• Série retrata dilemas médicos durante Katrina

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  • 15/08/2022 07:50
    Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão / Estadão

    A maior parte dos filmes-catástrofe inspira-se em um cenário possível, mas não necessariamente que aconteceu. Cinco Dias no Hospital Memorial, que tem seus três primeiros episódios no ar na Apple TV+, com outros cinco estreando semanalmente às sextas, é um relato do que se passou na instituição depois que o furacão Katrina atingiu New Orleans, em 2005.

    A série, baseada no livro-reportagem de Sheri Fink, acompanha cinco dias com poucos resgates e nenhuma coordenação dos administradores ou de esferas governamentais em que médicos, enfermeiros e funcionários do Memorial lidaram com destruição, falta de energia, água e comida e dificuldades de tratar os pacientes graves. O resultado foram 45 mortos, muitos em circunstâncias suspeitas que fizeram com que um inquérito fosse aberto para apurar responsabilidades. Em específico, da dra. Anna Pou (interpretada por Vera Farmiga), acusada de matar os pacientes que não poderiam ser evacuados.

    “Eu já fiz alguns filmes-catástrofe, mas aqui chegamos à conclusão de que seria um thriller sobre o desastre que se metamorfoseia em um drama sobre ética médica”, explicou Carlton Cuse (Lost), criador da minissérie junto com John Ridley (vencedor do Oscar pelo roteiro de 12 Anos de Escravidão). O modelo era Chernobyl, a série de Craig Mazin que parte da tragédia nuclear e vira um drama sobre como a política e o sistema soviético fizeram com que a situação fosse muito pior.

    No caso do Furacão Katrina, as razões podem ter sido diferentes, mas a calamidade foi muito maior graças à falta de ação da administradora do hospital e das várias instituições governamentais, incluindo a presidência ocupada por George W. Bush na época. Ridley se lembra de ver na televisão a enorme quantidade de pessoas encurraladas e desesperadas por ajuda. “A maior parte eram não-brancos de comunidades marginalizadas”, disse. “Fosse outra comunidade, fossem outras pessoas, teria sido tão ruim? E eu continuo com essas mesmas questões. Porque as coisas que vimos não foram acidentes. Elas eram ‘preveníveis’.”

    HERÓIS E VILÕES

    Cinco Dias no Hospital Memorial era a chance perfeita de Ridley fazer justamente o que mais gosta: usar dramas pessoais para explorar dilemas morais e destacar falhas sistêmicas. “Eu gosto de histórias ambíguas, em que não há uma resposta certa. Não há heróis nem vilões claros, só pessoas sendo pessoas”, disse o criador e roteirista. Para isso, ele conta com um elenco forte encarnando humanos frente a decisões impossíveis.

    A pandemia, que atingiu desproporcionalmente pessoas não-brancas e pobres, é uma prova de que as falhas sistêmicas são difíceis de corrigir. “As lições não são aprendidas”, disse. “Não quero ser cínico, mas nada muda. Eu não perco as esperanças, mas deixo para os mais jovens a tarefa de se engajarem na transformação.”

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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