• Com vontade de voar

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  • 07/03/2018 12:50

    No meu aniversário, ocorrido no mês de fevereiro, recebi de meu filho Sílvio Rafael um presente significativo. Tem registro em minha vida os presentes de Silvio Rafael, invariavelmente representados por livros. Conhece ele o meu amor pela leitura em minha constante busca de conhecimentos. O livro versava sobre a vida e obra de Will Eisner, iluminando meus já cansados e comprometidos olhos com uma leitura sem intervalos, devorando todas as págnas da obra, apresentação, notas e tudo o mais e descobrindo maravilhosas entrelinhas.

    Will Eisner foi um dos mais talentosos quadrinistas do mundo, criador do herói mascarado The Spirit e inovador da arte das histórias em quadrinhos com as “graphic-novels”, verdadeiras obras-primas do desenho, além de autor do livro “Quadrinhos e Arte Sequencial”, fruto do curso que ministrou na Escola de Artes Visuais de Nova Iorque. Fecunho criador de ideias revolucionárias, Will Eisner foi um gênio da arte. Seus alunos e colaboradores hoje são os mais destacados artistas do universo dos “comics”.

    A leitura da vida de Eisner e a imediata releitura, em minha coleção de revistas em quadrinhos, de muitas obras do artista, remeteu-me aos dias da infância e da adolescência, diante das dificuldades nos estudos das ciências exatas e o fascínio pela literatura, pelas artes em geral, tempos de leituras das principais obras universais e nacionais e, meio escondido, as revistas de histórias em quadrinhos, que amava e até ensaiei a criação de minhas revistas, com meus heróis, em toscos e iniciantes desenhos. Meu pai, leitor compulsivo, entendia que os quadrinhos eram desleais concorrentes com os livros, acostumando os jovens à rapidez de tal leitura com imagens, deles retirando o gosto pela criação das imagens propiciada pela leitura de textos não ilustrados. Porém meu pai não proibia que lesse quadrinhos e os guardasse, como jóias, cada exemplar adquirido e lido.

    Naqueles idos soube ser criança, nada sabia sobre adolescência, permanecendo criança sonhadora até iniciar-me na carreira bancária e ser convocado ao serviço militar.

    Amava – e amo – os quadrinhos, admirando o trabalho de cada artista e hoje sob consciência da evolução dessa arte mágica, lembro de como eram rústicos os primeiros desenhos do Superman (Stan Lee) ou do Batman (Bob Kane), como exemplos e que hoje ganharam ilustradores extraordinários. Colecionei – e os conservo em minha biblioteca – as revistas da Editora Brasil América; “O Herói”, “Ai Mocinho”, “Edição Maravilhosa”, “Superman”, “Capítão Z”, “Tarzan” e outras e de mais editoras : ”O Pequeno Xerife”, “Xuxá”, exemplares d´”O Fantasma”, “Mandrake”. “Flash Gordon”, “Tim e Tok”, “Brick Bradford”, “Principe Valente” (do extraordinári Hoggart), enfim, que bom recordar e voltar àquelas revistinhas que eram o meu mundo de sonho e perspectiva, desejando voar ao infinito, livre das amarras que me prendiam por aqui.

    O que ficou daqueles quadrinhos, foi o lado do melhor exemplo, da luta no caminho da vitória, naquelas figuras heróicas e sobrenaturais – mesmo representadas em toscos desenhos – que incentivavam ao combate de todo o mal, semeando a paz e a felicidade.

    Saudoso, cantarolo verso de Luiz Vieira, nosso extraordinário compositor brasileiro : “Sou menino, passarinho, com vontade de voar…”


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