• Polícia para quem precisa

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  • 25/02/2018 08:00

    O título desse texto veio da música “Polícia” dos Titãs, que está no ontológico álbum “Cabeça Dinossauro”, lançado em 1986. Nos shows da banda, a música citada é uma das que mais empolga a plateia.

     Na época do lançamento do álbum, o Rio de Janeiro era governado pelo senhor Leonel de Moura Brizola, que tinha como vice-governador o professor Darcy Ribeiro. Este, inspirado nas propostas do educador Anísio Teixeira, foi responsável pela implantação dos Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), conhecidos como Brizolões. A ideia inicial consistia em oferecer educação em tempo integral. A criança ficava na escola das 08:00 às 17:00 h. Nesse período, além do ensino formal, os alunos recebiam alimentação, atividades culturais e tratamento odontológico.

    Se essa proposta do professor Darcy Ribeiro tivesse a continuidade necessária para manter crianças e adolescentes nas escolas, certamente o índice de violência do Estado seria menor. Ele, na década de 80, afirmara: "Se os governadores não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios". Essa frase mantém-se na linha do pensamento de Victor Hugo, autor de “Os Miseráveis”: “quem abre uma escola fecha uma prisão”.

    Não se combate a violência somente com a força policial. Em 2008, no Rio, teve início a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) em comunidades carentes, dominadas pela marginalidade. O objetivo desse projeto era manter a presença do Estado e garantir a segurança. 

    Nos primeiros meses, os resultados foram satisfatórios. Porém faltou um trabalho social, envolvendo educação, saúde, esporte, lazer para distanciar os jovens do mundo do crime. 

    Hoje a violência no Estado chegou a um estágio intolerável a ponto de o governo federal intervir. O Exército está nas ruas para garantir a tranquilidade da população. Fato este que revela o fracasso da gestão estadual. 

    O estágio em que se encontram a saúde, a educação, o desemprego, colocou a Cidade Maravilhosa nesse caos. No âmbito social, a relação entre causa e consequência é nítida e os reflexos são imediatos. A ação do Exército não terá o êxito desejado se ficar restrita ao policiamento ostensivo.  Não basta só colocar tanques nas ruas, é preciso uma assistência que resgate a cidadania. A população não pode ser vista apenas pelas estatísticas.

    A expressão “enxugar gelo” sempre surge quando as ações ficam na esfera das consequências, sem um combate direto às causas dos problemas.

     A participação da sociedade também é imprescindível. O tráfico de droga se mantém em função do consumo. E este é maior no “asfalto” do que no “morro”. Contudo, é necessário ressaltar que o tráfico não é o único fator que causa essa violência constatada no país; a questão econômica também está no cerne do problema, provocado por má distribuição de renda.  Devido a isso, a força policial sozinha não põe fim nesse “estado violência”. Em casos emergenciais, a ação policial é importante, mas não é suficiente para manter a ordem a longo prazo.

    Não se pode deixar de mencionar aqui o aspecto político dessa intervenção do Exército no Rio. O Governo Federal, diante da impossibilidade de aprovar o projeto da Reforma da Previdência no Congresso, mudou o foco das discussões para a violência que afeta o Rio. É triste ver as autoridades subestimando a inteligência do povo. 

    E para continuar no rock, “Jesus não tem dentes no país dos banguelas”, esse é o título do álbum lançado em 1987, pela citada banda paulista. Nele, há “Comida”, ouça.


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