• Em ‘A Suspeita’, Glória Pires é uma policial em drama sobre questões éticas

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  • 16/06/2022 08:00
    Por Luiz Carlos Merten, especial para o Estadão / Estadão

    O primeiro Kikito a gente não esquece. Glória Pires só recebeu o dela no Festival de Gramado do ano passado. Apesar da extensa carreira na TV e no cinema, confessa que foi uma emoção. “Já havia recebido o Candango de melhor atriz, em Brasília, por É Proibido Fumar, mas o filme da Anna (Muylaert) foi um estouro, multipremiado. Meu prêmio por A Suspeita foi o único que o longa do Pedro (Peregrino) recebeu. Fiquei contente pela equipe toda. É um filme feito com muito comprometimento.” O longa estreia nesta quinta, 16.

    Entre o diretor e ela, existe uma parceria de dez anos, em novelas e, agora, cinema. Por falar em novela, como anda a vida de Glória na Globo? “Tem uma novela que eu ainda não posso falar, porque a emissora não fez o anúncio oficial, mas deve rolar para o ano que vem.” Como foi, ainda está sendo, a vida na pandemia? “Ah, muito difícil, né? Tive a covid bem no começo, com meu filho. A nossa veio fraca, mas a do Orlando (marido) foi um sofrimento para todos nós. Apesar do clima de liberou geral, todo cuidado é pouco. Sigo o que diz a ciência.” O filme? “Começamos a trabalhar em 2017 e rodamos no final de 2018. O curioso é que o filme já estava pronto quando nos demos conta de um erro na manchete de jornal do desfecho. O que fizemos foi refilmar.”

    PALPITES

    Talvez não seja o caso de elucidar o erro, pelo risco de spoiler. Refere-se à presença, ou da ausência, da suspeita – Glória – na capa do jornal. No filme, ela tem créditos de interpretação, produção e até um terceiro – de colaboração artística. “Eu realmente participei de todo o processo criativo desse filme. Palpitei em tudo, como nunca tinha feito antes. Pedro (diretor), muito querido, fez questão do crédito extra. A gente se entende muito bem, confia. Nosso último trabalho juntos na TV foi o Éramos Seis, uma história de família, muito humana.” Existe uma tradição de filmes policiais à brasileira. Filmes de ação, violentos. Assalto ao Trem Pagador, Cidade de Deus, Tropa de Elite, cada um com sua pegada. Quem for ver A Suspeita esperando por essa vertente quebrará a cara.

    O filme não se assemelha a nenhum policial brasileiro recente. “Nem americano, nem mundial. É fora de série”, conceitua o diretor. Há que se acreditar. Glória faz a comissária da inteligência da Polícia Civil do Rio de Janeiro que investiga um caso. Descobre evidências da participação de colegas policiais. Corrupção, assassinato. O próprio chefe de polícia, sob a alegação de que quer protegê-la – tiveram um affair no passado -, tenta interromper a investigação.

    Tudo é muito nebuloso e, para complicar, a comissária sofre um processo acelerado de Alzheimer. Escreve, no computador, mensagens para ela própria no futuro, para que não esqueça. O tema da memória é fundamental. O escritor, peça-chave da trama, diz, em uma master class, que o Brasil não tem memória, e é coisa grave. O Alzheimer metaforiza a questão política da memória que corre o risco de ser apagada.

    LABIRINTO

    O formato é labiríntico. Glória anda muito no filme, corredores que desembocam em corredores, e novos corredores. O labirinto da mente. Onde fica a saída? “É algo que não é fácil de construir”, refletem o diretor e a atriz, mas eles se empenharam e conseguiram. O mal-estar permanece com o espectador. Com roteiro de Thiago Dottori e argumento do cientista político Luiz Eduardo Soares, o longa foi exibido ainda em sessão Hors Concours no Festival do Rio do ano passado.

    A Suspeita é muito diferente de outro filme que Glória também tem pronto para estrear. Um filme de férias, para julho. Glória está em Vovó Ninja, nova comédia de Bruno Barreto. “Faço com minha filha, a Cléo.” Mais um filme em família? Cléo fez Me Tira da Mira, com o pai, Fábio Jr., e o irmão, Fiuk. “É gostoso, e a gente leva vidas tão corridas que uma filmagem dessas reaproxima.” Glória precisou se preparar para as cenas de lutas em defesa dos netos da ficção. Mas adverte: “Fui só até onde o joelho permitiu”.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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