• ‘Fui vice do João Doria. Um é diferente do outro’, diz Rodrigo Garcia

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  • 19/05/2022 17:05
    Por Pedro Venceslau / Estadão

    Pré-candidato à reeleição pelo PSDB, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, de 48 anos, é cuidadoso ao falar sobre o impasse no seu partido em relação a pré-candidatura presidencial de João Doria, de quem foi vice. Ele, porém, defende a união de PSDB, MDB e Cidadania como uma chance de quebrar a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Nesta quarta-feira, 18, os presidentes dos três partidos indicaram a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como candidata única ao Planalto. A decisão ainda precisa passar pelo crivo das executivas nacionais das siglas.

    Na entrevista ao Estadão/Broadcast, que abre uma série com os pré-candidatos ao Palácio dos Bandeirantes, Rodrigo Garcia deixou claro que não pretende associar sua imagem à de Doria na eleição estadual. “Represento a minha história.”

    O sr. defende união do centro político na disputa presidencial. Ainda acredita nisso? Seu candidato é o João Doria?

    O candidato que meu partido e eu apresentamos para a terceira via é o João Doria. Estou ao lado dele como nome do PSDB. O partido buscou outros partidos. Era um grupo maior do que é hoje. O PSDB está insistindo para que a gente consiga manter o centro democrático unido e assim ter alguma chance eleitoral. Nosso candidato vai se submeter a essa análise do centro democrático e às pesquisas que estão aí. Vamos encontrar um caminho político. Defendo uma decisão política de comum acordo para que o candidato escolhido tenha mais chance de ganhar a eleição do que uma candidatura isolada.

    O deputado Aécio Neves disse que Doria sempre foi o “bode” que precisava ser retirado da sala para viabilizar a sua candidatura. Como avalia essa declaração?

    Aécio sendo Aécio.

    Doria ameaça judicializar o processo se não for candidato e diz que o resultado das prévias é irrevogável.

    O PSDB não pode ter outro candidato próprio que não o João Doria. Se parte para uma coligação, é outra decisão do partido, mas o único candidato que o partido pode ter com o número 45 é o João Doria. Sobre isso não há contestação. Não é o caso de judicialização. A política vai achar um caminho. Se o PSDB vier agora e disser que vai colocar o Eduardo Leite ou outro nome, aí não dá. Mas como o PSDB se submete a uma coligação, é ela que vai escolher. Aí a discussão é política, não jurídica.

    A candidatura de Doria, que tem alta rejeição, atrapalharia sua campanha em São Paulo? Não se vê o ex-governador nas suas redes sociais e inserções de TV…

    Sou candidato da minha história. E talvez um dos mais experientes dessa eleição em quantidade de mandatos consecutivos. Represento a minha história. Sou do PSDB. Fui vice do João Doria. Um é diferente do outro. Naturalmente vou me apresentar. O meu candidato a presidente é a terceira via. Simples assim.

    Se o PSDB apoiar um nome de outro partido pode perder o protagonismo?

    Muitas vezes você identifica figuras que representam aquilo em que acredita não necessariamente no seu partido. É natural que o PSDB lute por uma candidatura própria, mas entende que nesse momento é preciso juntar mais forças para ter alguma viabilidade eleitoral. Eu não quero só um candidato da terceira via. Quero um candidato que tenha chances reais de vitória. Vamos trabalhar para a unidade com o MDB, que é um dos maiores partidos do Brasil.

    O que acha do nome da Simone Tebet?

    Foi uma grande senadora, uma grande prefeita e é uma grande mulher. Pode representar esse grupo. A pesquisa vai dar uma pista do que é melhor para a viabilidade eleitoral.

    O que é mais forte em São Paulo: o antipetismo ou o antibolsonarismo?

    É aquele que não quer nem o petismo nem o bolsonarismo dominando São Paulo. Mais de 40% da população busca alternativa, 85% dos paulistas não escolheram candidato a governador. Está longe de ter uma pista do que vai acontecer. Estou aqui para proteger São Paulo dessa guerra ideológica.

    Nas redes sociais e discursos, o sr. é um crítico das ideologias. É contra as ideologias? Tem alguma?

    Não sou contra, mas a ideologia não pode vir na frente do problema. Não sou um gestor dogmático. Sou um gestor pragmático. Estou aqui para governar para quem gosta e não gosta de mim. Respeito a ideologia de todos, mas colocá-la na frente dos problemas não resolve.

    O sr. tem ideologia?

    Sem dúvida.

    E qual é?

    Me sinto um cara de centro e liberal.

    No debate sobre segurança pública, o sr. adotou uma narrativa muito identificada com a direita mais radical. Disse que bandido que levantar a arma para a polícia vai levar bala. É uma estratégia para se aproximar do eleitor mais conservador?

    Essa é uma recomendação que eu dei ao cidadão de bem e ao bandido. A boa polícia diz: não reaja quando você sofre um assalto. O recado claro ao bandido foi: não reaja que você vai tomar bala. Esse é o papel da polícia. Essa frase traduz o que eu acredito.

    Sobre o uso de câmeras no uniforme dos policiais, houve uma mudança de tom no seu discurso. Por quê?

    Contra fatos não há argumentos. No dia 2 abril, quando dei aquela entrevista (à revista Veja), não tinha nenhum relatório ou indicador sobre câmeras de seguranças e seus resultados. Na semana seguinte, saíram vários dados que estavam sendo pesquisados no último ano mostrando que a câmera reduziu a letalidade das policiais. Ao lado disso eu ouvi muito os nossos comandantes na condição de governador, e não de vice. Falei com parte da nossa tropa e visitei muitos batalhões. Estou indo em todos, inclusive com visitas-surpresa. Estou mais do que convencido de que as câmeras corporais são impositivas para a polícia.

    Inclusive nas operações especiais?

    Sem dúvida. As operações especiais têm uma natureza, e a rádio patrulha tem outra.

    O pacto federativo da Constituição de 1988 prejudicou São Paulo?

    A Constituição de 1988 municipalizou e estadualizou serviços, mas federalizou o dinheiro. Hoje, o resultado desse pacto federativo é que os municípios e os Estados têm muitas responsabilidades, mas a União fica com a maior parte da fatia do bolo tributário. Fiz um levantamento no ano passado. Os impostos federais arrecadados em São Paulo somam R$ 750 bilhões, e voltam R$ 47 bilhões. O que é mais grave é que as transferências voluntárias também deixaram de existir para São Paulo. São Paulo é o último Estado na fila de transferência voluntária do governo federal.

    Está dizendo que é uma retaliação política do governo Jair Bolsonaro?

    O governo parou de ajudar com políticas públicas que muitas vezes eram feitas em parceria nos governo do FHC, Lula, Dilma e Michel (Temer). Agora isso praticamente não tem.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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