• Como “nascem” os livros: da criação literária às mãos do leitor

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  • Por Aghata Paredes

    Um livro é capaz de expandir os horizontes, fomentar reflexões e novas ideias, estimular a criatividade, criar laços inimagináveis e marcar uma geração ou várias. Hoje, dia 23 de abril, é o Dia Mundial do Livro  –   data em que grandes nomes da literatura, como Shakespeare e Miguel de Cervantes faleceram. 

    Até chegar às mãos do leitor, o livro passa por uma série de etapas. Tudo começa com a criação literária, mas ao que tudo indica essa parte mágica da literatura, aos olhos do leitor, é mais transpiração do que inspiração para quem escreve.

    Conversamos com dois professores petropolitanos da área de literatura para adentrar esse fantástico universo que encanta tantas pessoas ao redor do mundo.

    Foto: Divulgação – Clube do Livro Tribuna

    Leandro Antônio Rodrigues, professor de Literatura, especialista em Literatura Infanto-Juvenil, e Mestre em Educação, com ênfase em Leitura e na Formação do Leitor, conta que cada autor tem o seu processo de criação. “No meu caso, tenho a ideia e vou, mentalmente, articulando o que pode ser feito. Depois, esquematizo tudo: número de capítulos, personagens, características  e nomes das personagens. Somente depois que tenho tudo isso, inclusive com o desfecho da história, é que passo para o papel e o computador. Claro que, muitas vezes, enquanto a obra está sendo digitada, alguma ideia nova surge. Aí, claro, aceito a ideia e vou conduzindo o enredo.” 

    Leandro revela que uma das comodidades em relação à sua escrita é não ter que lidar com prazos. “Como, infelizmente, não vivo da escrita, tenho a comodidade de não trabalhar com o prazo. Por exemplo, estou com dois romances em aberto e, por falta de tempo, não os concluí. No entanto, tudo já está planejado com anotações detalhadas.” Sobre sua escrita poética, o professor explica que procura separar os livros de poemas por temática. “Em relação aos livros de poemas, procuro separá-los por tema; porém não escrevo um poema pensando que irei publicá-lo. Escrevo-o por algo ter me tocado e me inspirado, levando-me a colocá-lo no papel. Em relação às narrativas curtas, também as junto pelas temáticas.” Questionado sobre o processo de criação literária, o professor conta que escrever é 10% inspiração e 90% transpiração. 

    O processo de escrita para Leandro Garcia, professor de Literatura da UFMG, pesquisador e especialista na obra de Alceu Amoroso Lima, é diferente. “No meu caso, não trabalho com a escrita literária. Todos os meus livros são de escrita ensaística, ou seja, de produção científica. Geralmente, eu passo de 2 a 3 anos pesquisando e organizando a correspondência de determinado escritor. Esse é o tempo mínimo para levantar os arquivos, ver as cartas enviadas e recebidas, organizá-las cronologicamente e transcrevê-las para só então, depois, realizar as pesquisas das notas de rodapé. Sendo assim, quando um livro nasce, no meu caso, ele tem o compromisso de divulgar todas essas pesquisas.” O professor e pesquisador vai lançar um livro na próxima semana com a correspondência entre Alceu Amoroso Lima e o poeta alagoano Jorge de Lima, autor de obras clássicas da poesia brasileira como Invenção de Orfeu, Essa Negra Fulô e tantos outros. “Só para você ter uma ideia, essa pesquisa durou 5 anos. Foi a minha pesquisa mais extensa com mais de 300 cartas. Por conta da pandemia, os arquivos ficaram fechados. Ficou um livro técnico e científico imenso, com 532 páginas, que oferece à sociedade, digamos assim, uma prestação de contas após todos esses anos de pesquisa.”, explica.

    O processo de criação literária pode, ainda, envolver outras duas mãos. É aí que o ilustrador entra. A cabofriense Luana Ruffolo, que mora em Petrópolis desde criança, explica como é o seu processo de trabalho: “Antes de saber a história do livro, eu converso com o autor para entender qual foi a motivação por trás do seu processo de escrita. Na maioria das vezes é parte de alguma experiência pessoal. Depois de entender a inspiração, leio o livro e começo a criar algo que dê sentido àquela história. Em seguida, converso sobre a parte estética; o que o autor espera em relação aos traços, às cores. A partir daí começo a fazer algumas pesquisas de referência, de traços e texturas, seguindo a estética (realista, cartoon, simples) que foi solicitada. Posteriormente, faço alguns esboços, defino a cartela de cores e apresento ao autor. Meu trabalho, depois disso, é seguir o caminho aprovado por ele.

    Foto: Divulgação – Clube do Livro Tribuna

    Depois de finalizado o processo de criação do livro, o escritor corre atrás de uma editora para publicação. Nesta etapa, o livro precisa passar pela aprovação de um conselho editorial. É o que conta Frei Volney, responsável pela Editora Vozes. A título de curiosidade, essa tradicional editora iniciou suas atividades imprimindo livros didáticos para uma escola da cidade a partir da máquina impressora Alauzet, nomeada de Typographia da Escola Gratuita São José, recuperada pelo Frei Inácio Hinte, em 1901. Atualmente, a Editora Vozes possui 4 andares e 23 departamentos, sendo um deles dedicado à escolha e aprovação de livros. O Conselho Editorial é formado por dez pessoas de diferentes áreas de conhecimento.

    Depois de aprovado o livro, há todo um maquinário que entra em ação. Cada máquina tem uma função, que inclui imprimir diversas páginas em uma folha bem grande; cortá-las e costurá-las; levá-las para a prensa e, finalmente, encaderná-las. Acompanhamos o processo bem de perto na Editora Vozes, com direito a cheiro de livro novo.

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