• 15 de abril: dois meses de uma eterna saudade

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  • 15/04/2022 18:07
    Por Helen Salgado

    Angústia, medo e impotência. Esses três sentimentos têm assolado o coração dos petropolitanos desde o dia 15 de fevereiro, o dia que a maior tragédia socioambiental se abateu sobre Petrópolis. Hoje, após dois meses, ainda é possível perceber olhares tristes e assustados pelas ruas da Cidade Imperial.

    A chuva ainda causa insegurança tanto para aqueles que moram em lugares de risco quanto para quem não mora – há quem diga que em Petrópolis não há lugar fora de risco para viver. Toda chuva é motivo de desespero, incertezas e pânico. Se começa a chover na cidade, vídeos são espalhados pelas redes sociais, mensagens desesperadas são enviadas e todo aquele sentimento de tristeza vem à tona novamente. Sempre como da primeira vez.

    Caminhando pelo Centro Histórico é possível perceber centenas de lojas vazias, retrato de uma cidade fantasma. Empreendedores desistiram de investir na cidade devido às incertezas e o medo de perder tudo novamente. E não se trata somente de perdas materiais, mas sobretudo das emocionais. Foram 241 vítimas, pessoas que eram amadas e que hoje se tornaram a saudade de alguém que ficou.

    As saudades

    O luto de quem perdeu alguém que ama é constante e, mesmo após dois meses, parece que a dor não vai passar. Leandro Rocha, é pai do Gabriel Vila Real da Rocha, o jovem que foi visto em cima do ônibus na Rua Washington Luiz tentando se salvar e ajudar outras vítimas.

    “São dois meses muito difíceis, dia após dia pra mim, principalmente, pela perda do meu filho porque está muito difícil superar essa perda, esse trauma”, desabafa.

    A proximidade e a cumplicidade na relação pai e filho, traduzidas em um dos registros de Leandro com Gabriel.
    Foto: Arquivo pessoal

    O tempo passa, mas as lembranças e a saudade de quem se foi cada dia é maior. São detalhes e momentos simples, mas que possuem um significado muito grande para o Leandro, que lembra de todos eles com muito carinho. “Todo dia de manhã, sem falhar um dia, eu fazia um café de manhã e levava na cama para ele, um pouquinho de café antes dele ir para o colégio e também nos finais de semana. Isso já era costume nosso. Eu fazia isso com ele desde novinho, a gente sempre tomava um cafezinho na parte da manhã, eu sempre trazia esse cafezinho para ele. Essa é uma parte que está mexendo muito comigo, fazendo muita falta também porque eu acordo de manhã e ele não está aqui”, fala emocionado.

    Impotência

    As buscas pelas vítimas da tragédia ainda não pararam. No dia 24 de março, o corpo de uma criança foi encontrado no Rio Piabanha, na Estrada União e Indústria, no distrito da Posse. A suspeita é de que seja do menino Pedro Henrique, de 8 anos. A Polícia Civil ainda não concluiu o laudo de identificação do corpo.

    Leandro diz que não parou com as buscas, ele saiu de seu trabalho e permanece ajudando outras famílias a encontrarem seus entes queridos, um deles é o Heitor Carlos dos Santos, de 61 anos, que permanece desaparecido.

    Leandro continua ajudando famílias nas buscas por pessoas que continuam desaparecida.
    Foto: Arquivo pessoal

    “Eu fiz isso pelo meu filho Gabriel, ele foi achado sete dias depois e por isso eu continuo nas buscas. Eu tomei essas outras vítimas. A mesma dor que eu tive em buscar o meu filho e resgatá-lo, eu tomei e tenho a missão de encontrar o Sr Heitor e todas as outras vítimas”, afirma. As buscas também continuam no Morro da Oficina, onde morava Lucas Rufino da Silva, de 20 anos.

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