projeto de lei, que foi aprovado, dando o nome de Mitrione a uma rua de Petrópolis, localizada à altura do número 565 da Avenida Barão do Rio Branco, no Centro. Em 1992, o vereador Paulo Pires mudou o nome do logradouro para Rua Aluizio Palhano (vitimado na Casa da Morte durante a Ditadura Militar). E em 1995, o vereador Antônio Gonçalves alterou o nome do logradouro para o atual, Rua José Vasco.

    Ao longo da semana, também houve rodas de conversas sobre a presença de Inês Etienne na Casa da Morte, a pré-estreia do filme “Araguaia! Presente”, discussões sobre a conjuntura política atual e apresentações musicais. Cerca de dez palestras sobre a ditadura foram realizadas em escolas e universidades que solicitaram a presença da CMV.


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