• Saída para Minas

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  • 27/02/2018 08:31

    A obra poética de alguns artistas nos deixa referências a terras distantes no tempo e no espaço, ou quem sabe fora do tempo e do espaço, uma memória eterna, um refúgio essencial.

     O poeta Manuel Bandeira assim nos conduziu a viajar até sua simbólica ‘Pasárgada’, onde contava lá poder voltar a qualquer momento, pois era amigo do rei. Carlos Drumond de Andrade por sua vez cantou a ‘Itabira do Mato Dentro’ em Minas Gerais a transmutar terra viva em um apelo poético por excelência, além de espaço geográfico, vislumbrado sobretudo como lugar interior, transcendente, vindo ocasionalmente conviver com o poeta através dum olhar diferente, a exercitar sua imaginação. “…Quer ir para Minas, Minas não há mais José! e agora”? Os avisos rodoviários em Petrópolis parecem multiplicados ad infinitum: "Saída para Minas Gerais''. Em inúmeros pontos da cidade há saídas para Minas, acenos de esperança. Para os felizes mineiros aqui acolhidos, sempre

    haverá uma saída…

    Pelo mesmo percurso iniciado na baía de Guanabara ainda no Brasil Colônia, ao menos uma vez o próprio Imperador D. Pedro I passou: Alto da Serra, Itamaraty, Rio Piabanha, o outrora chamado Caminho de Inhomirim a subir a Serra da Estrela ladeando o Rio Inhomirim”. Ponho-me a imaginar os indígenas observando tropeiros e comerciantes de escravos desbravarem essas trilhas. Nos dias de hoje o percurso transformou-se em uma Caminhada Ecológica.

    A Estrada Real foi fundamental na história de Povoamento e da colonização de vastas regiões do território brasileiro, tornando-se verdadeiros eixos estruturantes na construção cultural de parte da história do Brasil.  Como parte de um roteiro poético de Minas, vejamos as placas de sinalização

    pelo olhar de uma senhora petropolitana:  “Meus pais e minhas mães, todos os caminhos levam a Minas. Aos domingos passeamos pelas tardes cinzentas. As placas insistem em nos mostrar que

    Minas é inevitável. Os juízes de fora nos convidam a uma fuga; fujamos do abandono temporário de implacáveis juízes de dentro.

    Lá vamos nós procurando saídas ruço a dentro, cercados de Minas por todos os lados. Chico carrega sua flauta, outros constatam a previsão de Minas, estará logo ali ? Sobre as placas de metal Minas está aqui e agora, acolá nos acenam com um Belo Horizonte. Para além da bruma Minas convida-nos a pensar nossa História, a transformar o medo dos fantasmas inconfidentes em

    paisagens mis, fartas de verduras, de cenários esperançosos, as setas a indicar fugas com gosto de queijo fresco.

    Minas nossa grande mãe! Nosso doce de leite, nossa angústia afagada, os bambuzais sem fim! Um colo imenso a descortinar serras, vales, rios e lendas. Ricas fauna e flora saborosas, como a irmã materna e sutil que nos resgata em silêncio, imperceptivelmente.”




     

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