Maria Fernanda Cândido em dois filmes
A atriz Maria Fernanda Cândido confessa que levou um susto quando soube que dois de seus projetos estreiam no mesmo dia no Brasil, disputando espaço e atenção: os filmes Animais Fantásticos – Os Segredos de Dumbledore e O Traidor. Ambos chegam nesta quinta, 14. “Depois me tranquilizei ao notar que são produtos opostos, com públicos até distintos”, disse ela ao Estadão.
De fato, de um lado, um blockbuster inspirado em personagens da saga Harry Potter e, de outro, um drama político baseado em fatos reais, que acompanha o mafioso Tommaso Buscetta, quando é preso no Brasil e enviado para a Itália. “E, nos dois casos, trabalhei com diretores inspiradores.”
Em Animais Fantásticos, um dos longas mais esperados da temporada, a assinatura é de David Yates, que dirigiu quatro filmes da franquia Potter, além dos dois episódios anteriores do Animais que estreia agora. “Como tem pleno conhecimento da trama e dos personagens, David tem olhos de águia para todos os detalhes do roteiro e, mesmo assim, ele aceita naturalmente sugestões dos atores, que muitas vezes acabam incorporadas”, conta Maria Fernanda. “Embora seja uma grande produção, envolvendo muitos profissionais durante muito tempo (foram seis meses de trabalho), ele mantém uma tranquilidade exemplar.”
No longa, a atriz vive Vicência Santos, a bruxa brasileira que representa o mundo latino e concorre ao cargo de Chefe Suprema da Confederação Internacional dos Bruxos, uma eleição que pode mudar os rumos do mundo dos magos. “Minha participação é pequena mas luminosa, com função na história e, principalmente, marca a presença feminina em um universo político masculino.”
PANDEMIA
A atriz relembra que as filmagens aconteceram durante a pandemia, o que redobrou os cuidados que normalmente uma produção desse porte pede. “Eram muitas exigências sanitárias, pois envolvia muitas pessoas – em algumas cenas, são cerca de 100 figurantes”, observou. “E, apesar da opulência técnica, no fundo, o que importa são as pessoas brincando de faz de conta em uma existência tão misteriosa.”
Maria Fernanda acredita que tenha sido convidada a fazer um teste para o papel de Vicência depois de algum produtor ter visto sua participação no longa italiano O Traidor, que foi produzido em 2019 .
Ela se lembra que estava em Paris, onde vive com a família, em pleno lockdown, quando foi convidada a gravar um teste caseiro. “Como são confidenciais, pois se trata de uma superprodução, tive de fazer sem ter outro ator contracenando comigo, apenas meus filhos, enquanto meu marido gravava com o celular.” Em pouco tempo, recebeu uma resposta positiva.
Foi também um telefonema que iniciou o processo que garantiu a presença de Maria Fernanda Cândido no filme O Traidor, de Marco Bellocchio. Morando em Paris com a família desde 2017, ela recebeu uma ligação do produtor brasileiro Fabiano Gullane, que participa do filme, convidando-a para fazer um teste para o longa.
A cena escolhida, no entanto, foi uma provação: a atriz precisou simular a cena em que sua personagem viaja em helicóptero pendurada do lado de fora. “É um momento muito violento do filme, difícil de fazer, que exige uma coreografia muscular para simular a tensão”, observa Maria Fernanda, que contou com a ajuda do cineasta André Ristum, que manejou a câmera.
O esforço foi aprovado para viver Maria Cristina, a mulher brasileira do mafioso italiano Tomaso Buscetta (1928-2000) – o longa, que teve cenas rodadas no Rio de Janeiro, mostra quando ele volta preso para a Itália e, descontente com a instituição, que abandonou os princípios pelos quais foi fundada, faz um acordo com o governo para depor contra seus ex-colegas. Aconselhado, aliás, por Maria Cristina.
Considerado um dos principais cineastas da atualidade, Bellocchio dirigiu um filme indicado para a Palma de Ouro em Cannes e que garantiu a Maria Fernanda o prêmio de melhor atriz no Kineo Awards, em Veneza, e no Prêmio das Nações, do Festival de Taormina, na Sicília. “Mas meu maior prêmio foi ter sido dirigida por Bellocchio, que considero meu mestre. Foram momentos em que, de fato, aprendi muito, tenho plena consciência disso.”
