• O livre arbítrio de cada um

  • 02/03/2018 12:14

    Com  raras exceções, as pessoas não dão atenção para a poesia, que vem decaindo, sistematicamente, no interesse e preferência do povo em geral, por falta de essência, uma vez que se transformou em textos muito elitistas e com sentido subjetivo, de difícil compreensão pelas pessoas mais simples, diferente dos antigos e que muitos ainda preservam em seus trabalhos mas que a mídia não lhes dá espaço para chegarem ao público. Os poemas tradicionais, espelham a emoção e a visão do poeta, todo seu sentimento, bem compreensível e aceitos pela maioria anônima, por sua objetividade.

    Revendo meus arquivos, encontrei dois poemas que me levaram para esta crônica, que se completam perfeitamente com a mesma finalidade. Por “coincidência”, dois sonetos: 

    A RESPOSTA DO HOMEM, de Ronald de Carvalho, RJ – 1893-1935:

    “Homem! que queres mais? Dei-te a alegria / que move os mundos harmoniosamente; / e o céu cheio de estrelas, e a poesia / da aurora casta, e a lágrima do poente. 

    Dei-te a floresta espessa, e a pedraria / límpida, a água das fontes, transparente, / e o vinho de ouro, a flor trêmula e fria, / e o silêncio mais sábio que a serpente…

    Dize, que queres mais? O amor, a glória, / a força, ainda mais bela que a Beleza, / a eternidade na hora transitória? 

    Que queres mais, se as tuas mãos têm tudo, / se é toda tua a imensa Natureza? / E o homem olhou a terra, e ficou mudo…”


    LIVRE ARBÍTRIO, de Eugênio de Freitas, MA  – 1921-2008:

    “Cada pessoa traz no nascimento / pendores próprios, dons peculiares, / que desenvolve, num compasso lento, / durante sucessivos avatares. 

    Este prefere um leito pestilento / onde pululam vícios milenares, / enquanto aquele, nem por um momento / sequer, planeja expor-se em tais lugares. 

    Por livre arbítrio, cada qual procura / seguir, ou não, os rumos naturais / que Deus prescreve a toda criatura. 

    Uns sobem menos, outros, muito mais. / Os bons escolhem fontes de água pura; / os maus, só podridão nos lamaçais.”

    Diante de tais poemas que espelham a visão de cada um sobre o comportamento humano, concluímos que o homem se deteriora a olhos vistos, sempre se mostrando ganancioso pelo poder e por bens materiais. É a decadência moral de cada um – com raras exceções – para no aperto clamarem pela ajuda divina pois, alguém já disse, “o homem só se lembra de Deus quando está com uma espada pendente sobre a cabeça, presa apenas por um tênue fio de cabelo”. E é como disse o velho cacique diante da colonização norte-americana, invadindo suas terras – “A ganância do homem branco vai fazer com que ele morra afogado em seus próprios dejetos” – nada mais verdadeiro.

    jrobertogullino@gmail.com


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