• O gosto pela Matemática

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  • 05/03/2018 12:20

    Há duas semanas, encontrei um amigo em uma padaria, quando tomava um café no fim da tarde, antes de ir para o 3º turno. Nos minutos de prosa que tivemos, ele me falou, com entusiasmo, que o Brasil havia ingressado no Grupo 5 da União Matemática Internacional (IMU, na sigla em inglês). Grupo este que reúne os países que formam a elite da pesquisa no campo da Matemática como Alemanha, Canadá, China, Estados Unidos, França, Israel, Itália, Japão, Reino Unido, Rússia.

    Não fiquei surpreso, porque conheço o excelente trabalho desenvolvido pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) no Rio de Janeiro. Deduzi que esse fato estaria relacionado às pesquisas realizadas no Impa e pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). Isso fica evidente pelos resultados das Olimpíadas de Matemática que mobilizam os estudantes. Mas é preciso dizer que ainda há um árduo esforço a ser concretizado para expurgar o estigma que a Matemática carrega, por ser a disciplina com maior índice de reprovação no Ciclo Básico.

      Entre os 70 países que participaram do último Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), em Matemática, o Brasil ficou na 66ª colocação.  Constatou-se que 70,25% dos estudantes brasileiros que participaram dessa avaliação estão abaixo do nível básico de proficiência. Em Ciência, esse índice ficou em 56,6%; em Leitura, 50,99%.  Tais números revelam o desafio a ser enfrentado, uma vez que a defasagem na qualidade do ensino tem reflexo direto na realidade vivida no País. Fica exposta a disparidade da desigualdade social também no processo educacional. E as críticas maiores recaem sobre a rede pública, porque esta depende das prioridades das autoridades governamentais.

    O tempo de prosa com o amigo foi curto, não deu para comentar com ele o brilhante trabalho realizado pelos educadores da Escola Estadual Augustinho Brandão de Cocal dos Alves, Município a 274 km da capital do Piauí, considerado com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) muito abaixo da média do País, com uma população em torno de seis mil habitantes. 

    Na citada escola, fundada em 2003, o trabalho realizado com a Matemática levou os alunos à conquista de mais de 140 medalhas nas Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas. Fato que ganhou destaque nacional. Em síntese, o Município passou a ter orgulho do trabalho dos 18 educadores que atuam na unidade escolar.

     É válido mencionar que grande parte das famílias dos alunos dessa escola recebem o auxílio do Bolsa Família, por causa da precariedade econômica. E a escolaridade de muitos pais não vai além do Ensino Fundamental, o índice de analfabetismo chega a 50% na cidade.  Mas a partir desse trabalho, horizontes se abriram, porque muitos estudantes concluíram o Ensino Médio e ingressaram em universidades públicas pelos resultados obtidos nas provas do Enem. 

    Já se constata um movimento migratório em Cocal dos Alves em virtude da única escola com Ensino Médio no Município, que atualmente tem 356 alunos. Famílias de cidades vizinhas estão mudando para lá com a esperança de matricular os filhos nesse estabelecimento de ensino.

    Outro fato que merece destaque como reflexo do trabalho da escola está relacionado aos ex-alunos que saíram da cidade para estudar em universidades públicas. Estes são citados como referências do êxito da dedicação aos estudos.

     Não há dúvida, que esse é um claro exemplo de que é possível estabelecer mudanças sociais a partir do trabalho educacional. Considero essa alternativa a mais eficaz no combate à violência.

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