CULTURA
Descendente de italianos, Maria Fernanda tinha a impressão de que o cineasta de 82 anos transformava o set de filmagem em algo próximo do retrato de uma cultura. “Homem culto, ele – como outros profissionais com sua experiência – carrega as tradições italianas, algo próprio de quem já viveu muito a ponto de trabalhar com várias estéticas com desenvoltura. Assim, cinema, para Bellocchio, não é caminho para a autopromoção, mas para representar o aprendizado que acumulou ao longo da vida.”
Assim, com tal segurança em cena, o cineasta se mostrava ao mesmo tempo rigoroso com seus princípios, mas aberto a outras manifestações. “Bellocchio demonstra um interesse genuíno pela opinião das pessoas que o rodeiam e, se escutar algo que realmente o faça refletir, ele não pensa duas vezes em acatar.”
Maria Fernanda pesquisou com cuidado sua personagem, uma advogada, de família aristocrata carioca e que se apaixonou por um criminoso. “Era uma presença feminina em um mundo totalmente masculino, ou seja, machista e violento. Isso foi um desafio.”
A atriz estará nesta terça, 12, no debate apoiado pelo Estadão, após a exibição gratuita de O Traidor às 19h, no cine Petra Belas Artes – ingressos são distribuídos uma hora antes. Além dela, estarão o crítico Luiz Carlos Merten e o produtor Fabiano Gullane.
‘Marco Bellocchio é um autêntico mestre’
Foi também um telefonema que iniciou o processo que garantiu a presença de Maria Fernanda Cândido no filme O Traidor, de Marco Bellocchio. Morando em Paris com a família desde 2017, ela recebeu uma ligação do produtor brasileiro Fabiano Gullane, que participa do filme, convidando-a para fazer um teste para o longa.
A cena escolhida, no entanto, foi uma provação: a atriz precisou simular a cena em que sua personagem viaja em helicóptero pendurada do lado de fora. “É um momento muito violento do filme, difícil de fazer, que exige uma coreografia muscular para simular a tensão”, observa Maria Fernanda, que contou com a ajuda do cineasta André Ristum, que manejou a câmera.
O esforço foi aprovado para viver Maria Cristina, a mulher brasileira do mafioso italiano Tomaso Buscetta (1928-2000) – o longa, que teve cenas rodadas no Rio de Janeiro, mostra quando ele volta preso para a Itália e, descontente com a instituição, que abandonou os princípios pelos quais foi fundada, faz um acordo com o governo para depor contra seus ex-colegas. Aconselhado, aliás, por Maria Cristina.
Considerado um dos principais cineastas da atualidade, Bellocchio dirigiu um filme indicado para a Palma de Ouro em Cannes e que garantiu a Maria Fernanda o prêmio de melhor atriz no Kineo Awards, em Veneza, e no Prêmio das Nações, do Festival de Taormina, na Sicília. “Mas meu maior prêmio foi ter sido dirigida por Bellocchio, que considero meu mestre. Foram momentos em que, de fato, aprendi muito, tenho plena consciência disso.”
CULTURA
Descendente de italianos, Maria Fernanda tinha a impressão de que o cineasta de 82 anos transformava o set de filmagem em algo próximo do retrato de uma cultura. “Homem culto, ele – como outros profissionais com sua experiência – carrega as tradições italianas, algo próprio de quem já viveu muito a ponto de trabalhar com várias estéticas com desenvoltura. Assim, cinema, para Bellocchio, não é caminho para a autopromoção, mas para representar o aprendizado que acumulou ao longo da vida.”
Assim, com tal segurança em cena, o cineasta se mostrava ao mesmo tempo rigoroso com seus princípios, mas aberto a outras manifestações. “Bellocchio demonstra um interesse genuíno pela opinião das pessoas que o rodeiam e, se escutar algo que realmente o faça refletir, ele não pensa duas vezes em acatar.”
Maria Fernanda pesquisou com cuidado sua personagem, uma advogada, de família aristocrata carioca e que se apaixonou por um criminoso. “Era uma presença feminina em um mundo totalmente masculino, ou seja, machista e violento. Isso foi um desafio.”
A atriz estará nesta terça, 12, no debate apoiado pelo Estadão, após a exibição gratuita de O Traidor às 19h, no cine Petra Belas Artes – ingressos são distribuídos uma hora antes. Além dela, estarão o crítico Luiz Carlos Merten e o produtor Fabiano Gullane.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.