Conjunto habitacional não concluído e cercado de problemas na Posse
Quase oito anos depois de começar a ser construído, o Conjunto Habitacional da Posse ainda sofre com o abandono. Dos 144 apartamentos que deveriam ter sido entregues aos desabrigados das tragédias de chuvas na região, apenas 22 estão ocupados, e os poucos moradores vivem num cenário de verdadeiro abandono.
Parte do conjunto está tomada por mato, e a vegetação encobre também a entrada de alguns dos 12 blocos de apartamentos. Em volta há muita lama e água parada nos restos da obra inacabada. Os bueiros dos blocos que ainda não estão prontos estão destampados e acabam acumulando água de chuva num local que inclusive já teve foco do mosquito da dengue. Além disso, várias unidades inacabadas estão com vidros quebrados, portas arrombadas, e infiltrações no teto. Moradores e pessoas que estão na fila para conseguir uma moradia reclamam do desperdício de tempo e dinheiro público. “Até hoje eu não consegui minha casa. Estou desde 2008 esperando. Quando começaram a construir as casas eu me animei, mas já se passaram dez anos e até agora nada. Eles só enrolam. Pior é que nem eu nem mais ninguém foi chamado para morar lá. Só essas poucas famílias”, explicou Gabriela de Souza, 43 anos, que tem duas filhas.
A líder do movimento do aluguel social, Cláudia Renata, disse que já cobrou das partes envolvidas na construção do condomínio para que alguma providência seja tomada. “Esse conjunto é do Programa Somando Forças de 2007, que começou anos depois. São apartamentos que fazem falta para quem espera por uma moradia. Estive na Secretaria de Obras, no Rio, e solicitei informações sobre as obras. Eles já retomaram as obras na parte deles, e disseram que vão entregar ao menos dois blocos até fevereiro. O restante deve ficar para os próximos meses. Já estão até pintando os prédios”, explicou Claudia.
Dos 144 apartamentos, 72 pertencem ao Governo do Estado, e outros 72 são fruto de uma parceria entre o Governo Federal e o Município. Depois de começar em 2010, as obras chegaram a ficar paralisadas por duas vezes, tendo sido retomadas parcialmente. Atualmente, a parte que diz respeito à Prefeitura ainda não foi concluída. Apenas 24 apartamentos ficaram prontos, e foram entregues às famílias, sendo que duas devolveram as chaves. As 72 unidades construídas pelo Estado devem ser concluídas neste semestre. As obras foram retomadas nos últimos dias. “Estamos pintando, envernizando por fora e vamos fazer o que for preciso lá dentro para entregar o quanto antes. Isso que foi nos passado” disse um funcionário. Apesar disso, as outras 48 unidades – de responsabilidade do município, continuam com obras paralisadas.
No interior dos blocos que ainda não ficaram prontos, é possível perceber que não falta muito para que as moradias sejam entregues. Mas para as obras terminarem é preciso que os responsáveis retomem os trabalhos. “Nessa parte da Prefeitura não tivemos nenhuma movimentação ainda”, explicou Claudia Renata.
Problemas nas unidades já entregues
A Tribuna esteve no local e conversou com os moradores que estão no local há quase dois anos. Segundo eles, alguns apartamentos apresentam mofo e infiltrações por conta de problemas na estrutura do teto do prédio. “ Quando chove aparece goteira. Quando sai de casa o quintal do condomínio está uma lamaceira danada. Casa própria é muito bom, ainda mais quando você perdeu a sua e não tinha teto. Mas do jeito que está eu confesso que está meio difícil”, explicou uma mulher que preferiu não ser identificada.
Um outro morador reclamou de goteira no banheiro do apartamento. “Eu moro na parte de cima e realmente tem vazamento, goteira e infiltrações de água. Mas apesar de tudo isso é muito bom viver aqui. Tem um certo abandono, porque não podemos fazer nada e temos que esperar que eles resolvam. Mas, enquanto isso vamos levando do jeito que dá”, contou.
Quanto estiver pronto, o condomínio deve representar um alívio na lista de espera por moradia na cidade. O local será destino de famílias que perderam as casas nas tragédias que atingiram a região do Bairro Nossa Senhora de Fátima, na Posse, além de Vila Rica, em Pedro do Rio, e também no distrito de Itaipava. Além disso, famílias de outros bairros também estão na lista para se mudar para o local.
