• São Sebastião ainda tem acessos obstruídos por barreiras cinco meses após a tragédia

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  • Uma das principais demandas na localidade é a desobstrução de servidões e demolições administrativas

    13/07/2022 05:00
    Por João Vitor Brum

    O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) continua a série de vistorias técnicas nas comunidades de Petrópolis. A equipe visitou, na manhã desta terça-feira (12), o bairro São Sebastião com a presença de moradores, que apresentaram as principais demandas após as chuvas do início do ano. Mesmo passados quase cinco meses e apesar de toda a vegetação que cresceu nas regiões atingidas, é visível a necessidade de intervenções imediatas no bairro. Entre as ações essenciais e urgentes, estão as demolições administrativas de casas interditadas, retiradas de barreiras e intervenções na rede de esgoto.

    Durante as mais de quatro horas de visita, representantes da comunidade apresentaram à procuradora de Justiça do MPRJ Denise Tarin e aos técnicos convidados, os pontos considerados críticos no bairro. A procuradora destacou que, durante a vistoria, foi possível perceber o quanto a floresta está fragilizada.

    “De todas as visitas técnicas que realizamos ao longo dessas semanas, aqui no São Sebastião é onde pudemos observar o encontro da cidade com a área florestal. A parte de cima da Rua Adão Brandt é uma área que se encontra com o Sargento Boening, e (ali) você percebe o quanto a floresta está impactada”, destacou Denise Tarin.

    Somente na Rua Adão Brandt, onde 127 famílias moravam antes das chuvas, mais de cem casas precisaram ser desocupadas, com os moradores incluídos no Aluguel Social. Entre as servidões visitadas, há muitos trechos de calçadas cedendo, além de um grande deslizamento que atingiu vários pontos da via, até chegar à Rua Alexandre Fleming.

    O presidente da Associação de Moradores da localidade, Wanderson Araújo, contou que pediu a retirada de detritos e o início de intervenções mais de uma vez ao município. “Temos trechos em que muita terra foi removida, mas enviamos diversos ofícios para a Comdep e a Secretaria de Obras pedindo a retirada em outros locais na Adão Brandt, mas nada foi feito até agora. Os moradores perderam o direito de ir e vir, e mesmo quem saiu precisa voltar para cuidar da casa, dos cachorros”, explicou Araújo, como é conhecido na localidade.

    Trechos do bairro continuam isolados por barreiras

    De um ponto da Adão Brandt, foi possível ver pelo menos dois deslizamentos em uma encosta do bairro. O que chamou a atenção dos moradores e também dos técnicos, é que há redes de contenção no local, mas as mesmas terminam exatamente antes do ponto onde houve o deslizamento de terra e rochas.

    Em uma servidão na parte alta da rua, onde há uma ligação com o Sargento Boening, um trecho continua com a passagem totalmente obstruída, contando apenas com um acesso criado pelos moradores após as chuvas, depois de ficarem ilhados no local. Na servidão, pelo menos 16 imóveis estão sem acesso.

    Já em outro trecho, todo o caminho foi levado por um deslizamento e o único acesso ainda de pé tem risco de desabar. Além disso, muito lixo pôde ser visto em encostas em parte dos locais visitados.

    Moradores disseram que não podem deixar de ir até o local pois continuam ocorrendo furtos em casas interditadas. Por isso, a desobstrução dos acessos ainda é uma das principais necessidades, até para seja possível a eventual remoção dos bens que continuam nos imóveis. 

    Muitos cachorros também continuam em suas respectivas casas, muitas vezes brincando em meio aos escombros. Diariamente, moradores sobem em meio às vias interditadas para alimentar os animais, já que muitos imóveis que aceitam o Aluguel Social não permite animais.

    Na Rua Alexandre Fleming, foi visitado um trecho onde um deslizamento atingiu casas e levou dezenas de carros, que ficavam em um estacionamento. Ainda na via, parte do asfalto está cedendo, assim como uma escadaria. Já na Rua Capitão Paladini, além do esgoto passando pela casa dos moradores, todos os bueiros estavam completamente obstruídos, inclusive com trechos cedendo.

    No fim da via, uma grande quantidade de rochas pode ser vista, inclusive rochas que passaram por explosões, mas não foram removidas do leito do rio. Também continuam no local pneus de carros levados pela enxurrada, árvores e galhos, ao lado das casas de moradores que continuam no local.

    Além disso, dois deslizamentos atingiram a quadra comunitária, que continua com os vestiários completamente abandonados.

    Procuradora destaca necessidade de integração entre moradores

    Em alguns locais visitados, obras particulares já haviam iniciado ou já foram até concluídas, porém sem evitar o risco real na comunidade, que são as construções em rochas e os deslizamentos a partir da parte alta, que poderia afetar todas as casas abaixo.

    “Tal como nas outras comunidades, o que a gente observa são construções em cima de pedras e muita água. Agora, a grande preocupação aqui é de realmente integrar os moradores, porque percebemos que a preocupação é para o seu risco, e não para o risco daqueles que estão abaixo de suas casas, então é importante aqui uma avaliação técnica para identificação das prioridades”, pontuou a procuradora.

    Além dos deslizamentos, os moradores também mostraram pelo menos três rochas com risco de rolamento na região, ainda sem uma resposta com relação às respectivas contenções.

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