• Amor de carnaval

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  • 21/02/2018 12:29

    Parece que foi ontem, e lá se vão sessenta anos. Tudo aconteceu no carnaval de 1968.  Eu vivia mais perdido que cego no meio de um tiroteio. Tinha largado os estudos, estava desempregado e temporariamente abandonado. Meus pais estavam se separando. Minha mãe foi passar o carnaval em Recife, sua terra natal, para distrair o coração em frangalhos. Papai, livre e solto, só aparecia em casa para trocar a cueca. Estava passando a pão e água, ou melhor, vivia a base de frutas e sanduíche. É nessas horas que tomamos consciência da falta que faz uma mulher, a tal dona de casa.

     Mas Deus é pai. Quando as portas se fecham, Ele abre uma janela. Irla, bela mulata, pintou na minha vida, através de um feliz trote ao telefone. – O que você está fazendo? – perguntei. Nada – ela respondeu. Então vamos fazer esse nada, juntos. E ela apareceu trazendo pequena bagagem. 

    Quando mamãe regressou de Recife, eu já tinha uma amante e cozinheira. E aí, logo em seguida chegou o carnaval de 1968. Marly e Marilze, belas jovens, minhas vizinhas, me convidaram para passar os festejos de Momo daquele ano numa cidadezinha de nome Passa Três, onde seu Carlinhos, pai delas, tinha um sítio e bela casa. E, ainda por cima, era Presidente do Clube Recreativo de |Passa Três. Portanto, eu não precisava de dinheiro para comer, dormir e pular naquele carnaval. Ao aceitar o convite, magoei a Irla que acabou ficando sozinha tomando conta da nossa casa.

     Tudo parecia correr as mil maravilhas e, para completar aquele momento feliz, Deus me deu o melhor presente que eu poderia esperar: Nancy, prima das vizinhas Marly e Marilze, meu amor de carnaval. Um coração vazio é o melhor albergue para o amor. Ao findar aquele carnaval eu já tinha uma namorada. Só faltava, para completar minha felicidade, conseguir um emprego e esperar o regresso de minha mãe. E tudo aconteceu dentro do script assinado por Deus: – a volta de minha mãe, um bom emprego e meu casamento. Dizem que todo amor de carnaval termina na quarta-feira de cinzas. Felizmente, existem exceções à regra – o meu continua firme há mais de sessenta anos…

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