Lugar sem infraestrutura
Às margens da Estrada Silveira da Motta, que liga Posse a São José do Vale do Rio Preto, o local onde o condomínio está situado não conta com opções de escolas nem unidade de saúde. O posto médico mais perto fica a cerca de 20 minutos de ônibus, no Centro da Posse, e mesmo assim tem gente que não consegue atendimento. “O posto da Posse não é bom assim. Não tem médico quase nunca. Nem sempre conseguimos o diagnóstico certo. É muito difícil a nossa região”, explicou a moradora.
Além disso, a Escola Municipal Hildebrando de Carvalho, que fica em frente ao Conjunto, também não tem estrutura para receber os novos alunos. “Já chegaram até a falar que o colégio ia fechar. Como vamos fazer? As crianças não podem morar aqui e estudar na Posse, dependendo de ônibus direto. Os carros que fazem a linha Rio Bonito, que são os únicos que passam por aqui, só tem de uma em uma hora”, explicou Maria Rosa Moreira, que mora em frente ao Condomínio.
“Colocaram o pessoal lá mas não teve nenhuma infraestrutura. Não tem área de lazer e são inúmeros problemas. As caixas de gordura de vez em quando dão problemas, e as crianças estavam brincando com obras, madeiras, tudo que fica jogado. Tem que ser feito um trabalho social com aqueles moradores. O lugar é distante, não tem estrutura, não tem ônibus, é bem complicado”, explicou Claudia Renata.
Poucos ônibus
Atualmente, quem mora na região precisa pegar três ônibus para se deslocar até o Centro da cidade, e outros três para voltar pra casa. Apesar de pagar apenas uma passagem (tendo cartão eletrônico), o transtorno é grande por conta da necessidade de embarque e desembarque em dois pontos diferentes. Além disso, a região conta com ônibus de hora em hora, e não a quase todo instante, como em muitos lugares na região central da cidade e do distrito de Itaipava.
Apartamentos serão reformados
A Tribuna questionou a Prefeitura sobre os apartamentos com infiltrações e problemas estruturais. O órgão disse que irá reformar as unidades, e que o problema começou na gestão passada, quando eles foram entregues. Já quanto às outras unidades, a prefeitura disse que vai fazer os acabamentos como instalação de vasos sanitários, torneiras, entre outros pontos das casas que ainda não foram finalizados. Ontem também foi iniciado o serviço de capina e roçada no local por cinco funcionários da Comdep.
Creches e escolas ampliadas
Quanto à reclamação e preocupação quanto à falta de estrutura nas escolas, a Prefeitura disse que a Escola Hildebrando de Carvalho e o CEI Ângela Maria da Conceição, passarão por reformas estruturais no início desse ano. A Secretaria de Educação vai adaptar os imóveis para aumentar a capacidade de atendimento.
“Serão feitas intervenções para que a capacidade de atendimento aumente. Com o condomínio em construção na Posse, teremos que aumentar a oferta de vagas nas escolas da região, por isso, a equipe técnica do setor de Obras da Secretaria de Educação está levando tudo o que poderá ser feito nesses locais ainda nesse começo do ano”, afirma o secretário de Educação, Anderson Juliano.
No CEI Ângela Maria da Conceição, localizado no Centro da Posse, são atendidas, atualmente, 80 crianças de até cinco anos. A intenção da Secretaria de Educação é a de adaptar duas salas já existentes no prédio para que se transformem em duas salas de aula e construir outros dois espaços educacionais. Quando as intervenções ficarem prontas, a previsão é de que cerca de 50 novas matriculas possam ser feitas no local.
Já na E.M Hildebrando de Carvalho, localizada na Estrada Silveira da Mota, são atendidas 100 crianças, do 4º período da educação infantil até o 5º ano do ensino fundamental I. No imóvel a Secretaria de Educação pretende construir uma nova sala de aula e fazer adaptações em um corredor externo, com a colocação de telhado. Com a mudança, mais 25 crianças poderão ser atendidas no local, em cada turno.
“Estamos percorrendo as unidades escolares e buscando recursos para que as adaptações sejam feitas e fiquem prontas antes do início do ano letivo”, contou Luiz Antônio Romão, diretor do Departamento de Obras e Transportes da Secretaria de Educação.