O embrião da Semana de 22
Aqueles que cantam loas aos princípios ditados pela “Semana de ´22”, não conhecem sua real origem, que partiu de um revolucionário fanático italiano – Filippo Tommaso Marinete, em 20.2.1909, que se espalhou célere pelo mundo. Infelizmente, com espaço escasso, um esboço do “Manifesto Futurista” – é assustador:
1 – A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.
2 – A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto-mortal, o bofetão e o soco.
3 – Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostrar-se diante do homem.
4 – Nós estamos no promontório dos séculos! Por que haveríamos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Nós já estamos vivendo no absoluto e já criamos a eterna velocidade onipresente.
5 – Nós queremos glorificar a guerra, única higiene do mundo, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.
6 – Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de toda natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.
7 – É da Itália, que nós lançamos pelo mundo este nosso manifesto de violência arrebatadora e incendiária, com o qual fundamos hoje o “futurismo”, porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de professores, de arqueólogos, de cicerones e de antiquários. Já é tempo de a Itália deixar de ser um mercado de belchiores. Nós queremos libertá-la dos inúmeros museus que a cobrem toda de inúmeros cemitérios.
Aqui, influenciados pela corrente futurista, negava-se a posição favorável às guerras. Chamado de “poeta futurista” em artigo de Oswald de Andrade, Mário de Andrade admitiu “pontos de contato com o futurismo”, mas negou o título, temendo ser considerado fascista.
De Vasco de Castro Lima em seu livro “O mundo Maravilhoso do Soneto” : “Queriam fazer poesia com revolução, destruindo todo o regime precedente para se construir tudo de novo e em sentido contrário – o princípio preconizado pelo anarquista Filippo Tommaso Marinetti Mas ninguém se lembrava que revolução pode produzir ditadores, políticos, oradores, agitadores, menos grandes poetas, grande poesia que precisa da ordem e da paz e do amor para frondejar.” Referindo-se ao mesmo período, Édison Lins escreveu: “Que restam de tantos poemas e de tantos poetas?
Há memória de algum verso, uma frase poética de qualquer figurante desses extintos nomes?” O JB de 21.7.71, publicava de Murilo Araujo : “O mundo está ameaçado de desaparecer por falta de poesia. O que há por aí são amontoados de palavras sem sentido, que não enternecem, não comovem. Depois de duas guerras mundiais, a humanidade perdeu a alma”. Antes, havia diferença entre prosa e poesia – hoje é tudo igual, textos insossos no lugar do lirismo, criando facilidades sem poesia. Cada um escolhe o caminho, fazendo da prosa, poesia.
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