• ‘O crime organizado se estruturou na região amazônica’, diz liderança indígena

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  • 10/06/2022 19:13
    Por Emilio Sant'Anna / Estadão

    Para o advogado e coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Dinaman Tuxá, os desaparecimentos do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira podem ser mais um capítulo da escalada de um processo que se intensificou nos últimos anos. Violência e destruição da floresta se retroalimentam, diz Dinaman, de Paris, em entrevista ao Estadão.

    O grupo está na Europa para discutir com líderes da região temas como a exploração de ouro na Amazônia, a presença do narcotráfico e possíveis sanções econômicas internacionais ao Brasil. No domingo, 12, o grupo vai a Bruxelas para se reunir com uma comissão do Parlamento Europeu. Eles vão debater a proposta de proibição de produtos do agronegócio que consideram ligados ao desmatamento e à degradação florestal.

    Como recebeu a informação do desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira?

    O ilícito se inicia com a própria invasão. Ali (Vale do Javari) é uma área de indígenas isolados, que deveriam ser protegidos pelo Estado e fica claro que ele não está cumprindo com suas funções quando um funcionário público federal e um jornalista inglês desaparecem nesta região. A gente não sabe ainda o que aconteceu, mas sabemos que é resultado de ações que estavam ocorrendo ali naquele momento.

    Como avalia a presença do clima organizado na região amazônica?

    O crime organizado se estruturou na região amazônica não só no narcotráfico. Eles estão atuando na extração de madeira, no garimpo e no narcotráfico. Estamos preocupados porque não há uma mobilização do Estado para combater esse tipo de crime, as invasões. Eles estão se apropriando não só pelo poderio bélico, mas pela ausência do Estado. Eles estão à vontade para cometer todo tipo de ilícito na região. Com o desmonte das políticas indigenistas e ambientais, o Estado brasileiro está cada vez mais ausente das terras indígenas, principalmente das mais longínquas que precisam de uma atuação diferenciada para a proteção das populações isoladas. Estamos fazendo a narrativa do Vale do Javari onde o crime organizado atua no narcotráfico e no garimpo e não há uma política de combate. O que acontece ali não é trazido para a população porque é uma região muito distante, os responsáveis não são indiciados e os crimes são esquecidos. São regiões sem leis.

    Qual a relação entre esse desmonte e a violência?

    O desmonte das políticas indigenistas e ambientais afetam os povos indígenas do Brasil como um todo. Um exemplo é o aumento da criminalização das lideranças ambientais. A falta de demarcação faz com que os povos indígenas se mobilizem para autodemarcação e isso acaba gerando tensão. A falta de política de Estado também gera violência.

    Quais podem ser as repercussões desse processo para o resto do País?

    O que acontece na Amazônia tem repercussão para o resto do País. O desaparecimento do Dom Phillips e do Bruno Pereira, o desmatamento e o garimpo têm uma comoção internacional. Estamos falando da destruição de um ecossistema, pessoas morrendo como resultado de uma atividade econômica. Para que isso aconteça há um mercado consumidor, um mercado que está financiando a destruição. O que está acontecendo vai ter impacto primeiro nas questões ambientais com repercussões no fluxo ambiental e nas mudanças climáticas, como estamos vendo agora com as chuvas em Pernambuco, mas já vimos em Minas, na Bahia, no Rio e na seca no Sul neste ano. Mas não é só isso. Esse processo vai se refletir na questão econômica. Os países da Europa vão começar a impor sanções econômicas ao Brasil e o brasileiro vai sentir o resultado no bolso.

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