Morte de filha de guru de Putin eleva risco de escalada na Guerra da Ucrânia
A morte de Darya Dugina – filha do ideólogo Alexander Dugin, apontado como o guru do presidente russo, Vladimir Putin – na noite de sábado (20), em Moscou, ampliou o risco de uma escalada no conflito entre Rússia e Ucrânia.
O governo russo investiga a explosão do carro de Darya quando ela saía de um evento do pai na capital russa. Aliados de Putin acusaram a Ucrânia de estar por trás do atentado, que aparentemente tinha Dugin como alvo e foi premeditado, segundo a polícia.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, evitou responsabilizar a Ucrânia, mas sinalizou retaliações caso o envolvimento seja confirmado. “Se a Ucrânia foi de fato responsável, então temos que estar falando sobre uma política de terrorismo de estado sendo realizada pelo regime de Kiev”, disse. “Estamos aguardando os resultados da investigação.”
Hostilidade
Para o analista político Abbas Gallyamov, ex-redator de discursos de Putin, o ataque foi um ato de intimidação dirigido a partidários do Kremlin. “É um ato simbólico, demonstrando que as hostilidades entraram no território da Rússia”, disse. “Não só a Crimeia está sendo bombardeada, mas ataques terroristas já estão sendo realizados na região de Moscou.”
Do lado ucraniano, o governo do presidente Volodymyr Zelensky negou envolvimento com o ataque. “Posso garantir que não tivemos nada a ver com isso”, disse o assessor de Zelensky, Mykhailo Podolyak.
Apesar da negativa, o serviço secreto alertou ter iniciado “o processo de destruição do mundo russo”. “Dugina não era um tópico de interesse dos nossos serviços especiais, mas posso dizer que o processo de destruição do mundo russo começou e ele será destruído por dentro”, disse o porta-voz Andrei Yusov.
O ataque ocorreu quando o Kremlin está sob pressão pelos últimos ataques pontuais organizados pela Ucrânia atrás das linhas inimigas, primeiro em território ocupado pela Rússia no Leste e depois na Península da Crimeia. Aliados de Putin – já irritados com os recentes ataques de sabotagem ucranianos na Crimeia – rapidamente foram às redes sociais com alegações de que a Ucrânia estava por trás da morte de Darya Dugina.
Embora ainda não esteja claro como – ou se – Putin responderia à morte de Dugina, os pedidos de vingança destacaram como os apoiadores mais fervorosos da invasão ucraniana ainda podem contribuir para uma escalada na resposta russa ao conflito.
“Para o Kremlin, qualquer pessoa ideologizada pode ser útil, e isso é perigoso”, disse Marat Guelman, um especialista político russo agora baseado em Montenegro que assessorou o Kremlin nos primeiros anos do governo de Putin.
O atentado
O Comitê de Investigação da Rússia – a versão do país da Polícia Federal – disse em um comunicado que Darya morreu no local da explosão, no distrito de Odintsovo, uma área nobre dos subúrbios de Moscou. Imagens e vídeos que circulam nas redes sociais russas mostraram um veículo em chamas e um homem que parecia ser Dugin andando de um lado para o outro, com as mãos na cabeça, mas essas imagens não puderam ser verificadas de maneira independente.
Zakhar Prilepin, um popular escritor conservador, disse em um post em seu canal Telegram que Dugin e sua filha estavam em um festival nacionalista no sábado, mas saíram em carros diferentes. O evento tinha um aparato de segurança relativamente baixo e não havia verificações de segurança na entrada do estacionamento onde o carro dirigido por Dugina estava estacionado.
Jovem radical
Darya tinha 29 anos e era jornalista. Compartilhava as visões ultranacionalistas e conservadoras do pai e, assim como ele, era alvo de sanções aplicadas pelos Estados Unidos e o Reino Unido.
Darya Dugina contribuía frequentemente com a desinformação em relação à Ucrânia e à invasão russa em várias plataformas online. Em uma entrevista em março, Dugina disse que o leste da Ucrânia provavelmente aceitaria um “Império Eurasiano” com base na fé religiosa e na nacionalidade, como defende seu pai e o próprio Putin.
(Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.