A difícil arte de prever
William Waack, no final de seu último programa na Globo News, de 09/01/2016, fez um comentário elogioso sobre o livro “Quanto acerta quem faz previsão?” O autor, americano, fez um levantamento minucioso das previ-sões feitas em várias áreas, em especial em economia e política, e o que acabou acontecendo de fato. O resultado não foi nada favorável a quem se dedica ao ramo. Erraram em 75% das situações analisadas. Faz lembrar as previsões do tempo no Patropi, por volta de 1960, em que erraram 60% das previsões. Teria sido preferível anunciar o oposto do previsto: teriam errado bem menos, ou seja, 40% delas. O autor ilustra a questão com a imagem de um chimpanzé atirando dardos num alvo. E afirma que a turma que faz previsões conseguiu errar mais que o dito cujo que tem uma margem de acerto superior a 25%.
Com base no exemplo citado, ele perguntou aos seus três entrevistados se ganhariam do chimpanzé no que haviam dito sobre o futuro ao longo do programa. O primeiro deles afirmou que, provavelmente, perderia para o chimpanzé. O segundo foi mais cauteloso e disse que se sairia melhor pelo menos para o que afirmou sobre o que ocorreria no Oriente Médio. E o terceiro foi mais habilidoso: a longo prazo, o imponderável cobra pedágio, e admitiu que o chimpanzé levaria a melhor, mas que, a curto prazo, apostava no próprio taco dada a dificuldade de mudanças bruscas ocorrerem. Ele estava dizendo que o futuro próximo costuma andar de mãos dadas com o passado recente.
Mas será que é tão difícil mesmo prever o futuro? A rigor, depende da qualidade do material utilizado para fazer a previsão. Na área política, merece registro o que vinha dizendo faz muito tempo o filósofo Olavo de Carvalho sobre o Foro de SP e sobre o próprio PT. Na área da administração e da economia, Peter Drucker deu banho no macaco. Vejamos as razões dos acertos.
É muito citado o caso do livro Mein Kampf (Minha Luta) de Adolf Hitler, onde ele dizia minuciosamente o que faria ao assumir o governo. Ninguém o levou a sério. E as potências ocidentais, França e Inglaterra em especial, pagaram um alto preço por ignorar o que estava ali escrito. Perderam a oportu-nidade de cortar o mal pela raiz na invasão dos sudetos por Hitler, quando o poderio nazista ainda era incipiente.
Olavo de Carvalho, talvez baseado nesse precedente histórico, fez o dever de casa e foi ler as atas dos diversos encontros do Foro de SP desde 1990. Existem, no caso, dois níveis de comunicação: uma externa, enganosa, para o grande público; e outra interna, que deixa claro o que vai ser feito. O que poderia parecer inicialmente uma visão paranoica do filósofo se mostrou verdadeira: a ocupação do aparelho de Estado pelo partido para levar adiante a luta contra o imperialismo americano, contra as políticas neoliberais pró-mercado e ainda estabelecer o controle social dos meios de comunicação. Isso mesmo: o velho sonho da esquerda gramsciniana de ter como critério de verda-de o que serve ao partido, ou seja, ao PT. A liberdade e a verdade factual não entram na equação. O resto da história todos nós estamos sentido na pele e no bolso no que deu esse delírio ideológico que bateu de frente com a realidade.
Peter Drucker, por sua vez, soube fazer previsões corretas. Ele era adepto de inventar o amanhã, a melhor maneira de acertar as previsões. Mas também foi suficientemente perspicaz para detectar no presente as digitais do futuro. Ele previu com acerto o imenso mercado que iria surgir em termos de serviços e produtos resultantes do aumento da longevidade das pessoas. Deu também, com sucesso, uma preciosa dica à GE para se especializar em um ou dois produtos, os mais rentáveis, de seus vários segmentos de mercado. Pois é, nem sempre o chimpanzé leva a melhor.
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