• ‘Não haveria Elvis sem a música e a cultura negras’, afirma ator Austin Butler

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  • 11/07/2022 08:07
    Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão / Estadão

    Nos quase 70 anos desde que despontou para o estrelato, Elvis Presley nunca perdeu seu apelo. Seus grandes hits continuam ecoando por aí, em comerciais e trilhas sonoras de filmes. Nesse período, houve discussões também sobre sua relação complexa com a música negra – o cantor regravou várias faixas gravadas antes e compostas por artistas negros, que nunca tiveram a chance de alcançar o mesmo sucesso. Elvis, o filme, não deixa isso para trás. “Não haveria Elvis Presley sem a música e a cultura negras”, disse o ator Austin Butler, que interpreta o cantor, em entrevista com a participação do Estadão, em Cannes, onde o filme foi exibido fora de competição.

    Butler, que tem 30 anos de idade, confessou, que essa foi uma revelação que fazer o filme trouxe. “Eu sabia que ele era de Tupelo, Mississippi, mas não que tinha crescido em uma das poucas casas destinadas a famílias brancas em uma comunidade negra”, contou.

    Elvis Presley nasceu em 8 de janeiro de 1935 na pequena cidade dos Estados Unidos. Era uma época em que as leis de segregação racial separavam brancos e negros. Mas, por viver em um bairro predominantemente negro, o menino tinha amigos negros e observava os cultos das igrejas negras. “Fui fazer pesquisa em Tupelo e Memphis e ouvi da boca de Sam Bell como era a infância dele e Elvis no sul”, disse Luhrmann sobre o amigo de infância do artista. O cineasta também contou com a consultoria do historiador Nelson George, especialista em música afro-americana. “Também descobri que Elvis cantava gospel pela manhã. Acho que era seu refúgio, seu lugar de segurança”, disse Luhrmann.

    Quando Elvis tinha 13 anos, a família mudou-se para Memphis, no Tennessee. Ali, sua diversão era frequentar a rua Beale, onde ficavam os clubes de blues e lojas que moldaram seu jeito de se vestir, menos comportado do que o dos artistas brancos de então. No início dos anos 1950, Sam Phillips, da Sun Records, queria levar a música negra para o público branco. Elvis Presley foi a pessoa perfeita para fazer essa ponte, já que para os artistas negros isso era impossível.

    Blues

    Elvis misturou o country e o gospel branco com o blues, o gospel negro e o rock. O filme mostra como a música e a cultura negras influenciaram seu gosto musical e até seu jeito de dançar. Aparecem no longa artistas negros como Big Mama Thornton (Shonka Dukureh), que cantou a versão original de Hound Dog, Little Richard (Alton Mason), Sister Rosetta Tharpe (Yola), que usou a guitarra elétrica de maneira revolucionária, Arthur Crudup (Gary Clark Jr.), que gravou That’s All Right, e B.B. King (Kelvin Harrison Jr.), que foi amigo de Elvis.

    Em um diálogo, Elvis contou que quase quiseram prendê-lo por dançar como dançava. E King responde: “Bem, eu poderia ser preso apenas por andar pela rua”. O filme também tenta mostrar que Elvis recusava o rótulo de ‘rei do rock’, dizendo que na verdade, ele seria de Fats Domino. Há controvérsias, mas, hoje, poucos duvidam que os ‘reis do rock’ foram todos negros, como Chuck Berry e Little Richard.

    Elvis certamente se beneficiou de ser branco em um momento em que os artistas negros não conseguiam ter o mesmo espaço. Big Mama Thornton reclamou a vida toda, com razão, de não ter feito muito dinheiro com Hound Dog. Ao mesmo tempo, ele abriu caminhos para que a música desses artistas fosse ouvida, algo que Little Richard reconhecia. Indiscutível, porém, é a paixão genuína de Elvis Presley pela música e cultura negras.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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