O papel de Teixeira Coelho como organizador de museus e ensaísta
A morte do escritor e professor da USP José Teixeira Coelho Netto, aos 78 anos, na madrugada de sábado, 4, em consequência de complicações de uma mielodisplasia, empobrece ainda mais o já combalido meio cultural brasileiro.
Colaborador do Estadão, Teixeira Coelho teve uma passagem marcante pelo jornalismo cultural e pela administração de instituições acadêmicas, como o Museu de Arte Contemporânea (MAC ) da Universidade de São Paulo, onde promoveu mudanças na administração e no acervo. Igualmente, no Masp, ele realizou exposições com novas leituras da coleção do museu, na impossibilidade de trazer mostras de fora por causa da crise financeira pela qual passava a instituição. Ainda assim, promoveu uma exposição internacional sobre pintura alemã contemporânea que foi um marco na história do Masp.
Como autor, Teixeira Coelho deixou obras relevantes sobre a indústria cultural e seu futuro, entre eles o recente eCultura, a Utopia Final (Iluminuras, 2019), que trata da superação do cérebro humano pela inteligência artificial. Outro livro é A Cultura e Seu Contrário (Iluminuras e Itaú Cultural). Defensor de uma cultura inclusiva, polifônica, ele analisa no livro o uso da cultura pelos regimes totalitários e defende um modelo alternativo. “O que de fato se observa hoje é um grande processo de domesticação da cultura”, escreve, alertando para o uso da cultura pelas ditaduras, como fizeram o nazismo e o fascismo.
O embate entre o mundo moderno e pós-moderno foi outra questão abordada com maestria por Teixeira Coelho num livro publicado em 1995 pela mesma editora Iluminuras que, por meio de seu fundador, Samuel Leon, sempre reconheceu o discurso original do professor como essencial para o debate público. Em Moderno Pós Moderno: Modos & Versões, ele trata dos fundamentalismos que surgiram após o esfacelamento da ex-União Soviética, que obrigou a uma mudança radical no modo de pensar o moderno.
Para o professor, modernismo era, antes de tudo, um estilo, uma linguagem, um código – mais uma fabricação do que uma ação. O moderno, no limite, é o novo, segundo Teixeira Coelho. E o novo, conclui, “é a consciência neurotizada da modernidade”. Ele não faz com isso a defesa da pós-modernidade, mas propõe, à maneira de Wittgenstein, um novo modo de pensar e sentir não binário. Esse é o grande legado que Teixeira deixa para o Brasil e o mundo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.