Moradores protestam contra barulho excessivo dos shows do Festival de Verão
O Petrópolis In Festival atraiu mais de 35 mil pessoas durante os quatro dias de evento na Praça Visconde de Mauá, mas deixou um rastro de problemas. Indignados, vizinhos reclamam do volume excessivo do som, do desrespeito ao horário de encerramento, na sexta-feira (26), além de as calçadas e as portarias dos prédios terem sido transformadas em banheiros, pela multidão que tomou conta do espaço. Os moradores e pessoas que passeiam na praça, centro de um importante sítio arquitetônico, paisagístico e histórico, reclamam também da destruição do gramado e de canteiros do espaço. O que restou foram poças de lama e canteiros pisoteados.
O fato do Centro Histórico ser tombado pelo INEA e mesmo assim ter sido utilizado para um evento do porte do Petrópolis In Festival, surpreendeu quem vive próximo ao local. A advogada Maria Lúcia Miranda foi uma delas. Moradora de um prédio na Rua Irmãos D'Angelo ela afirma que não conseguiu dormir, assistir televisão ou realizar outra atividade dentro do apartamento durante os quatro dias de shows.
“O problema é que o som era muito alto. Não somos contra os eventos, a Deguste por exemplo, não nos incomoda. Mas é preciso ter bom senso! Em nenhum momento pensaram nas pessoas que moram aqui. Neste prédio, existem idosos, pessoas doentes que precisam de tranquilidade e invés disso tiveram apenas dor de cabeça”, disse insatisfeita a moradora.
A advogada estuda ainda a possibilidade de fazer um abaixo-assinado e protocolar no Ministério Público, a fim de evitar que grandes eventos sejam realizados por lá. “Ouvi a todo momento que a Prefeitura já tem inclusive outros eventos marcados ali na praça, um deles é um tal de Viradão Cultural. Como será isso? Teremos barulho 24h? Não basta nos deixarem até uma hora da manhã sem dormir, como aconteceu sexta-feira?”, questionou.
Outro ponto destacado pelo porteiro do prédio da advogada, Aylton José Roberto, foi a limpeza que o colega de profissão que fica na parte da manhã precisou fazer na calçada em frente ao edifício. “Ele teve que lavar parte da Rua Irmãos D'Angelo porque estava cheia de xixi. O cheiro era insuportável. Apesar dos banheiros químicos instalados para o evento, muita gente, homens em sua maioria, urinaram nas ruas e esquinas próximas aos shows”, afirmou.
A situação foi confirmada pelo porteiro Flávio Souza. “Impedi pelo menos dois rapazes de fazerem xixi aqui na porta. Mesmo assim não teve jeito ficou tudo muito sujo. Era uma multidão circulando e se aglomerando aqui. Foi complicado”, lamentou. Já a moradora Gertrudes Forte afirma que viveu momentos difíceis. “Só consegui dormir com remédios! A todo momento pessoas urinando nas portas dos edifícios eram flagradas pelos moradores. Um horror”, afirmou.
Em nota a Prefeitura informou que o “Petrópolis In Festival obedeceu ao disposto na legislação vigente”. O município afirmou ainda que o evento foi encerrado antes de 22h no primeiro e no último dia (25 e 28 de janeiro), e antes de meia-noite nos dias 26 e 27 de janeiro (sexta e sábado). E, que a Fiscalização de Posturas não recebeu nenhuma denúncia sobre som alto durante a realização dos shows. A informação oficial contraria o que viveram os moradores, quando o show de sexta-feira prosseguiu até quase 2h de sábado.
A postura das autoridades em relação ao barulho também deixou indignados os vizinhos prejudicados. “As autoridades nos dizem que não podem tomar providências porque o volume do som não foi medido em equipamentos oficiais. Enquanto isso, a Prefeitura sustenta que a lei que limita o volume do som foi cumprida. Mas, com base em que eles afirmam isso? Eles mediram o volume do som? Onde estão esses dados?”, reclama um morador da Rua da Imperatriz, que diz ter vivido dias torturantes.
Sem solução
O desrespeito ao direito de as pessoas dormirem em paz no Centro Histórico, bairro residencial mais populoso de Petrópolis, não se restringe aos grandes eventos. No dia a dia, os moradores ficam desprotegidos, diante de carros com som assemelhado ao de trios elétricos, motos com silenciadores que percorrem as ruas de madrugada. Nos depoimentos de todos os que enfrentaram esses problemas, há uma queixa em comum: não há a quem recorrer.
Sobre o evento
Esta foi a primeira edição do Petrópolis In Festival que trouxe atrações como a Banda Onze: 20, Paulinho Moska, bateria da Estação Primeira de Mangueira, encontro de blocos, banda Taruíra, os grupos de pagode Magia e Pique Novo, entre outros. Foram 15 atrações musicais, de quinta-feira a domingo.
Com um domingo dedicado ao samba, o dia começou na Praça da Inconfidência, com a apresentação da roda de samba Quintal do Pagodinho. Também na Praça da Inconfidência cerca de 30 blocos de carnaval da cidade se reuniram. Eles saíram de lá e seguiram pelas ruas do Centro até chegar no palco principal da festa, na Praça da Águia.