Claudia Moreira Salles dialoga com a arte moderna e contemporânea
A mostra chama-se Afinidades Eletivas como o romance homônimo de Goethe. Mas, ao contrário do livro do alemão, na exposição, que reúne 20 peças criadas pela designer Claudia Moreira Salles em diálogo com obras de arte modernas e contemporâneas, não há conflito entre razão e emoção, mas harmonia. A afinidade entre design e arte é evidente na mostra, que também presta tributo ao arquiteto de origem polonesa Jorge Zalszupin, morto em 2020, aos 98 anos. A exposição fica em cartaz até 21 de maio na casa em que ele viveu por 60 anos.
Zalszupin ainda não é um nome popular como Niemeyer, mas os paulistanos convivem com sua arquitetura diariamente. São dele os projetos do Shopping Ibirapuera, do Top Center e do edifício Sumimoto na Avenida Paulista. E também da Casa Zalszupin, espaço cultural administrado pela galeria Almeida & Dale e a Etel, que, em 2004, firmou um acordo com o arquiteto para editar alguns de seus móveis mais conhecidos (como as poltronas Cubo e Brasiliana e as mesas Pétala e Guanabara).
A parceria de Claudia Moreira Salles com a Etel já dura 30 anos. Algumas criações suas expostas na Casa Zalszupin foram produzidas pela marca de Etel Carmona e formam pares perfeitos com os eleitos da designer, entre eles os pintores Lucio Fontana, Lasar Segall, Mira Schendel, Volpi, Guignard, Pancetti, Milton Dacosta e Leonilson, além de escultores como Sérgio Camargo e artistas múltiplos como Willys de Castro, Geraldo de Barros e Ana Maria Maiolino.
CONVERSA
A afinidade entre as peças de Claudia e as obras de arte selecionadas é demonstrada logo na entrada da Casa: o banco de pedra iraniana e encaixes de madeira dialoga com um pluriobjeto de Willys de Castro e três peças geométricas de Lygia Pape. Duas peças inéditas são apresentadas na mostra, a mesa Afinidades e o banco Medeiros. Entre os objetos mais conhecidos de seu repertório estão os bancos Jangada e Iracema, a mesa Cubo Livre e as luminárias Excêntrica e Concêntrica.
Sobre as duas, Claudia conta que a origem do design de ambas remete a Moholy-Nagy, artista húngaro ligado ao construtivismo que trabalhou com Gropius e Marcel Breuer, ou seja, que dialogava com arquitetura e defendia a união da arte com a tecnologia, exatamente como faz a designer brasileira. As luminárias Excêntrica e Concêntrica, que estão na mostra, conta Claudia, foram inspiradas por uma composição de Moholy-Nagy dos anos 1920, em que as figuras de dois semicírculos estabelecem uma conexão de equilíbrio.
Assim como Lucio Fontana forjou uma nova espacialidade com suas incisões na tela, Claudia associa o banco da entrada a esse “concetto spaciale”, que encontra correspondência na peça de Ana Maria Maiolino ao lado. Tudo está ligado na mostra, acentuando o paralelismo entre a estratégia da criação artística e a prática do design. Outro exemplo: um pluriobjeto de cobre de Willys de Castro, projetado em seu leito de morte, que dialoga com uma luminária com base de madeira, coluna de cobre e parte superior de nióbio.
O refinamento das peças de Claudia passa pela reverência ao arquiteto que projetou a Casa Zalszupin, cuja mesa Guanabara inspirou, por exemplo, a mesa Afinidades, que ocupa o lugar central na sala térrea. A mesa original do polonês tinha a base ovalada. Na concepção de Claudia, ela optou por uma coluna com base de concreto.
Afinidades Eletivas
Casa Zalszupin. R. Dr. Antônio Carlos de Assumpção, 134, tel. 3064-1266. 2ª/6ª, 10h/17h. Sáb., 10h/14h. Visitas com agendamento no site: www.casazalszupin.com. Até 21/5
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.