Estado e União desafiam decisões judiciais
Mesmo depois de terem sido condenados a reformar a Estrada União e Indústria, os governos Federal e Estadual – que dividem a jurisdição da rodovia – ainda não realizaram a manutenção necessária para entregar a concessão ao município. Enquanto isso não acontece o estado de conservação da via só piora, chegando ao ponto de oferecer risco à vida de pedestres e motoristas, em áreas turísticas da cidade.
Construída por Mariano Procópio no século XVIII, a União e Indústria, que foi utilizada por mais de um século como caminho para as Minas Gerais, é uma das vias mais importantes para o desenvolvimento de Petrópolis. Além de cortar os cinco distritos da cidade, a estrada tem uma importância história por ter sido a primeira pavimentada da América Latina. Hoje, são tantos buracos que em alguns trechos é possível ver a estrutura que fica sob o pavimento. “Daqui a pouco vai aparecer o tal do macadame, que foi usado na fundação da estrada, de tantos buracos que tem aqui”, brincou Rogério Sandro Lima, motorista de ônibus.
A administração da rodovia é dividida em dois trechos: do Centro até Pedro do Rio a administração é do governo Federal, por meio do Departamento Nacional de Infraestrutura do Transporte (Dnit). Já de Pedro do Rio a Areal, o trecho mais crítico, é de responsabilidade do Estado, pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ). O estado da estrada é tão crítico que tem gente pagando pedágio da BR-040 para não ter que transitar sobre os buracos. Entre Pedro do Rio e Posse, tem cratera com quase dois metros de diâmetro, que ocupam mais do que uma faixa da rodovia, obrigando os motoristas a trafegarem pela contramão num dos trechos mais sinuosos: a Jacuba. “Isso aqui é a estrada da morte. Estão dando sorte de não ter tanto acidente assim, porque é tanto buraco que o motorista que conhece já anda prudente. Não é por educação, mas por sobrevivência. Se você não dirige devagar e com calma você pode cair dentro do rio numa pirambeira de mais de 50 metros”, disse Maicon da Costa, eletricista.
Além da Posse, Itaipava e Pedro do Rio também têm trechos esburacados. No terceiro distrito da cidade, em pleno polo turístico e gastronômico, a buracada está espantando até os visitantes. “Tem gente que deixa de vir aqui por causa dos buracos. As pessoas desanimam. Do jeito que está ainda dá pra aguentar. Agora se aqui ficar igual lá na Posse, é claro que vai cair o movimento. Você já tem uma gasolina num preço absurdo. Uma manutenção cara, com peças caras. Então ninguém quer arriscar. É ruim porque atravanca o desenvolvimento do lugar, além de deixar o lugar feio”, contou Pietro Mayworm, comerciante.
Um agravante da situação precária da estrada é a quantidade de caminhões e carretas que fogem do pedágio para transitar por dentro dos bairros. “É muita carreta. O dia inteiro. Aí você soma isso à falta de manutenção e não tem como te dar um resultado bom. Está vergonhoso. Dá nojo de ver”, completou Maicon, o eletricista que mora em Areal.
Jogo de empurra
A história do descaso se arrasta há mais de dez anos. Em 2007 o Estado e a União decidiram entregar a jurisdição da rodovia ao município. Mas, para que isso fosse possível, a pedido do Ministério Público, a Justiça decidiu que ambos deveriam reformar a estrada antes de passar a concessão. O problema é que isso nunca aconteceu. O DNIT chegou até a marcar uma licitação para contratar uma empresa para fazer a recuperação da estrada, em 2011. No entanto, a vencedora desistiu da obra. A segunda colocada não tinha documentos suficientes, e até hoje nenhuma outra licitação foi feita.
A Tribuna questionou o Dnit e o DER-RJ sobre o caso, mas nenhum deles nos respondeu até o fechamento dessa reportagem.